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Meio Ambiente
04/02/2024 23:00:00

Ambientalistas independentes replantam mudas em manguezal alagado pela Braskem em Maceió

Ambientalistas independentes replantam mudas em manguezal alagado pela Braskem em Maceió
Para tentar recuperar o mangue danificado pelo afundamento do solo causado pela Braskem no bairro do Mutange, em Maceió, ambientalistas têm trabalhado com o replantio de mudas de forma independente, associando a recuperação do manguezal à educação ambiental numa perspectiva crítica. Somente dentro da Lagoa Mundaú, que integra o complexo lagunar Mundaú-Manguaba, um dos ambientes mais representativos do litoral alagoano, o prejuízo é registrado em mais de 15 hectares de manguezal alagado.

Ainda não foi possível mensurar integralmente os impactos gerados pela Braskem desde o início do afundamento, consequência da extração de sal-gema na capital durante quase 60 anos. Para além dos cinco bairros diretamente atingidos, diversos outros danos socioambientais foram sendo verificados ao longo dos últimos cinco anos.

A iniciativa do replantio partiu do coletivo Enxame, que hoje está em processo de transformação para a startup socioambiental Enxame +. A trajetória na área de projetos de gestão e educação ambiental trouxe os acúmulos necessários para construção da iniciativa.

O coordenador, Alonso Netto, enumera os trabalhos diversos, com advocacy e mobilização em territórios, promoção de atividades como cineclubes com foco na juventude e na comunidade, audiências públicas, impulsionamento de ação civil pública, entre outros, com foco na defesa ambiental em Marechal Deodoro e em biomas do litoral sul de Alagoas — a Lagoa Mundaú divide os municípios de Maceió, Coqueiro Seco e Marechal Deodoro.

Desde 2018, quando começaram a aprofundar as informações sobre o impacto de subsidência de solo causada pela Braskem, o coletivo passou a se envolver nas críticas aos danos socioambientais causados pela Braskem. Naquele ano, o grupo exibiu, como parte do cineclube, o filme A Braskem passou por aqui, de Carlos Pronzato.

O título faz uma alusão a um dos pixos mais emblemáticos produzidos pela brigada socioambiental Octávio Brandão, feita nas casas cujos moradores foram obrigados a serem removidos.

Propagando Propágulos
Em 2020, já observando a grande incidência de degradação na Área de Proteção Ambiental (APA) Santa Rita e inspirados pela perspectiva de construção de uma área de preservação ambiental, o até então coletivo reuniu outras organizações e decidiu realizar o que Alonso Netto costuma chamar de “propagar propágulos”. É uma referência ao modo como são chamadas as “canetas”, espécies de sementes de mangue vermelho (Rhisoflora mangue).

A APA de Santa Rita é território da icônica Miss Sururu, uma estátua construída às margens da Lagoa Mundaú na década de 1990 em homenagem às marisqueiras, mas “esquecida” por décadas até sua restauração em 2021 pelos ambientalistas e pescadores locais. A primeira atividade idealizada pela startup foi justamente nessa área e consistiu no plantio de 200 mudas de mangue vermelho, envolvendo movimentos como o Greenpeace Alagoas e o Instituto EcoManguaba, em parceria com diversas ONGs, pescadores e Movimento dos Povos da Lagoa.

“Foi assim que decidimos propagar propágulos nos últimos anos. Não só levando mutirões para fazer o plantio como também associando isso a um projeto de educação socioambiental em ambiente lacustre”, explica Netto.

Em 2021, mais um mutirão de plantio foi realizado, com 20 mudas plantadas simbolicamente em uma homenagem às vítimas da Covid-19. Desta vez, o trabalho foi conduzido a partir de um parceria fruta da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e PACTO pela Restauração da Mata Atlântica.

Ainda em 2021, houve mais plantio. Ao todo, foram inseridas 20 mudas, de forma independente, com recursos próprios e outros levantados a partir do próprio mutirão ter sido realizado enquanto turismo ambiental.

A sequência de plantios nos anos seguintes foi crescendo e teve grande participação de crianças e jovens. Segundo o coordenador da startup, foram plantadas mais 500 mudas entre Bosque Nelson da Rabeca e Aratu em 2022. Já em 2023, o número de mudas subiu para 5.350, a partir de mais um trabalho associado à educação ambiental, contando com o apoio de estudantes que participaram de uma gincana escolar proposta pela Enxame +.

“Hoje de fato, mesmo por questão de segurança, não é possível fazer o plantio de mangues na região do Mutange, uma vez que está interditado até mesmo transitar no local em razão do colapso da mina. Então o que fazemos é dar continuidade ao plantio em outras áreas, mas dentro do bioma de mata atlântica e dentro do Complexo Lagunar Mundaú-Manguaba”, diz Netto.  
 
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