O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (25) que Washington e Teerã devem realizar uma reunião na próxima semana, após o recente cessar-fogo entre Irã e Israel e os bombardeios norte-americanos contra instalações nucleares iranianas. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa na cúpula da Otan, em Haia, na Holanda.
Trump, no entanto, relativizou a importância de um novo acordo nuclear com os iranianos. “Talvez assinemos um acordo. Não sei, para mim, não acho que seja tão necessário”, disse, ressaltando que os ataques americanos aos centros nucleares de Natanz, Isfahan e Fordow teriam “aniquilado” a capacidade iraniana — contrariando avaliações de inteligência que apontam apenas um atraso de meses no programa nuclear de Teerã.
O presidente americano afirmou que o conflito entre Israel e Irã está “efetivamente encerrado”, mas alertou para a possibilidade de novas hostilidades no futuro: “Pode começar de novo? Acho que um dia pode. Talvez comece em breve.”
O cessar-fogo atual pôs fim a 12 dias de confronto direto entre os dois países, que chegaram a trocar bombardeios com mísseis balísticos e drones. A trégua trouxe alívio aos mercados globais, com o preço do petróleo recuando cerca de 14% em dois dias e retornando aos níveis anteriores aos ataques.
A diplomacia volta agora ao centro do debate. O Irã, que foi alvo de fortes bombardeios em 13 de junho, indicou por meio de sua missão na ONU estar disposto a retomar negociações com os Estados Unidos. O enviado de Trump, Steve Witkoff, já havia liderado cinco rodadas de conversas antes do ataque, na tentativa de substituir o acordo nuclear de 2015, que o próprio Trump abandonou durante seu primeiro mandato.
Analistas como Ray Takeyh, do Conselho de Relações Exteriores, acreditam que a via diplomática continua sendo sensata. Ele destaca que, mesmo com danos, o programa nuclear iraniano não foi totalmente neutralizado, o que pode estimular novos ataques por parte dos EUA ou de Israel caso não haja avanço nas negociações.
Ainda não está claro, porém, quais termos poderiam ser discutidos. O parlamento iraniano aprovou uma medida suspendendo a cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) até que as instalações nucleares estejam seguras. A AIEA, por sua vez, alertou para a necessidade urgente de retomar as inspeções, especialmente para verificar o destino dos estoques de urânio enriquecido a 60%, cuja localização atual é desconhecida.
Trump reforçou que novos relatórios de inteligência, além de testemunhos de fontes não reveladas, indicam que os bunkers iranianos atingidos pelos EUA estariam soterrando materiais nucleares sob camadas de granito e concreto. Ele também citou declarações da agência nuclear israelense de que o local de Fordow teria se tornado inoperante.
Apesar disso, o Irã nega qualquer intenção bélica e afirma que seu programa nuclear é voltado apenas para fins civis. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmail Baghaei, confirmou danos significativos nas instalações, mas disse que a extensão total ainda está sendo avaliada.
Sobre as sanções econômicas, Trump sinalizou que não deve aliviar as restrições em curto prazo. Questionado sobre as compras chinesas de petróleo iraniano, admitiu que “não está desistindo” da pressão máxima, mas reconheceu que Pequim continuará buscando fontes de energia. “Se eles vão vender petróleo, vão vender petróleo”, comentou.
Segundo o chefe do Banco de Israel, Amir Yaron, a ofensiva militar contra o Irã custou cerca de 1% do PIB israelense e exigirá mudanças no orçamento nacional. Apesar dos gastos, ele afirmou que os mercados interpretaram os desdobramentos como positivos para Israel.
Trump encerrou a coletiva destacando o cansaço das duas nações após o confronto: “Eles lutaram muito, com muita violência, e ambos ficaram satisfeitos em ir para casa.”