17/03/2025 02:33:58

Acidente
25/01/2025 09:00:00

Calor e Pragas Ameaçam o Futuro da Produção de Laranjas no Brasil

Calor e Pragas Ameaçam o Futuro da Produção de Laranjas no Brasil

A colheita de laranjas no Brasil, líder mundial na produção de suco da fruta, enfrenta uma das piores crises de sua história devido ao calor extremo e à escassez de chuvas. A safra atual, marcada pelo ano mais quente dos últimos 200 anos, deve registrar uma produção de 9,1 milhões de toneladas, uma queda de 27% em relação à anterior.

A crise afeta não apenas o mercado interno, mas também o cenário global, já que o Brasil é responsável por 70% do suco de laranja consumido no mundo. Os preços dispararam, e o suco concentrado, cotado na bolsa de Nova York, atingiu valores quatro vezes maiores do que há três anos, chegando a 6.600 dólares por tonelada.

Impactos Climáticos no Cinturão Citrícola

O principal centro de produção, localizado no estado de São Paulo e regiões vizinhas de Minas Gerais e Paraná, foi severamente afetado por condições climáticas adversas. As altas temperaturas registradas em 2024 coincidiram com os períodos de floração das laranjeiras, resultando na queda precoce dos frutos em formação. Além disso, a irregularidade das chuvas atrasou o ciclo de florescimento, comprometendo ainda mais a produtividade.

Para produtores como Antônio Carlos Simoneti, que cultiva laranjas há 40 anos, as perdas atingiram 30% de sua produção. Mesmo com preços mais altos no mercado, a baixa produtividade não foi suficiente para compensar os prejuízos.

Avanço de Pragas Agrícolas

A crise é agravada pela disseminação de doenças como o greening e o cancro cítrico, que afetam mais da metade das árvores do cinturão citrícola. O greening, causado por uma bactéria transmitida pelo inseto Diaphorina citri, é considerado a pior ameaça à citricultura, já que não possui cura e compromete a qualidade dos frutos. Em Limeira, São Paulo, até 78% das árvores estão infectadas.

O cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri, também representa um grande desafio, derrubando frutos antes do tempo e dificultando sua comercialização. Pesquisas em universidades brasileiras buscam alternativas biológicas para controlar essas doenças e reduzir o uso de agrotóxicos.

Perspectivas para o Futuro

Com o aumento previsto de até 6°C nas temperaturas da região produtora nos próximos 25 anos, segundo estudos do Instituto Geológico e da Cetesb, o setor enfrenta desafios sem precedentes. A migração para novas áreas de cultivo em estados como Mato Grosso do Sul, Bahia e Sergipe já começou, mas a adaptação depende de condições climáticas, infraestrutura e mão de obra especializada.

A criação do Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura, com apoio da Fapesp, busca soluções para garantir a sustentabilidade da produção. No entanto, o diretor-executivo da CitrusBr, Ibiapaba Netto, ressalta que o setor ainda dependerá, em grande parte, da natureza para superar os desafios e atender à demanda global.

Consequências Econômicas e Ambientais

Com fábricas de processamento de suco no estado de São Paulo operando abaixo da capacidade, muitas empresas programaram manutenções durante a paralisação. Nas feiras e mercados, consumidores reclamam da baixa qualidade das frutas, que estão menos doces e mais "aguadas".

A expectativa agora recai sobre a próxima safra, que poderá indicar se o setor conseguirá se recuperar e atender à crescente demanda por suco no mercado global. Para os consumidores e produtores, o futuro do "império das laranjas" brasileiras está diretamente ligado à resiliência do setor diante das mudanças climáticas e das pragas agrícolas.



Enquete
Você acreedita que Bolsonaro armou um golpe de estado?
Total de votos: 67
Google News