O Brasil vive desde esta quinta-feira (01/06) uma onda de revisões para cima das projeções de crescimento da economia para 2023, com expectativas de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) superando os 2%. O novo patamar representa mais que o dobro do 1% projetado pelo mercado no início de maio. Em janeiro, a previsão ainda era de 0,78%.
Por trás das revisões está a agropecuária. O setor foi o maior motivo da expansão econômica brasileira no primeiro trimestre – de 4% frente ao mesmo período do ano passado e 1,9% em relação aos últimos três meses de 2022 – e deverá ser o principal motor do crescimento do PIB neste ano.
Divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), os resultados do PIB para os três primeiros meses do ano, com o altíssimo desempenho da agropecuária, surpreenderam analistas.
Enquanto, os serviços avançaram somente 0,6% e a indústria encolheu 0,1%, o agro avançou 21,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
Frente ao primeiro trimestre de 2022, o setor de serviços teve alta de 2,9%. E a indústria cresceu apenas 1,9% – o equivalente a cerca de um décimo do avanço da agropecuária (18,8%) no mesmo período.
"A força política do setor [agropecuário] fica mais explícita. Se nos últimos dois anos esse impacto era mais difuso e não ficava tão claro, agora não é o caso. Isso dá força para a bancada da agropecuária no Congresso e forçará o governo a se render à realidade de que sem as commodities o país não consegue crescer", analisa o economista-chefe da MB Associados, Sergi Valle.
Para Valle, agora se consolida a existência de dois Brasis: o agro e o não agro. "Esse conto de dois Brasis poderia ser um chamado para o governo começar a se entender melhor com o setor", considera o economista.
A coordenadora do Boletim de Conjuntura do Ipea, Julia Braga, afirma que o agronegócio foi beneficiado pelos ciclos recentes de alta das commodities e o avanço das exportações. A expansão do setor dinamiza segmentos como transportes e logística, maquinários para a produção e de serviços relacionados, aponta.
Economistas indicam que a supersafra agrícola influencia a queda dos preços dos alimentos e, assim, a dinâmica inflacionária.
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