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Acidente
26/12/2023 02:00:00

Líderes da UE aprovam negociações para adesão da Ucrânia

Esforços diplomáticos e descongelamento de verbas fizeram com que Hungria abandonasse planos de vetar decisão que deixa Kiev perto de Bruxelas

Líderes da UE aprovam negociações para adesão da Ucrânia

Os líderes da União Europeia (UE) surpreenderam ao anunciarem nesta quinta-feira (14/12), na cúpula dos 27 Estados-membros em Bruxelas, um acordo para abrir as negociações formais para a adesão da Ucrânia e da Moldávia ao bloco europeu, driblando a resistência do premiê húngaro, Viktor Orbán, que havia prometido vetar a decisão.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse se tratar de um "sinal claro de esperança para o povo [dos dois países] e para nosso continente". A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, comemorou o que chamou de "decisão estratégica que permanecerá gravada na história de nossa União".

A Ucrânia, com população de 44 milhões e geograficamente maior do que qualquer Estado-membro da UE, apresenta alguns desafios singulares para o processo de adesão. O país está há 22 meses em guerra com a Rússia e depende da ajuda de parceiros internacionais para continuar resistindo às forças invasoras.

Abstenção da Hungria abriu o caminho

Orbán se absteve da decisão e optou por não usar o poder de veto que todos os Estados-membros possuem. "A posição da Hungria é clara: A Ucrânia não está preparada para iniciar as negociações de afiliação à UE", disse o premiê em mensagem de vídeo postada na rede social X, antigo Twitter

"É uma decisão completamente sem sentido, irracional e incorreta dar início às negociações nessas circunstâncias. A Hungria não mudará sua posição. Por outro lado, 26 países insistiram para que essa decisão fosse tomada. Desta forma, a Hungria concluiu que se os 26 decidem fazê-lo, eles então devem seguir por meio de seus próprios caminhos. Por esse motivo, a Hungria não participou da decisão no dia de hoje", concluiu.

Ao ser questionado sobre qual teria sido o papel de Orbán na votação, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, disse que ele sequer estava na sala: "Ele discorda da decisão e não vai mudar sua opinião, mas, essencialmente, decidiu não usar seu poder de veto."

Se Orbán tivesse decidido vetar o início das conversações formais com a Ucrânia, a cúpula dos líderes europeus desta semana teria fracassado.

Conversas nos bastidores

Em um esforço diplomático conjunto, o chanceler alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron, se reuniram com Orbán para discutir a questão, juntamente com Charles Michel e Ursula von der Leyen.

Premiê húngaro, Viktor Orbán, caminha na sede da UE em Bruxelas em frente a bandeiras de países europeus
Premiê húngaro, Viktor Orbán, se absteve de usar poder de veto e não esteve presente durante a decisãoFoto: Virginia Mayo/AP Photo/picture alliance

O húngaro retrocedeu após a Comissão Europeia liberar, para a Hungria, financiamentos no valor de 10,2 bilhões de euros (R$ 54 bilhões) que estavam bloqueados, por considerar que o país preencheu as condições necessárias para a independência de seu Poder Judiciário.

Os críticos acusam Orbán de manter a Ucrânia como refém em sua tentativa de forçar Bruxelas a descongelar bilhões de euros em financiamentos da UE. Bruxelas, porém, ainda mantém congelados outros 21 bilhões de euros que seriam destinados à Hungria.

Scholz sugeriu que Orbán se ausentasse

Segundo apurou o repórter da DW em Bruxelas, Jack Parrock, a ideia de Orbán se ausentar da sala de reuniões teria sido do próprio Scholz.

Parrock descreveu como "malucas" as horas finais da cúpula, enquanto a ameaça de Orbán ainda se fazia presente. "A ideia de ele deixar a sala foi, na verdade, uma iniciativa de Olaf Scholz", afirmou.

"É possível obter unanimidade se um líder deixar a sala, é o que eles chamam de 'abstenção construtiva'. Se ele não está na sala, os demais líderes podem seguir em frente, o que significa que podem abrir as conversações para a adesão da Ucrânia", complementou.

Essa forma bastante incomum de aprovar uma decisão – especialmente em algo dessa importância – é inédita em Bruxelas, mesmo que a capital europeia tenha se tornado um centro para ideias bastante criativas em termos de firmar acordos.

Zelenski exalta vitória "motivadora"

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que estava de passagem pela Alemanha, disse que a decisão é uma "vitória para a Ucrânia e para toda a Europa, uma vitória que motiva, inspira e fortalece".

Além da decisão sobre a Ucrânia, os líderes europeus também concederam à Geórgia o status de país-candidato – uma etapa anterior à abertura de negociações formais.

As atenções agora se voltam para a estratégia de enviar à Ucrânia um pacote de 50 bilhões de euros em quatro anos, algo que Orbán também havia prometido vetar. Kiev precisa desse financiamento para reavivar sua economia arrasada pela guerra e mudar a narrativa de que o apoio ocidental estaria se esvaindo.

A maioria dos líderes europeus deseja mandar um sinal inequívoco de solidariedade à Ucrânia, mas as decisões devem ser unânimes – ou ao menos sem oposição. Orbán vinha insistindo que a decisão sobre o apoio financeiro poderia esperar até as eleições europeias, em junho de 2024.

dw.com/pt