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Acidente
31/01/2025 02:00:00

Associação denuncia presença de barbeiros infectados no Butantã

Associação denuncia presença de barbeiros infectados no Butantã

Pesquisadores alertam que a vigilância contra a Doença de Chagas está comprometida em São Paulo. A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) denunciou à Agência Brasil que dois insetos da espécie barbeiro foram encontrados no último trimestre de 2024 no Pavilhão Lemos Monteiro, um edifício centenário do Instituto Butantã adaptado para pesquisas laboratoriais. Os exemplares, capturados em outubro e novembro do mesmo ano, estavam infectados com o protozoário Trypanosoma cruzi, responsável pela Doença de Chagas.

“No dia da inspeção realizada pelos técnicos da vigilância em saúde da prefeitura, fomos informados de que outros dez barbeiros haviam sido identificados em outra área do instituto, sendo que dois deles também estavam contaminados com Trypanosoma cruzi”, afirmou Patricia Clissa, pesquisadora e integrante da APqC. No Campus Butantã da USP, onde circulam aproximadamente 70 mil estudantes e funcionários, ao menos seis barbeiros foram localizados no final de 2024.

O bairro abriga diversos animais silvestres, como saruês, que são reservatórios naturais do parasita. Essa fauna se espalha por toda a região do Butantã, que possui cerca de 350 mil habitantes, além de corredores ecológicos conectados à região metropolitana e às zonas sul e norte da cidade.

A presidente da APqC, Helena Dutra Lutgens, expressou preocupação com o impacto ambiental das transformações na área. “O próprio Instituto Butantã removeu diversas árvores para sua expansão, enquanto, no entorno, a verticalização avança rapidamente, substituindo casas por prédios e reduzindo a vegetação. Essas mudanças afetam o habitat dos saruês, aumentando o risco de contato entre os barbeiros e os humanos. Se nenhuma medida for tomada pela Secretaria da Saúde para alertar a população e reestruturar as atividades da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), esse cenário pode resultar em infecções humanas, se é que já não estão acontecendo”, declarou em nota.

A Sucen, mencionada por Lutgens, foi extinta por decreto em 2020, e parte de suas funções foi transferida para coordenadorias estaduais e municipais de controle de doenças. No entanto, a APqC considera essa nova estrutura insuficiente para atender à demanda por pesquisas especializadas, além de dificultar o monitoramento detalhado e a capacitação adequada das equipes municipais.

Entre 2014 e 2019, a Sucen catalogou mais de uma centena de barbeiros na capital paulista, conforme registros da Revista Fapesp. Com o fechamento de sua sede no bairro de Pinheiros, não há mais acompanhamento para verificar se insetos infectados tiveram contato com sangue humano, o que indicaria a necessidade de testagens em grupos populacionais.

Respostas das autoridades

A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que monitora, desde 2019, a circulação do Trypanosoma cruzi na região metropolitana de São Paulo e que, até o momento, não há registros de infecção humana em áreas urbanas. Além disso, informou que agentes da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) capacitam profissionais municipais para identificar o barbeiro, analisar seu conteúdo intestinal em busca do protozoário, manejar ambientes propícios e, quando necessário, aplicar controle químico.

Sobre os casos no Instituto Butantã, a secretaria declarou que a situação foi monitorada e que um laudo técnico do Centro de Controle de Zoonoses classificou o episódio como isolado, baseado no local onde os insetos foram encontrados. A pasta reforçou que a área segue sob vigilância por uma empresa especializada em controle de pragas.

A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo também afirmou que acompanha a presença dos barbeiros na cidade por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa). Segundo o órgão, os insetos encontrados no Butantã pertencem à espécie Panstrongylus megistus, que ocorre naturalmente em áreas florestais. A prefeitura garantiu que não há transmissão da Doença de Chagas na capital e que realiza ações para informar a população e monitorar locais propícios à presença do inseto.

A APqC destacou ainda que a região do Zoológico Municipal também pode estar sujeita a infestações de triatomíneos. A concessionária responsável pelo espaço informou que mantém contato com as autoridades de saúde e recebe visitas regulares de agentes da Divisão de Vigilância de Zoonoses e da Coordenadoria de Controle de Doenças. Segundo a nota divulgada, nenhum teste positivo foi comunicado durante o segundo semestre de 2024.

A Doença de Chagas e sua subnotificação

A Doença de Chagas é considerada uma enfermidade negligenciada, já que não é uma prioridade no desenvolvimento de novos tratamentos e métodos preventivos. De acordo com o Ministério da Saúde, a infecção ocorre pela presença do protozoário Trypanosoma cruzi, podendo se manifestar de forma aguda, com sintomas como febre prolongada, dor de cabeça, fadiga intensa e inchaço no rosto e nas pernas. Caso não seja tratada nessa fase inicial, a doença pode evoluir para uma forma crônica, afetando o coração, o sistema digestivo ou ambos.

A Chagas é endêmica em toda a América Latina, com incidência também em países como Austrália, Japão e algumas nações europeias. Argentina e Brasil são os mais afetados, cada um com cerca de 2 milhões de casos diagnosticados, segundo o Observatório Chagas. No entanto, estima-se que 70% a 90% das infecções não sejam registradas, pois os portadores desconhecem sua condição. A principal forma de transmissão ocorre pela ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do inseto.

 



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