O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que os generais sudaneses rivais concordaram com um cessar-fogo de três dias a partir desta terça-feira (25), para tentar encerrar os combates que já custaram a vida de pelo menos 427 pessoas.
"Após negociações intensas nas últimas 48 horas, as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (FAR) concordaram com um cessar-fogo em todo o país a partir da meia-noite de 24 de abril, que irá durar 72 horas", declarou Blinken duas horas antes da entrada em vigor da trégua. "Nesse período, os Estados Unidos esperam que o Exército e as FAR respeitem plena e imediatamente o cessar-fogo".
Esta não é a primeira vez que uma trégua é anunciada em meio aos combates que acontecem desde 15 de abril entre o Exército regular comandado pelo general Abdel Fattah Al Burhan e as forças paramilitares do general Mohamed Hamdane Daglo, dito “Hemedti”. Tentativas anteriores terminaram em fracasso e muitas mortes e feridos.
O secretário de Estado, em contato com os dois generais rivais e com múltiplos atores regionais, informou que trabalha com aliados para o início de "uma comissão" que seria responsável por negociar um fim permanente das hostilidades no Sudão.
As Forças da Liberdade e Mudança, principal bloco civil que ambos os generais tiraram do poder com um golpe em 2021, disseram que a trégua permitirá "dialogar nas modalidades de um cessar-fogo permanente".
Com o Sudão "à beira do precipício", como alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, o êxodo em massa de estrangeiros se intensificou hoje no país, em meio a combates entre o Exército e um grupo paramilitar.
Explosões, bombardeios e disparos acontecem de modo incessante há 10 dias na capital sudanesa, Cartum, e em outras regiões, e já deixaram 427 mortos e mais de 3,7 mil feridos, segundo as agências da ONU.
Potências internacionais conseguiram, no entanto, negociar com os dois lados beligerantes a retirada de funcionários diplomáticos e cidadãos. Essa espiral de violência "corre o risco de uma conflagração catastrófica dentro do Sudão que poderia envolver toda a região e além", disparou Guterres nesta segunda-feira.
Apesar do alerta, o enviado da ONU no Sudão, Volker Perthes, permanecerá no país, ao contrário de muitos diplomatas e outros cidadãos estrangeiros. Ao todo, mais de 1.000 cidadãos da União Europeia (UE) foram retirados do país, afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell.
A França anunciou na segunda-feira o fechamento de sua embaixada no país africano "até novo aviso".
"A embaixada francesa no Sudão está fechada até novo aviso e não é mais um ponto de reagrupamento para as pessoas que desejam deixar Cartum", informou o ministério francês das Relações Exteriores, antes de informar ter retirado 491 pessoas de 36 nacionalidades, incluindo 196 franceses, do país.
A Espanha anunciou a saída de 100 pessoas, incluindo espanhóis e latino-americanos. Já o governo dos Estados Unidos, por sua vez, retirou funcionários do serviço diplomático, menos de 100 pessoas, em helicópteros.
A China e países árabes também retiraram centenas de cidadãos. O Japão anunciou nesta terça-feira (25) o fechamento de sua embaixada e a retirada de 45 cidadãos.
Cerca de 700 funcionários da ONU, embaixadas e organizações internacionais "foram retirados para Porto Sudão", cidade às margens do Mar Vermelho, informaram as Nações Unidas.
Os mais de cinco milhões de moradores da capital não têm acesso a água e energia elétrica há dias e a comida começa a faltar. Os moradores de Cartum só têm um pensamento: abandonar a cidade, que está mergulhada no caos.
Os dois lados trocam acusações sobre ataques contra prisões para libertar centenas de detentos, assim como de roubos a casas e fábricas. Também foram registrados confrontos nas proximidades de agências bancárias, que foram esvaziadas.
Em um país onde a inflação já supera três dígitos em períodos normais, o preço do arroz ou da gasolina atingiu níveis recordes. "À medida que os estrangeiros fogem, o impacto da violência em uma situação humanitária já crítica no Sudão se agrava", alertou a ONU.
No meio do fogo cruzado, as agências das Nações Unidas e outras organizações humanitárias suspenderam suas atividades no país. Cinco trabalhadores humanitários - quatro deles da ONU - morreram e, de acordo com o sindicato dos médicos, quase 75% dos hospitais estão fora de serviço.
rfi