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Acidente
09/08/2023 22:00:00

'Sedentarismo vai matar tantas pessoas quanto o cigarro', afirma Dr. Drauzio Varella em evento no CE

Ao abordar a importância da atenção primária, médico alerta para influência de fatores sociais e comportamentais na saúde

'Sedentarismo vai matar tantas pessoas quanto o cigarro', afirma Dr. Drauzio Varella em evento no CE

Com Diário do Nordeste

Quando era menino numa cidade operária de São Paulo, Drauzio Varella contraiu “todas as doenças da infância”, de sarampo a difteria. De lá para cá, no percurso para se tornar um dos médicos mais renomados do mundo, viu a própria medicina evoluir – viu o SUS nascer e aumentar a expectativa de vida no Brasil, que era de 50 anos.

Em palestra a profissionais de saúde pública promovida pela Prefeitura de Maracanaú, no Ceará, na manhã desta terça-feira (8), Dr. Drauzio afirmou que “deixamos de morrer por causas absurdas”, mas foi categórico ao ressaltar: são os hábitos humanos, como o sedentarismo, que vão nos matar agora.

“No meu tempo, as pessoas morriam por verminose. Essa era a medicina: fomos preparados por ela. Aí vieram as vacinas e deixamos de morrer por causas absurdas”, recobra o médico, formado ainda nos anos 1960.

Apesar de ter visto a chegada de imunizantes e a revolução na saúde causada pelos antibióticos, Drauzio enfatiza que a prevenção, a mudança de estilo de vida e a adoção de políticas públicas efetivas em todas as áreas são chaves para cuidar da saúde – e para não exaurir um sistema público já afogado nas demandas de uma população imensa.

“A função do serviço público é prestar serviço: a saúde é uma parte disso, não o total. Tudo o que se fizer para reduzir as diferenças sociais do Brasil estará trazendo benefício à saúde. Enquanto houver esse degrau enorme entre os mais ricos e mais pobres, as condições de saúde não vão se modificar”, sentenciou, em entrevista ao Diário do Nordeste

O médico, que não ingere açúcar há 45 anos e tem como hábito correr no parque todas as manhãs, alertou que “a população brasileira está envelhecendo mal”.

“50% das mulheres e homens que chegam aos 60 anos têm hipertensão. Diabetes nem sabemos o número. Estamos na fase das doenças crônicas, que têm outra filosofia de tratamento: não vou curá-las, mas controlar, o que é muito mais difícil”, destaca.

“AGENTE DE SAÚDE É O MAIS IMPORTANTE”

Foto: Fabiane de Paula

Dr. Drauzio pontua ainda que, no atual contexto de avanço das doenças crônicas não transmissíveis, o impacto que o médico tem na prevenção “é muito pequeno”. Segundo ele, 30% das doenças crônicas dependem das condições sociais do indivíduo, como moradia e saneamento básico, “que não é a medicina que vai oferecer”. 

“Os outros 50% dependem do estilo de vida: como beber, fumar, não se exercitar”, frisa, acrescentando que “no século XXI, morrerão tantas pessoas por sedentarismo quanto o cigarro vai matar” e que “não dá pra esperar as pessoas adoecerem para depois tratá-las”.

Para se ter ideia, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o tabagismo mata mais de 8 milhões de pessoas a cada ano – e quase 80% dos 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda.

Insegurança alimentar e hábitos nutricionais ruins, observa Drauzio, também contribuem para um cenário de declínio geral da saúde da população. O fortalecimento da atenção primária, então, é não apenas uma medida estratégica, como urgente.

“A saúde, em geral, é mais centrada no médico, mas o mais importante não é ele: é o agente comunitário de saúde. Temos que treiná-los pra que possam prestar uma assistência melhor. Não dá pra esperar as pessoas adoecerem pra depois tratá-las”, critica.

“Tem que ter alguém no fim da linha. Tenho mais de 50 anos como médico e não sei quais são os problemas locais. As equipes de saúde da prefeitura sabem”, finaliza Drauzio.