Desde 2017, quando protestos liderados por Alexei Navalny colocaram jovens no centro da oposição ao governo, universidades russas têm se tornado palco de punições exemplares. Expulsões com justificativas como “danos à reputação da instituição” ou “violação de princípios morais” se tornaram comuns.
“Expulsar estudantes por ações políticas fere o direito constitucional à educação, mesmo que as universidades tentem justificar isso com regulamentos internos”, avalia o advogado Timur Tukhvatullin, ligado ao projeto de direitos humanos Molniya.
Casos como o de Oleg Tarasov, estudante da Universidade Estatal de Moscou (MSU), evidenciam a arbitrariedade das punições. Ele foi expulso após renomear sua rede Wi-Fi para “Slava Ukraini!” (Glória à UcrâniaI). A administração universitária considerou a atitude “imoral” e em desacordo com os valores da instituição, e o jovem disse que em nenhum momento imaginou que uma ação como a dele poderia ter desdobramento tão sério.
Entre os professores, a situação é igualmente crítica. Na Universidade Superior de Economia (HSE), 34 docentes foram demitidos, 12 deles após o início da guerra. Mikhail Belousov, professor de história na SPbU, foi dispensado por postagens anti-guerra. Em outros casos, acadêmicos foram afastados sob alegações vagas de “comportamento inadequado”, como no caso de Maxim Kulaev, que protestou contra a presença de um sacerdote em um conselho acadêmico.
A repressão nas universidades está ligada à centralização do poder iniciada nos anos 2000. A partir de 2009, a eleição de reitores foi abolida em instituições como MSU e SPbU, permitindo que o governo nomeasse lideranças alinhadas a seus interesses. “Hoje, os reitores dessas universidades são essencialmente líderes todo-poderosos com a capacidade de agir sem limitações”, diz o ativista político exilado Mikhail Lobanov, ex-professor da MSU.
Essa mudança estrutural também permitiu que contratos de curto prazo fossem usados para controlar professores. “Isso coloca os professores em uma posição dependente, onde eles exigem menos, e a administração está pronta para realizar demissões sempre que for instruída a fazê-lo”, avalia Lobanov.
O historiador Dmitry Dubrovsky vê os estudantes cada vez mais enfraquecidos. “Isso criou uma situação em que o poder real nas universidades, pelo menos nas principais, mudou do ‘parlamento’, o conselho acadêmico, para reitores e professores titulares individuais. Esses indivíduos, motivados por altos salários, estavam dispostos a tolerar a falta de democracia e permaneceram inalterados por violações de direitos.”