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27/01/2025 08:00:00

Dólar alto amplia desigualdade e afeta o dia a dia dos brasileiros

Dólar alto amplia desigualdade e afeta o dia a dia dos brasileiros

A recente valorização do dólar em relação ao real tem gerado impactos significativos na economia brasileira, especialmente para as famílias de baixa renda. Apesar de uma leve retração da moeda norte-americana, que encerrou a última semana cotada a R$ 5,91, os reflexos da desvalorização do real continuam a pressionar preços de itens essenciais, ampliando a desigualdade social.

Em dezembro de 2024, o dólar chegou a ser vendido a R$ 6,26, a maior cotação da história, e ao longo de 2025 permaneceu acima de R$ 6,00 por longos períodos. Essa alta afeta diretamente o custo de vida, elevando os preços de alimentos, combustíveis e outros bens de consumo básico, que compõem a maior parte do orçamento das classes mais vulneráveis.

Impactos na vida cotidiana

Maria Eurineides, feirante que vive do trabalho diário, representa a realidade de milhões de brasileiros. "Compro alimentos com o dinheiro que ganho no dia. Quando as vendas são poucas, não consigo comprar tudo o que precisamos", relata. A alta dos preços tem forçado muitas famílias a optar por alimentos mais baratos e menos nutritivos, como macarrão, cuscuz e ovos, em detrimento de itens como carne e leite.

A alta do dólar afeta itens importados e produtos que dependem de insumos internacionais, como alimentos e combustíveis. Isso ocorre porque a formação dos preços leva em conta a taxa de câmbio, tributos e a inflação. Segundo a advogada tributarista Maísa Pio, "o aumento do dólar impacta diretamente a inflação de bens essenciais, já que itens como alimentos e medicamentos acabam se tornando mais caros".

Tributos e desigualdade

Tributos como ICMS e IPI, aplicados sobre consumo, agravam ainda mais a situação das classes mais pobres, que gastam a maior parte de sua renda em itens essenciais. "Essa carga tributária elevada afeta diretamente a qualidade de vida das famílias vulneráveis, intensificando as desigualdades sociais", ressalta Maísa.

De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2024, os maiores aumentos de preços foram registrados em alimentação e bebidas (7,69%), seguidos por saúde e cuidados pessoais (6,09%) e transportes, com destaque para a gasolina (9,71%).

Efeito cascata e incertezas fiscais

A alta do dólar também afeta os chamados ativos dolarizados, como combustíveis e commodities. "O aumento dos preços, conhecido como pass-through, eleva o custo de vida e afeta diretamente a população mais vulnerável, que já gasta grande parte de sua renda em consumo básico", explica Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

Além disso, a desvalorização do real impacta a dívida pública e pode limitar a capacidade do governo de financiar programas sociais. Políticas econômicas internacionais, como as de Donald Trump, podem intensificar esse cenário, ao manter os juros americanos elevados e atrair investimentos para os Estados Unidos.

Desafios e soluções

O professor de macroeconomia Benito Salomão ressalta a importância do Banco Central em agir para conter os impactos da inflação. "Medidas consistentes são essenciais para minimizar os efeitos da alta do dólar, que não é um problema isolado, mas algo que remonta ao período pós-pandemia", explica.

Para o sociólogo Thales Rosário, o impacto social da alta do dólar vai além dos preços de alimentos. O aumento no custo do transporte, por exemplo, restringe o acesso a oportunidades de emprego e agrava o ciclo de pobreza. "Quando itens essenciais ficam mais caros, as famílias deixam de investir em educação e saúde, aprofundando a desigualdade estrutural", avalia.

Soluções de curto e longo prazo

Políticas de transferência de renda, como subsídios temporários, podem mitigar os efeitos imediatos da alta do dólar sobre as famílias mais pobres. Além disso, investir na produção local de alimentos e insumos pode reduzir a dependência de importações e estabilizar preços no longo prazo.

"A ampliação de políticas de geração de emprego e renda, aliada a estratégias que controlem a inflação, é essencial para diminuir os impactos sociais da alta do dólar e promover maior equidade no país", conclui Rosário.



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