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Saúde
08/07/2025 11:00:00

Descoberta sobre glicose no cérebro pode ajudar a combater Alzheimer

Descoberta sobre glicose no cérebro pode ajudar a combater Alzheimer

Uma nova pesquisa revelou que o acúmulo de glicogênio — forma armazenada da glicose — no cérebro pode estar diretamente ligado ao avanço do Alzheimer, abrindo caminhos para tratamentos inovadores que envolvem restrição alimentar, enzimas específicas e até medicamentos como o Ozempic.

O estudo, publicado na revista Nature Metabolism e conduzido por cientistas do Instituto Buck de Pesquisa sobre Envelhecimento, nos Estados Unidos, desafia a antiga visão de que o glicogênio é apenas uma reserva energética do fígado e dos músculos. Segundo os pesquisadores, essa substância também está presente no cérebro e participa ativamente de processos patológicos, especialmente em doenças neurodegenerativas.

A pesquisa identificou que, em modelos de tauopatia (condição caracterizada pelo acúmulo da proteína tau) desenvolvidos em moscas-da-fruta e em células humanas com Alzheimer, havia níveis elevados de glicogênio no cérebro. A interação entre a proteína tau e o glicogênio, segundo os cientistas, prejudica a quebra e o uso adequado dessa reserva de energia, gerando um ciclo de acúmulo de tau, glicogênio e estresse oxidativo nos neurônios.

Um dos elementos centrais desse processo é a enzima glicogênio fosforilase (GlyP), responsável por converter o glicogênio em energia. Ao estimular a produção da enzima nas moscas, os cientistas observaram uma redução dos danos neuronais e até aumento da longevidade. “A atividade elevada da GlyP ajuda as células cerebrais a se protegerem das espécies reativas de oxigênio, que são altamente tóxicas”, explicou a pesquisadora Sudipta Bar.

Outro aspecto relevante foi a resposta positiva das moscas com tauopatia a uma dieta com baixo teor de proteínas. A restrição alimentar aumentou a atividade da GlyP e reduziu os danos cerebrais, sugerindo que ajustes no metabolismo cerebral podem ter efeito protetor. Com base nesse resultado, os pesquisadores testaram a molécula 8-Br-cAMP, que simula os efeitos da restrição alimentar, e obtiveram resultados semelhantes.

O estudo também pode estar conectado a pesquisas sobre os agonistas do receptor GLP-1, como o medicamento Ozempic, usado para tratar diabetes tipo 2 e auxiliar na perda de peso. Esses fármacos influenciam as mesmas vias metabólicas ligadas ao glicogênio e vêm sendo estudados por seu possível efeito protetor contra doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

“Entender como os neurônios lidam com o açúcar pode ter nos levado a uma nova estratégia terapêutica, que atua diretamente na bioquímica das células para combater o declínio cognitivo”, declarou o biólogo molecular Pankaj Kapahi, do Instituto Buck. “Com o envelhecimento populacional, descobertas como essa oferecem esperança de que, ao compreendermos melhor o metabolismo cerebral, possamos criar ferramentas eficazes contra a demência.”