O partido espanhol de extrema-direita Vox declarou publicamente, pela primeira vez, seu apoio à deportação de milhões de imigrantes e descendentes. A proposta foi apresentada pela porta-voz para Emergência Demográfica e Políticas Sociais do partido, Rocío de Meer, durante uma coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (7) na sede da legenda, em Madri. Segundo ela, o plano inclui a remoção de imigrantes de primeira e segunda geração — mesmo os que nasceram na Espanha.
De Meer argumentou que “será um processo extraordinariamente complexo de reemigração”, mas justificou a iniciativa com o discurso de que os espanhóis teriam “o direito de sobreviver como povo”. A fala ocorre em meio à repercussão da prisão de um refugiado malinês acusado de estupro em Alcalá de Henares, fato usado pelo partido para reforçar sua retórica anti-imigração. No entanto, a proposta apresentada não se relaciona diretamente com segurança pública, e sim com a alegada preservação da identidade nacional espanhola.
Sem citar fontes oficiais, De Meer recorreu à chamada "teoria da Grande Substituição", uma ideia conspiratória disseminada pela extrema-direita europeia, segundo a qual haveria um plano global para substituir a população branca nativa por imigrantes não europeus. Ela usou dados do demógrafo Alejandro Macarrón, ligado a um observatório católico conservador, para afirmar que cidades como Vitória e Almería terão maioria estrangeira até 2039 e 2040, respectivamente.
A proposta do Vox inclui a deportação de pessoas que, segundo o partido, “não se adaptaram aos costumes espanhóis” e supostamente estariam ligadas a episódios de insegurança. A porta-voz chegou a afirmar que bairros e praças do país “já não pertencem mais ao povo espanhol”. Na visão do partido, o que está em jogo é a “transformação da sociedade espanhola” e a necessidade de interromper a política migratória atual.
O termo “reemigração”, usado repetidamente por De Meer, tem origem na extrema-direita alemã e foi popularizado após uma reunião secreta entre neonazistas e empresários em Potsdam, em 2023. Na ocasião, discutiu-se a expulsão de milhões de pessoas que não seriam, segundo eles, “suficientemente assimiladas” à cultura do país. A proposta foi mais tarde incorporada ao discurso do partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a Espanha possui 49,1 milhões de habitantes, dos quais 6,9 milhões (14,1%) são estrangeiros. No total, 9,4 milhões de pessoas residentes nasceram fora do país, embora muitas já tenham nacionalidade espanhola. Entre os estrangeiros residentes, a maioria é composta por europeus (2,4 milhões), seguidos por americanos (2,2 milhões) e africanos (1,2 milhão). Marrocos lidera como país com maior número de cidadãos vivendo na Espanha, com mais de 900 mil residentes.
Em seu programa habitacional e econômico apresentado em junho, o Vox já defendia a reversão de todas as regularizações migratórias dos últimos anos, deportações em massa e a revisão das concessões de nacionalidade — com o objetivo de revogar parte dessas naturalizações.
A radicalização do discurso do Vox marca uma guinada ainda mais dura em relação à imigração na Espanha e expõe a crescente influência da extrema-direita europeia no cenário político nacional. Enquanto isso, o Partido Popular (PP), embora adotando propostas mais brandas, tem absorvido parte da agenda anti-imigratória do Vox, como a restrição do acesso de imigrantes ilegais a serviços públicos.