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Geral
11/07/2025 00:00:00

A busca pelo lixo nuclear despejado no fundo do oceano

A busca pelo lixo nuclear despejado no fundo do oceano

Entre as décadas de 1950 e 1980, países europeus lançaram centenas de milhares de tambores com resíduos nucleares no Oceano Atlântico. Atualmente, cientistas trabalham para mapear esses pontos de descarte, e já localizaram 1.800 barris de material radioativo nas profundezas do Atlântico Nordeste.

Com o auxílio do robô subaquático Ulyx, a expedição a bordo do navio francês L'Atalante está concentrada na Bacia Atlântica da Europa Ocidental, situada a mais de 1.000 quilômetros da costa francesa, próximo a La Rochelle. A área é considerada uma das principais zonas de despejo. O projeto, denominado Nodssum (Monitoramento de Pesquisas de Locais de Despejo Nuclear no Oceano), reúne 21 cientistas com a missão de criar um mapeamento completo desses resíduos.

Durante décadas, jogar lixo radioativo no oceano foi a forma mais prática e econômica encontrada por países como Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Suíça e Holanda para descartar rejeitos nucleares provenientes de usinas, laboratórios, hospitais e indústrias. Estima-se que até 1993 — ano em que esse tipo de prática foi oficialmente proibida — ao menos 200 mil tambores tenham sido despejados no Atlântico Norte, a profundidades que variam entre 3.000 e 5.000 metros.

Segundo o bioquímico Pedro Nogueira, do Instituto Thünen de Ecologia Pesqueira em Bremerhaven, muitos desses recipientes estão em locais imprecisos e com registros incompletos. Os resíduos incluem desde roupas contaminadas e produtos de laboratório até fragmentos de reatores e substâncias altamente perigosas, como estrôncio-90, césio-137 e plutônio-239 — este último com meia-vida superior a 24 mil anos.

Embora os tambores tenham sido fabricados para resistir à pressão das profundezas, não foram projetados para conter a radiação por longos períodos. O físico Patrick Chardon, líder do projeto Nodssum, afirma que há sinais de corrosão em alguns contêineres, e traços de radiação já foram encontrados em sedimentos e organismos marinhos próximos. Ainda assim, as análises atuais indicam que os níveis estão abaixo dos limites considerados perigosos para consumo humano, e que os riscos para regiões costeiras são mínimos.

Estudos indicam que, embora a maior parte dos resíduos se torne inofensiva em cerca de 300 a 400 anos, aproximadamente 2% deles permanecerão radioativos por muito mais tempo. A recuperação dos tambores é considerada inviável com a tecnologia atual e poderia agravar a contaminação ambiental, segundo os pesquisadores.

Por isso, o monitoramento constante se torna fundamental. A equipe do L'Atalante permanecerá quatro semanas no local, coletando amostras de água, solo e fauna marinha. A intenção é avaliar os efeitos ambientais causados pelos resíduos e registrar com precisão os locais de despejo. Ao todo, os cientistas pretendem cobrir uma área de cerca de 200 quilômetros quadrados.