Ingressar na faculdade pode ser um sonho para muitas pessoas, mas a intensa rotina de estudos e o grande volume de compromissos acadêmicos podem acabar provocando adoecimento mental, como aconteceu com a mestranda Monick Pimentel, 27, diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em 2015.
Diante de tantos desgastes enfrentados durante sua trajetória acadêmica de 10 anos, ela define a crise de ansiedade como uma sensação de tudo e nada ao mesmo tempo. “Quando te paralisa, é um dos piores momentos. Sinto como se fosse um verdadeiro inferno mental”.
No mês da campanha Setembro Amarelo, criada para a prevenção ao suicídio e promoção dos cuidados com a saúde mental, o g1 AL publica uma série de reportagens sobre pessoas que enfrentaram episódios traumáticos, mas que conseguiram se recuperar com ajuda profissional e apoio psicológico.
Monick conta que começou a fazer terapia em 2015. Na época, estava no segundo semestre da graduação em ciências sociais pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e desde então tem buscado alternativas para lidar com os gatilhos mentais causados pelo transtorno de ansiedade, como o medo do futuro, autossabotagem, distúrbio alimentar e esgotamento intelectual.
A primeira graduação foi concluída em 2018, e em 2021, começou a cursar pedagogia. Após um ano, trancou o curso para ingressar no Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), que começou em março do ano passado.
“Quando tenho que fazer as atividades, sejam elas acadêmicas ou pessoais, é difícil manter o foco. Todo dia é uma luta contra você mesmo. Cada linha escrita ou lida já é uma grande vitória”, informou a mestranda em sociologia da Ufal.
O psicólogo Diógenes Pereira explica que o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado por sintomas fisiológicos e psicológicos. Entre os quais destacam-se: falta de ar; tontura; coração acelerado e dor no peito; suor e tremores; dormência e formigamento; inquietação; e vontade de morrer.
Esses sintomas foram sentidos por Monick durante a apresentação de um trabalho acadêmico, quando ela passou mal a ponto de desenvolver gastrite emocional por mais de 1 semana. “Como eu sou da área da licenciatura, falar em público é algo bastante tranquilo. Mas, nesse episódio, eu tremia. Não sei de onde saiu tanta ansiedade”.
A Professora Dr.ª Maria Cícera dos Santos, diretora da Escola de Enfermagem (EEN) da Ufal e especialista em saúde mental, explica que entre os estudantes de pós-graduação, os que estão no doutorado têm maior risco a depressão e suicídio.
“A vida acadêmica carrega uma pressão e certa cobrança para entrega dos projetos dentro do prazo, além das demandas intensas em laboratórios de grupos de pesquisa. Ao mesmo tempo que instiga o estudante para os sonhos que ele traz à universidade, são cobranças que podem desencadear estresse”, explicou Maria Cícera.
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Monick Pimentel, 27 anos — Foto: Arquivo pessoal
“A comida é um indicativo de que não estou bem. Como demais ou não como nada. Mas em algumas crises de ansiedade específicas, sempre quero comer, geralmente, doces. Ganhei cerca de 7 kg em seis meses, e isso me incomoda, porque muitas vezes priorizamos outras coisas, menos a nós mesmos, nosso corpo e nossa saúde”, afirmou a universitária.
O nutricionista Léo Vicente explica a importância da alimentação adequada para a saúde mental e qualidade de vida. De acordo com ele, comer em excesso pode desencadear um distúrbio alimentar e outros problemas de saúde.
“Comer demais não ajuda a aliviar questões emocionais desreguladas. É preciso olhar a comida como o que ela realmente é, apenas comida. Alguns alimentos industrializados possuem alta carga de químicos que alteram nossas condições de saúde. Excesso de sódio(sal), açúcares e corantes artificiais, por exemplo, podem provocar doenças como alergias, hipertensão e diabetes”, orientou o especialista.
Durante o processo de terapia, Monick Pimentel trabalha seu autoconhecimento para identificar e corrigir alguns fatores fisiológicos, como alteração do relógio biológico, suor e tremedeiras.
“Eu percebo a crise através do sono. Quando estou muito ansiosa, eu durmo tarde, acordo na madrugada e fico o restante do dia cansada, então já noto reações negativas, como inquietação e tremedeira”, disse a universitária.
Ela destaca também a falta de foco e concentração como um agravante na resolução de tarefas específicas.
“Podemos acreditar que uma pessoa ansiosa se mexe para um lado e para o outro. Mas, muitas vezes, quando estamos silenciados e quietos, a cabeça não consegue parar. A mente enfrenta uma guerra constante com mil e um pensamentos. Nós nos fechamos, e qualquer gota de água nos leva a explodir”, afirmou.
Ela destaca ainda uma fase difícil da sua trajetória em que chegou a pensar em tirar a própria vida. "Em algum momento tive ideações suicidas, então procurei o bloco de psicologia da universidade para conversar sobre isso. Nós não precisamos sofrer em silêncio, morrer em silêncio, temos que criar uma rede de apoio”, ponderou.
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Monick Pimentel, 27 anos — Foto: Arquivo pessoal