Os 14 meses de bombardeios intensos em Gaza transformaram a região no local com o maior número de crianças amputadas per capita no mundo. Muitas dessas crianças passaram por amputações e procedimentos médicos sem anestesia, enfrentando dores extremas e sem acesso a tratamentos de reabilitação adequados. De acordo com a UNRWA (Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos), os serviços essenciais para lidar com as sequelas físicas e emocionais das lesões permanentes estão indisponíveis para a maioria dessas vítimas.
Antes do conflito, uma em cada cinco famílias em Gaza já contava com pelo menos uma pessoa com deficiência, sendo quase metade delas crianças. Com a intensificação da guerra, a situação se agravou. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma em cada quatro pessoas feridas durante o conflito sofreu lesões permanentes, necessitando de reabilitação, cuidados especializados para amputações e tratamentos para lesões na medula espinhal.
A crise humanitária em Gaza foi agravada pela interrupção na entrega de suprimentos essenciais devido a saques realizados por gangues armadas. A UNRWA suspendeu, no domingo (1º), o envio de alimentos e ajuda pela passagem de Kerem Shalom, após caminhões carregados com suprimentos serem saqueados ao cruzarem para Gaza. Segundo Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, a rota tem sido insegura há meses, com episódios de roubos frequentes. Em 16 de novembro, um grande comboio de caminhões foi tomado por gangues no mesmo local.
A situação nos abrigos é alarmante. Louise Wateridge, porta-voz da UNRWA, relatou que 6 mil pessoas estão vivendo em uma das escolas da agência em Deir Al-Balah, dormindo em pisos frios e molhados. A desnutrição em Gaza é crescente. Wateridge relatou um episódio em que viu uma criança chorando em desespero por um pedaço de pão, destacando o nível crítico da fome enfrentada pela população.
A combinação de lesões permanentes, falta de reabilitação, insegurança alimentar e interrupção no envio de ajuda humanitária coloca a população de Gaza, especialmente crianças, em uma situação de vulnerabilidade extrema. A comunidade internacional enfrenta o desafio de superar as barreiras logísticas e de segurança para atender às necessidades básicas de sobrevivência e saúde na região.