Fonte BBC News
James Gallagher
Correspondente de saúde e ciência da BBC News
O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2024 foi concedido aos cientistas americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun por suas pesquisas sobre microRNAs.
Ambros, 70 anos, é biólogo e professor de medicina molecular na Universidade de Massachusetts (Estados Unidos).
Ruvkun, 72 anos, é biólogo molecular e professor de genética na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard.
O trabalho da dupla ajudou a explicar como nossos genes funcionam no corpo humano e como os diferentes tecidos e sistemas corporais são criados.
Os vencedores, selecionados por assembleia do Instituto Karolinska, na Suécia, dividem um prêmio de 11 milhões de coroas suecas (R$ 5 milhões, na cotação atual). Segundo os responsáveis ??pelo prémio, “esta descoberta inovadora revelou um princípio completamente novo de regulação genética que se revelou essencial para os organismos multicelulares, incluindo os humanos”.
“Sabemos agora que o genoma humano codifica mais de mil microRNAs”, diz a nota.
O que é microRNA?
Cada célula do corpo humano contém a mesma informação genética de antes, armazenada em nosso DNA.
Mas as células que constituem os ossos, o sistema nervoso, a pele, o coração, o sistema imunitário e outras partes do corpo utilizam este código genético de formas diferentes e altamente especializadas. E o trabalho da dupla americana ajuda a explicar detalhadamente como isso acontece.
Os microRNAs afetam a forma como os genes – as instruções que tornam a vida sustentável – são controlados em diferentes organismos, incluindo os humanos.
Os impulsos elétricos das células nervosas são distintos do batimento rítmico das células cardíacas. A potência metabólica exigida por uma célula do fígado é diferente da missão de uma célula renal de filtrar o sangue. A capacidade de detecção de luz das células da retina não tem nada a ver com a capacidade dos glóbulos brancos de produzir anticorpos e combater infecções. E toda essa diversidade surge do mesmo material de partida do DNA, justamente através da expressão de genes e microRNA.
Cientistas americanos foram os primeiros a descobrir os microRNAs e como eles exercem controle sobre como os genes são expressos de forma diferente em diferentes tecidos.
Sem esta capacidade de controlar a expressão genética, todas as células de um organismo seriam idênticas. Portanto, estes microRNAs desempenharam um papel crucial na evolução de formas de vida mais complexas.
A regulação anormal dos microRNAs também pode contribuir para o desenvolvimento do câncer e de muitas outras condições, como perda auditiva congênita e doenças ósseas.
Um exemplo sério é a síndrome DICER1, que gera tumores em diversos tecidos e é causada por mutações que afetam microRNAs.
MicroRNA é diferente de RNA mensageiro ou mRNA. Enquanto o primeiro realiza a regulação genética que distingue a forma e a função das nossas células, o segundo é gerado pelo código genético para transmitir uma “mensagem” às células – como produzir uma determinada enzima, por exemplo.
Vale lembrar que o princípio do mRNA foi utilizado para criar diversas vacinas contra a Covid-19 – e que os cientistas que realizaram essa pesquisa ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2023.
Ex-vencedor do Prêmio Nobel de Medicina
- 2023: Katalin Kariko e Drew Weissman, pelo desenvolvimento da tecnologia que deu origem às vacinas de mRNA contra a Covid-19;
- 2022: Svante Paabo, pelo trabalho sobre evolução humana;
- 2021: David Julius e Ardem Patapoutian, para explicar como o corpo sente o toque e a temperatura;
- 2020: Michael Houghton, Harvey Alter e Charles Rice, pela descoberta do vírus da hepatite C;
- 2019: Sir Peter Ratcliffe, William Kaelin e Gregg Semenza, por descobrirem como as células detectam e se adaptam aos níveis de oxigênio;
- 2018: James P Allison e Tasuku Honjo, por descobrirem como combater o câncer usando o sistema imunológico do corpo;
- 2017: Jeffrey Hall, Michael Rosbash e Michael Young, para descobrir como os corpos mantêm um ritmo circadiano ou “relógio biológico”;
- 2016: Yoshinori Ohsumi, por descobrir como as células se mantêm saudáveis ??e “reciclam” resíduos.