09/07/2025 13:28:33

Saúde
15/06/2025 23:00:00

Desigualdade e falta de cuidado agravam crise de suicídios entre jovens em AL, que cresceu 65%, diz psicóloga

Desigualdade e falta de cuidado agravam crise de suicídios entre jovens em AL, que cresceu 65%, diz psicóloga

O número de suicídios entre adolescentes em Alagoas cresceu 65% nos últimos cinco anos, revelando uma crise de saúde mental entre jovens de 10 a 19 anos no estado. Os dados, divulgados pelo Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam para um cenário alarmante: uma geração afetada por sofrimento emocional profundo, negligência social e ausência de políticas públicas eficazes.

Em uma análise mais ampla, os números mostram que Alagoas registrou um aumento de 43,5% em suicídios adolescentes na última década. O ano de 2022 foi o mais crítico, com 21 mortes. Em 2013, o número era 15, e, mesmo com variações, a curva de crescimento não se inverteu. Em 2015, o estado teve o menor índice, com 8 casos, mas voltou a subir nos anos seguintes, com 14 em 2016, 19 em 2020 e 17 em 2024.

No Brasil, o suicídio entre jovens de 10 a 19 anos subiu 42,7% entre 2013 e 2023. Quase 11,5 mil adolescentes perderam a vida nesse período, evidenciando um problema nacional que exige respostas urgentes em todas as esferas de governo.

Em Alagoas, o Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, conta com o Centro de Acolhimento Integrado de Prevenção e Posvenção ao Suicídio e Autolesão (CAIS), referência no atendimento a casos graves. A coordenadora do centro, psicóloga Soraya Suruagy, afirma que os fatores mais comuns entre os jovens atendidos incluem abuso sexual, conflitos familiares, perdas traumáticas e lutos não elaborados. Ela ressalta que o ambiente digital também tem contribuído para o agravamento do sofrimento, expondo os adolescentes a padrões inalcançáveis de sucesso e felicidade, o que gera impulsividade, frustração e baixa autoestima.

O CAIS realiza acolhimentos de emergência e acompanhamento psicológico diário. Também integra a rede de saúde mental do estado, encaminhando os pacientes para unidades especializadas como o Hospital Portugal Ramalho, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades Básicas de Saúde (UBS). O centro ainda promove ações educativas nas enfermarias, como rodas de conversa e oficinas de psicoeducação.

A psicóloga Helouise Vieira destaca que os dados refletem um problema multifatorial, com raízes em desigualdades sociais, violência doméstica, falta de perspectivas e pressão das redes sociais. Crianças e adolescentes em ambientes violentos vivem sob constante estresse, o que compromete o desenvolvimento emocional e cognitivo, favorecendo quadros de depressão, ansiedade e, em casos extremos, suicídio.

Segundo Helouise, a violência verbal, física e psicológica afeta a percepção que o jovem tem de si mesmo, muitas vezes desencadeando pensamentos autodepreciativos e sentimentos de vergonha e culpa. Ela alerta para sinais como mudanças bruscas de comportamento, isolamento, tristeza persistente e perda de interesse por atividades antes prazerosas. Esses sinais devem ser levados a sério e tratados com apoio profissional imediato.

A especialista também defende a valorização e ampliação dos programas do Sistema Único de Saúde (SUS), que já oferece iniciativas voltadas à prevenção do suicídio e cuidado em saúde mental, mas que muitas vezes são negligenciadas e não chegam a quem mais precisa. O estigma em torno da saúde mental, especialmente entre adolescentes, ainda é uma das maiores barreiras ao acesso ao cuidado. O medo de julgamento e exclusão muitas vezes impede os jovens de pedir ajuda, aprofundando o sofrimento até pontos extremos.

O cenário exposto em Alagoas exige ações estruturadas, políticas públicas firmes e maior atenção às realidades emocionais dos jovens, que clamam por escuta, acolhimento e presença. Cada número representa uma vida interrompida — e um alerta que não pode ser ignorado.