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Atualidade
11/07/2025 16:00:00

De ferro e aço a aviões e etanol: os produtos brasileiros mais dependentes do mercado americano

De ferro e aço a aviões e etanol: os produtos brasileiros mais dependentes do mercado americano

As tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump sobre produtos do Brasil, com previsão de entrada em vigor em agosto, devem afetar com mais intensidade setores cujas exportações têm nos Estados Unidos um dos principais destinos. Embora a economia brasileira tenha exposição limitada ao mercado externo, e especialmente ao americano, algumas indústrias são consideravelmente dependentes dessas relações comerciais.

De maneira geral, os EUA representaram em 2024 cerca de 12% das exportações brasileiras, o equivalente a aproximadamente 2% do PIB nacional. A pauta de exportações do Brasil é considerada diversificada, tanto em tipos de produtos quanto em mercados de destino, o que, em tese, suavizaria o impacto da imposição das novas tarifas.

No entanto, segundo análise do time de research do BTG Pactual, setores fortemente atrelados ao mercado norte-americano tendem a ser mais atingidos. Produtos como semimanufaturados de ferro e aço (com 72,5% das exportações destinadas aos EUA), aeronaves (63,2%), materiais de construção (57,5%), etanol (48,5%), madeira e seus derivados (43,3%) e petróleo e derivados (27,9%) figuram entre os mais vulneráveis às novas medidas comerciais.

No setor aeronáutico, destaca-se a Embraer (EMBR3), cujos principais clientes incluem companhias aéreas americanas. O Banco Central, em estudo recente sobre as relações comerciais bilaterais, apontou que cinco categorias de produtos — petróleo, ferro e aço semimanufaturados, ferro gusa, café e aeronaves — concentraram cerca de 40% das exportações brasileiras para os EUA. No primeiro semestre de 2025, essa concentração caiu ligeiramente, atingindo 37%.

Entre os principais itens exportados em valores aproximados no ano passado estão petróleo bruto (US$ 6 bilhões), semimanufaturados de ferro e aço (US$ 4,9 bilhões), aeronaves (US$ 2,7 bilhões), café (US$ 1,9 bilhão), celulose (US$ 1,5 bilhão) e carne bovina in natura (US$ 900 milhões), conforme dados do governo brasileiro citados em relatório da consultoria Arko Advice.

Em resposta à carta de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou os déficits recorrentes da balança comercial brasileira com os Estados Unidos, que somaram US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos. Esse desequilíbrio reflete a disparidade entre as duas economias: em 2024, o PIB americano foi de US$ 29,2 trilhões, mais de 13 vezes superior ao brasileiro, que ficou em torno de US$ 2,18 trilhões.

Apesar disso, o Brasil ainda impõe tarifas médias mais altas do que os EUA. A alíquota média ponderada pelas importações brasileiras é de 5,8%, contra cerca de 1,3% nos Estados Unidos. Ainda assim, especialistas do BTG observam que o protecionismo brasileiro se baseia mais em barreiras não tarifárias, como exigências sanitárias, do que nas tarifas em si.

De acordo com o Goldman Sachs, a medida de Trump pode elevar em até 35,5 pontos percentuais a tarifa efetiva sobre produtos brasileiros, considerando tanto as tarifas anunciadas quanto outras previstas para o terceiro trimestre de 2025, como os 50% sobre cobre e 25% sobre produtos farmacêuticos, minerais críticos, semicondutores e madeira. Entre os países latino-americanos impactados, o Brasil deve ser o mais afetado, seguido por Chile (26,3 p.p.), Peru (14,4 p.p.), Argentina (10,8 p.p.), México (9,7 p.p.), Colômbia (6,7 p.p.) e Equador (5,7 p.p.).

O impacto total dessas tarifas pode afetar até US$ 42,7 bilhões em exportações brasileiras, o que corresponde a cerca de 2% do PIB nacional e 12,6% do total das vendas externas. Apesar da magnitude dos valores envolvidos, o BTG destaca que o efeito geral sobre a balança comercial deve ser limitado, devido à diversificação da pauta exportadora do país. O Brasil possui um índice de cobertura de barreiras não tarifárias (BNT) de 86,4%, acima da média mundial (72%) e dos próprios EUA (77%).