Dois meses após a queda do ex-presidente Bashar al-Assad, a Síria está avançando na busca por milhares de pessoas desaparecidas. A Instituição Independente sobre Pessoas Desaparecidas na Síria concluiu no último domingo (9) uma visita ao país, onde ouviu autoridades, vítimas e testemunhas sobre o desaparecimento de pessoas durante décadas de repressão e 14 anos de guerra.
A chefe do mecanismo, Karla Quintana, reuniu-se com o ministro das Relações Exteriores, o vice-ministro de Assuntos Humanitários, além do ministro da Justiça e o procurador-geral sírio. Durante as reuniões, Quintana parabenizou a disposição do novo governo em colaborar com os esforços para esclarecer o destino dos desaparecidos.
A equipe também visitou regiões marcadas por grandes atrocidades, como Darayya e Tadamon, locais devastados pela guerra que levaram ao deslocamento forçado de dezenas de milhares de famílias. Em Darayya, várias mulheres sírias afirmaram que foi a primeira vez que foram questionadas sobre seus parentes desaparecidos.
A visita incluiu ainda uma inspeção à prisão de Sednaya, famosa por relatos de abusos e execuções, e ao local de sepultamento na Ponte de Bagdá, nos subúrbios de Damasco, acompanhado por representantes da Associação de Detidos e Pessoas Desaparecidas.
Em nota, a Instituição Independente destacou a necessidade de reconhecer a magnitude dessa tragédia, que é fruto de mais de 50 anos de regime autoritário e de uma guerra marcada por graves violações dos direitos humanos. Segundo a declaração, a identificação dos desaparecidos é fundamental para a construção da verdade e de uma paz duradoura.
Nas reuniões, a equipe ouviu relatos de dezenas de famílias que detalharam suas buscas por entes queridos. O objetivo é construir confiança para que mais pessoas se apresentem e compartilhem suas histórias. A instituição defende que esse é o primeiro passo para a reconciliação no país.
Nas próximas semanas, a Instituição Independente apresentará um projeto às autoridades sírias, propondo ações conjuntas para continuar as investigações e apoiar os esforços das famílias. Criado pela Assembleia Geral da ONU em junho de 2023, o mecanismo tem como missão investigar o paradeiro das pessoas desaparecidas na Síria, além de oferecer suporte às vítimas e seus familiares.