As Américas estão vivendo a maior epidemia de dengue desde o início do registro sistemático da doença, em 1980. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), entre janeiro e outubro de 2024, foram registrados quase 12,7 milhões de casos, triplicando o número do ano passado. Esse surto também resultou em mais de 7.700 mortes na região, das quais 79% ocorreram no Brasil, que contabilizou 10,02 milhões de casos.
Somados, Brasil, México, Colômbia e Argentina respondem por 90% dos casos na região. O diretor-geral da Opas, Jarbas Barbosa, destacou que crianças estão entre as maiores vítimas: "Na Guatemala, 70% das mortes por dengue ocorreram entre crianças", alertou.
Em escala global, 2024 já registrou 13 milhões de casos de dengue e 8.500 mortes, um aumento significativo em relação ao ano anterior, que teve 6 milhões de infecções e 6 mil óbitos, conforme dados do Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC).
Impacto das mudanças climáticas
Um estudo da Universidade de Stanford aponta que o aumento de casos de dengue está fortemente relacionado ao aquecimento global. Cerca de 19% das infecções ocorrem em países severamente impactados pelas mudanças climáticas.
No Brasil, o surto começou em janeiro de 2024, com mais de meio milhão de casos suspeitos reportados até fevereiro, quase quatro vezes mais do que no mesmo período de 2023. A combinação de chuvas intensas e altas temperaturas favoreceu a proliferação do mosquito Aedes aegypti, principal vetor da doença.
O avanço da dengue no mundo
Originalmente endêmica em regiões tropicais e subtropicais, a dengue já alcança partes da Europa, devido às condições mais favoráveis ao mosquito causadas pelo aquecimento global. O Aedes aegypti adapta-se bem a ambientes urbanos, enquanto seu parente, o Aedes albopictus (mosquito-tigre-asiático), é mais comum em áreas rurais. Ambos podem transmitir o vírus.
Sintomas e tratamento
A dengue apresenta sintomas que aparecem entre 4 e 10 dias após a infecção, incluindo febre alta, dores intensas na cabeça, articulações e músculos, erupções cutâneas e fadiga. Em casos graves, podem ocorrer sangramentos e complicações fatais, exigindo atenção médica imediata.
Apesar disso, a dengue é frequentemente confundida com outras doenças virais, como gripe ou Zika, levando a diagnósticos incorretos. Não há um teste rápido acessível para detectar a doença, e o diagnóstico requer exames laboratoriais.
O tratamento é sintomático, com destaque para hidratação adequada. Medicamentos como paracetamol ajudam a aliviar dores e febre, mas anti-inflamatórios como ibuprofeno ou aspirina devem ser evitados, pois aumentam o risco de sangramentos.
Vacinas e prevenção
Duas vacinas estão aprovadas contra a dengue. A Dengvaxia, da Sanofi Pasteur, protege contra os quatro sorotipos, mas seu uso é restrito devido ao risco de agravamento em casos de infecção após a vacinação.
Já a Qdenga, da Takeda, foi introduzida no Brasil em 2024 e é recomendada para pessoas a partir de 4 anos em áreas endêmicas. Apesar de sua eficácia comprovada contra três dos quatro sorotipos, ela é considerada mais segura e causa menos efeitos colaterais.
Além da vacinação, medidas preventivas incluem o uso de repelentes, roupas de mangas compridas e a eliminação de locais com água parada, como pneus e vasos de plantas, para evitar a proliferação do mosquito.
Conclusão
Com os graves surtos registrados na América Latina e em outras regiões, a dengue evidencia a necessidade de ações coordenadas para controle da doença, especialmente em um cenário agravado pelas mudanças climáticas. O reforço na vacinação, vigilância e educação da população é essencial para mitigar os impactos dessa epidemia crescente.
Com Agência Brasil