O cardiologista e pesquisador Eric Topol, de 71 anos, fundador do instituto Scripps Research, nos Estados Unidos, passou mais de seis anos analisando o genoma de mais de 1.400 octogenários sem doenças crônicas para entender os fatores que levam ao envelhecimento saudável. O resultado de suas descobertas está reunido no livro Super Agers: An Evidence-Based Approach to Longevity ("Superidosos: uma abordagem baseada em evidências para a longevidade").
DNA não é o fator decisivo para envelhecer bem
Topol destaca que a maioria das pessoas que envelhecem com saúde não apresenta um histórico familiar de longevidade. Um exemplo é a paciente L.R., de 98 anos, ativa, sociável, independente e sem doenças crônicas. Segundo o médico, isso reforça que o segredo da longevidade não está, essencialmente, nos genes.
Embora o estudo genético Wellderly tenha buscado identificar padrões no DNA de idosos saudáveis, os dados mostraram que a genética tem pouca influência direta. Em vez disso, o fator mais consistente encontrado foi a preservação do sistema imunológico, que permite ao organismo se proteger de doenças como câncer, Alzheimer e problemas cardíacos sem reações inflamatórias exageradas.
Estilo de vida saudável influencia mais do que herança genética
Topol aponta que a manutenção de um sistema imunológico saudável depende principalmente de um estilo de vida equilibrado. Os principais pilares são:
Exercício físico regular, que além de melhorar a saúde cardiovascular e prevenir cânceres e doenças neurodegenerativas, também fortalece o sistema imunológico.
Sono profundo e reparador, essencial para eliminar resíduos inflamatórios do cérebro por meio do chamado sistema glinfático.
Dieta anti-inflamatória, baseada em alimentos naturais, especialmente de origem vegetal, como na dieta mediterrânea.
Interações sociais e hobbies, que promovem bem-estar emocional e proteção cognitiva.
Contato com a natureza, associado à redução do estresse, ansiedade e risco de doenças.
Nunca é tarde para começar a mudar
O médico enfatiza que os benefícios da atividade física e de hábitos saudáveis são possíveis em qualquer idade, mesmo após os 90 anos. Ele cita o caso de Richard Morgan, que começou a se exercitar aos 70 anos e se tornou campeão mundial de remo indoor aos 93.
Cérebros de ‘superidosos’ desafiam a ciência
Topol também estudou cérebros de pessoas com mais de 80 anos que mantêm funções cognitivas semelhantes às de jovens. Apesar de acumularem proteínas ligadas ao Alzheimer, como amiloide e tau, esses indivíduos não desenvolvem a inflamação cerebral associada à doença. O cérebro deles permanece estruturalmente preservado.
O futuro da longevidade está na prevenção personalizada
Com os avanços da inteligência artificial e da ciência de dados, Topol acredita que em breve será possível prever com precisão o risco de doenças em cada indivíduo, indicando não só a predisposição, mas o provável momento de surgimento. Isso permitirá ações preventivas com mais eficácia, transformando o conceito de medicina preventiva.
Inspiração e aprendizado com os pacientes
Topol encerra destacando que seus pacientes são sua maior fonte de aprendizado e motivação. Casos como o de L.R. o inspiraram a retomar o estudo Wellderly e escrever seu livro. Para ele, longevidade saudável não depende de uma "pílula mágica", mas de escolhas consistentes e acessíveis a todos: movimentar-se, dormir bem, comer de forma equilibrada e manter-se socialmente ativo.
“É libertador saber que a genética não é o destino. Há muito que podemos fazer, e temos tempo para agir”, resume o médico.