Professor doutor de Economia da Universidade de São Paulo (USP), Simão Silber acredita que a economia externa deverá contribuir para uma expansão menor do PIB brasileiro no ano que vem. "O crescimento global não deve chegar a 2%, e esse é um número muito baixo para o padrão médio de 3,8% dos últimos 20 anos. O governo não tem instrumental para fazer o PIB crescer de forma mais robusta e, se o presidente Lula fizer o que está falando, vamos ver crescimento menor ainda, porque não é fazendo mais dívida que o crescimento virá", alerta o economista, comentando declarações recentes do chefe do Executivo.
"Acredito que, se houver um mínimo de bom senso e capacidade de persuasão de Fernando Haddad, será possível evitar o crescimento dos gastos de forma desordenada", acrescenta Silber. "A média do crescimento mundial está abaixo do padrão, e 2024 não será um ano bom para economia global. Ela continuará com altos e baixos devido a vários vilões — os efeitos da pandemia de covid-19, a guerra no Leste Europeu e fatores macroeconômicos adversos", explica.
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, ressalta que existem fatores de preocupação em 2024 que precisam estar no radar do debate econômico, como a eleição municipal, que vai determinar o jogo político para 2026, com um orçamento no mesmo patamar da corrida eleitoral de 2022, perto de R$ 5 bilhões. "Devemos ter eleições bastante acirradas e com viés expansionista", aposta.
Por outro lado, Margato, aponta como um lado positivo para o próximo ano a possibilidade de os Estados Unidos começarem a cortar os juros de forma antecipada, o que poderá ajudar a valorização de ativos de mercados emergentes, como o Brasil. A última decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos) deixou os agentes da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) animados, tanto que o Índice Bovespa (IBovespa) bateu recordes e chegou a encostar em 133 mil pontos nos últimos dias.
"A parte fiscal é o principal risco interno em 2024. Neste momento, é menor do que a gente tinha há um ou dos meses, porque Haddad aprovou muita coisa no Congresso. Mas é a velha história: vãos os anéis e ficam os dedos", destaca Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, em referência ao limite de R$ 23 bilhões para o contingenciamento no próximo ano imposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Correio Braziliense