Por Rfi
Algumas crianças ainda se sentem perdidas, outras tropeçam na frente das pesadas portas de metal. Para esta volta às aulas, os alunos de Kharkiv conheceram suas novas salas de aula instaladas no metrô, ao abrigo dos bombardeios. Uma novidade no país em guerra, enquanto esta cidade do nordeste do país, situada a 40 km da fronteira com a Rússia, ainda vive ao ritmo de ataques quase diários.
“Sempre há lágrimas no primeiro dia de aula, mas não houve esta manhã”, observa, surpresa, Ekterina Tkatchova, uma das diretoras. Vestido com a tradicional camisa bordada ucraniana, a vychyvanka, o pequeno Georgiy conta: “Já fiz dois amigos, um mais velho e outro mais novo”, anima-se o menino de 6 anos. “Não me lembro de tudo, mas adorei a decoração da sala”, ele acrescenta.
Três manhãs por semana, Georgiy descerá as escadas da estação Universytet sem passar pelas catracas. As instalações improvisadas podem acomodar até 300 alunos por dia. As equipes técnicas da cidade tiveram apenas dez dias para transformar as plataformas de embarque. Também foram adaptadas outras sete salas, que normalmente abrigam serviços operacionais.
Para promover esta volta às aulas no subsolo, foi necessário instalar isolamento acústico, adaptar o sistema de ventilação e rever a iluminação. Os desenhos cobrem quase completamente o mármore liso das paredes, onde instruções de segurança também estão expostas. O nome de cada aluno está gravado nas carteiras de madeira.
Desde o início da guerra, as escolas da região estão fechadas e os alunos têm acompanhado as aulas a distância, pelas telas de seus computadores. “Estou estressada, mas feliz por ele estar encontrando amigos de verdade e uma professora novamente”, confidencia a mãe de Georgiy, Tanya Shishko.
“É muito importante que ele faça ligações sociais novamente”, diz. Ela acompanha o filho sozinha, e dedica seu dia a este momento tão especial. “Meu marido, pai de Georgiy, foi feito prisioneiro de guerra”, ela conta soluçando.

Dois funcionários se preparam para levar lanches às crianças, servidos em caixinhas. No fundo da sala, atenta às reações dos alunos, uma psicóloga anota páginas inteiras de um caderno. “Essas crianças estão em uma idade importante para sua adaptação social. A distância, é bastante difícil para elas se comunicarem”, ressalta Tatiana Andreeieva.
O fato de ter uma escola nesta estação de metrô é certamente incomum, por isso mesmo uma equipe especializada acompanha de perto o processo, para reduzir o máximo possível o impacto psicológico.
Um menino sai da sala, acompanhado por uma assistente. “É meu pai que está chegando?”, pergunta ele, visivelmente desorientado pelo contexto. “Não, não… É o metrô”, responde ela, próxima às janelas lacradas do corredor.
A abertura destas salas subterrâneas é acima de tudo simbólica, uma vez que atende apenas um pequeno número de alunos. No início de julho, as autoridades militares ucranianas e a Rada, o Parlamento da Ucrânia, anunciaram a possibilidade de reabrir as escolas presencialmente sob uma condição: que os estabelecimentos estejam equipados com grandes abrigos antiaéreos.
Como tantas outras, a escola número 97 de Kharkiv trabalhou arduamente para isso. No porão do prédio foram instalados condutores de ventilação. Diversas salas são iluminadas apenas por luz artificial, mas decoradas com desenhos infantis para tornar o ambiente mais alegre.
A última sala, no final do corredor, abriga um bebedouro de 300 litros, e banheiros improvisados são escondidos por uma cortina. No total, 245 alunos e professores puderam se proteger neste local durante os alertas aéreos, garante Tatiana Tkatchenko, uma das professoras.
Todos esses esforços, no entanto, não foram suficientes. “No início de julho soubemos que não poderíamos reabrir a escola”, lamenta a professora. “Estávamos preparados, mas as famílias estavam bastante divididas. Metade queria que os filhos pudessem voltar à escola, mas a outra achou perigoso demais”, ela explica.