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Guerra
02/03/2024 04:00:00

Mortes de civis durante distribuição de ajuda em Gaza geram indignação mundial

A França e a China condenaram nesta sexta-feira (1) a morte de cerca de 112 pessoas durante uma distribuição de ajuda humanitária em Gaza, após ataques do Exército israelense.

Mortes de civis durante distribuição de ajuda em Gaza geram indignação mundial

A França pediu a abertura "de uma investigação independente" nesta sexta-feira após a tragédia ocorrida nesta quinta-feira (29) no enclave palestino. Os disparos israelenses atingiram a multidão faminta, que aguardava a distribuição de mantimentos.

Em um comunicado oficial divulgado nesta sexta-feira (1) o Ministério das Relações Exteriores francês pediu um cessar-fogo duradouro e a investigação do caso. Em entrevista à rádio France Inter, o chanceler francês, Stéphane Séjourné, reiterou a necessidade de esclarecer o drama.

"Quero que fique claro: pediremos explicações e uma investigação independente para determinar o que aconteceu", disse. O ministro francês também lembrou que não poderia haver “dois pesos e duas medidas na reação da França.”

Segundo ele, "a França diz o que pensa. Ela se pronuncia quando qualifica o Hamas de organização terrorista. Mas também se pronuncia quando acontecem atrocidades em Gaza”, alfinetou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, já havia publicado uma mensagem na rede X (ex-Twitter) na madrugada desta sexta, condenando o tiroteio de civis "atingidos por soldados israelenses". O chefe de Estado francês pediu "verdade" e "justiça".

O Ministério das Relações Exteriores chinês também condenou a tragédia.  “A China está profundamente triste com este incidente e o condena de maneira firme”, declarou a porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês, Mao Ning.

Houve uma forte indignação nos países árabes: a Arábia Saudita denunciou "um ataque a civis sem defesa" e os Emirados Árabes Unidos lembrou que o incidente ocorreu em um momento em que "as pessoas esperavam ajuda humanitária".

A Jordânia afirma que o massacre ocorre em um momento em que não há um posicionamento internacional para acabar com a guerra. 

Soldados teriam se sentido "ameaçados"

Segundo um oficial do Exército israelense, os soldados se sentiram ameaçados e, na debandada geral, dezenas de moradores acabaram sendo mortos e feridos, “alguns atropelados por caminhões de ajuda”.

O drama, reconheceu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, complicará as negociações para obter uma trégua no território palestino, destruído após quase cinco meses de conflito e ameaçado pela fome.

Nesta quinta-feira, o embaixador palestino na ONU também pediu ao Conselho de Segurança que condenasse a tragédia." O Conselho de Segurança deveria dizer basta", declarou Riyad Mansour à imprensa.

"Este massacre mostra que, enquanto o Conselho de Segurança estiver paralisado e for vetado, estará destruindo povo palestino", afirmou.

Os Estados Unidos, membro do Conselho permanente, utilizou três vezes seu poder de veto para impedir a aprovação de resoluções pedindo um cessar-fogo imediato no enclave palestino. O país é o maior aliado de Israel.

Mansour disse que se reuniu mais cedo nesta quinta-feira com a embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield. "Implorei para que o Conselho de Segurança condene esta matança e puna os responsáveis por este massacre", contou. "O Conselho de Segurança precisa ter coragem e determinação para impedir que estes massacres se repitam, precisamos é de um cessar-fogo", afirmou.

O Conselho de Segurança se reuniu em caráter de urgência na tarde desta quinta-feira, a portas fechadas, a pedido da Argélia, para discutir a situação em Gaza. O conflito já é, de longe, o pior dos cinco que ocorreram entre Israel e o Hamas desde que o movimento islâmico tomou o poder em Gaza, em 2007.

O chefe da ONU, António Guterres, pediu "uma investigação independente eficaz" para identificar os responsáveis e se disse “chocado” com os acontecimentos. 

Surto de violência

De acordo com a ONU, 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estão passando fome na Faixa de Gaza, principalmente no norte, onde os palestinos relataram contaram ter sido obrigados a abater animais usados em carroças e outros veículos para comer.

O Exército israelense tem bombardeado o enclave sem trégua e lançou uma ofensiva terrestre em 27 de outubro. A guerra também levou a um surto de violência na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Em Gaza, civis são diariamente alvo de combates e bombardeios israelenses que devastaram bairros inteiros e forçaram 1,7 milhão de pessoas a fugir de suas casas. Segundo a ONU, quase 1,5 milhão de deslocados fugiram para Rafah, e a população agora está acuada nesta cidade perto da fronteira fechada com o Egito.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no entanto, diz que está determinado a lançar uma ofensiva terrestre no que diz ser um "último reduto".

O incidente desta quinta se soma ao total de mortes de palestinos que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, superou 30.000, a maioria mulheres e crianças.

A guerra começou em 7 de outubro com um ataque sem precedentes do Hamas que causou a morte de cerca de 1.160 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo números israelenses.

Rfi