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Acidente
10/07/2025 13:00:00

Tarifas de Trump são demonstração de força para punir o Brasil por cúpula dos Brics, afirma professor

Tarifas de Trump são demonstração de força para punir o Brasil por cúpula dos Brics, afirma professor

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros foi classificada como uma medida sem justificativa econômica plausível e com forte conotação política, segundo o cientista político Carlos Gustavo Poggio, professor no Berea College, nos Estados Unidos. Em entrevista à Bloomberg Línea, Poggio avaliou que a ação representa mais uma tentativa de demonstração de força do governo americano do que uma política comercial fundamentada.

O anúncio foi feito por meio de uma carta enviada ao governo brasileiro, na qual Trump menciona a “perseguição” ao ex-presidente Jair Bolsonaro e reclama de alegadas injustiças nas tarifas de importação do Brasil. No entanto, o professor considera que tais argumentos não se sustentam do ponto de vista econômico, pois o Brasil contribui positivamente para a balança comercial americana, estando entre os países com os quais os EUA têm superávit.

Poggio destacou que, se o objetivo fosse pressionar em relação ao julgamento de Bolsonaro, a medida não teria impacto direto, já que o processo é conduzido pelo Judiciário brasileiro. Para ele, a motivação mais provável está relacionada à recente atuação do Brasil no cenário internacional, especialmente ao sediar a cúpula dos Brics e propor alternativas ao dólar como moeda global. “Pode ser uma forma de punir o governo Lula e o país por sua atuação dentro dos Brics e pelas discussões sobre substituir o dólar. Essa é uma preocupação real para Trump e pode justificar o ataque direcionado ao Brasil”, afirmou.

O professor ainda observou que o dólar vem sofrendo desvalorização desde o retorno de Trump à presidência, e que o governo americano demonstra receio com os efeitos do déficit fiscal e das tarifas sobre o valor da moeda. Nesse contexto, Poggio considera que o Brasil foi escolhido como alvo justamente por sua posição de menor impacto direto na economia americana. “O Brasil não tem muito como reagir. Trump só recuaria se enfrentasse forte oposição interna, como de empresários ligados aos setores de café, aviação, petróleo ou minério de ferro”, analisou.

Caso as tarifas entrem em vigor a partir de 1º de agosto, como previsto, setores específicos da economia brasileira deverão buscar alternativas em outros mercados. Poggio lembra, no entanto, que os Estados Unidos representam entre 10% e 12% do comércio exterior brasileiro, e que o país possui condições de diversificar seus parceiros. “Mesmo setores que dependem mais, como o de suco de laranja, podem encontrar novos destinos comerciais”, explicou.

Apesar disso, o tom adotado na carta e a vinculação explícita com questões políticas internas brasileiras devem intensificar o desgaste diplomático. Para Poggio, o episódio entra para a história como uma das maiores crises nas relações entre Brasil e Estados Unidos. “As relações sempre foram boas, com algumas turbulências. Essa será lembrada como uma delas”, concluiu.