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21/06/2009 00:00:00

Especiais


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com gazetaweb // eduardo almeida

José da Silva, 17 anos, usuário de drogas desde os 12. Executado com tiros na cabeça. “Zé”, como era conhecido na Grota do Moreira, sonhava com a fama, e conseguiu – não por meio do futebol, como esperava, e sim pelas estatísticas policiais: foi o número 52 deste mês. O motivo pelo qual “Zé” foi morto é o mesmo pelo qual foram o João, o Pedro e tantos outros que viraram números: o envolvimento com o tráfico de drogas.

Histórias como esta tornaram Alagoas o estado mais violento do país, segundo o Ministério da Justiça. Só em 2008, duas mil e sessenta e quatro pessoas foram assassinadas no Estado. No primeiro quadrimestre de 2009, o número já chega a 657, o que fez com que o Ministério da Saúde declarasse que Maceió é a cidade onde a população mais corre riscos de morte.

Para se ter uma ideia, entre março de 2003 – quando se iniciou a Guerra do Iraque – e março de 2008, cerca de quatro mil soldados americanos foram mortos. Em apenas um ano e meio, mais de 2.500 alagoanos foram executados. E enquanto no Rio de Janeiro o índice de homicídios por 100 mil habitantes é de 45,1, aqui a taxa é de 66,2.

GRANDE MACEIÓ LIDERA RANKING DE HOMICÍDIOS EM ALAGOAS

Dados fornecidos pela Secretaria de Estado da Defesa Social (SEDS) revelam que a região metropolitana de Maceió concentra 52% dos homicídios ocorridos no estado. Entre os meses de janeiro e abril de 2009, trezentas e quarenta e três pessoas foram mortas na capital ou em cidades circunvizinhas, contra 314 no interior. Os bairros do Benedito Bentes, Tabuleiro do Martins, Jacintinho, Trapiche da Barra e Vergel do Lago lideram as estatísticas.

Segundo o coronel Luciano Silva, responsável pelo Comando do Policiamento da Capital (CPC), a Polícia Militar (PM) vem elaborando estatísticas para, a partir de estudos analíticos, direcionar as ações de prevenção. No entanto, dificuldades estruturais, como o número reduzido de policiais e o sucateamento de alguns equipamentos, impedem que o trabalho seja realizado a contento.

“A polícia conta, atualmente, com cerca de oito mil homens, sendo 3.200 só em Maceió. Esse é o número real, que está longe do desejável. Mas não dá para viver de sonho. O ideal seria que, a cada ano, entrassem mais 300 homens, para dar uma oxigenada e diminuir o déficit. Dentro das possibilidades da PM, estamos fazendo o possível”, afirmou Luciano Silva.

O coronel explicou que as drogas são a maior causa de morte entre os jovens alagoanos, e que a polícia tem concentrado suas forças no combate ao tráfico. “É combatendo o tráfico que conseguiremos evitar outros delitos, como homicídios, roubos e furtos”, disse Luciano, garantindo ainda que o problema vai além da atuação da PM.

“Os altos índices de violência que observamos são fruto de políticas públicas mal sucedidas ao longo de anos, tanto no âmbito estadual como no municipal. Não podemos culpar exclusivamente a polícia pelas estatísticas. As drogas, por exemplo, são um problema de saúde pública. É necessária uma ação conjunta entre governo e instituições não governamentais, como Igreja e pastorais”, informou o comandante do CPC.

De acordo com a delegada Luci Mônica, do Departamento de Estatísticas da Polícia Civil, os inquéritos policiais revelam que o tráfico de entorpecentes é a alavanca da violência em Alagoas. “Seja a partir de dívidas, seja pela disputa de pontos, o envolvimento com as drogas ainda é a maior causa de morte”, ressalta, ao afirmar que a cúpula da polícia vem acompanhando todos os casos.

Ainda segundo a delegada, assim como acontece na PM, faltam policiais e equipamentos adequados. “A realização de concurso público é algo urgente, assim como a melhoria de infra-estrutura nas delegacias do estado, que estão abarrotadas”, explica Luci Mônica.

"UFAL, EM DEFESA DA VIDA"

Foi devido ao alto índice de violência que a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) lançou, em abril deste ano, o projeto “Ufal, em defesa da vida”. Num ato simbólico, duas mil e sessenta e quatro pessoas camisas foram estendidas em um longo varal para representar o número de pessoas mortas no estado em 2008.

“A ideia é fomentar, na academia, a discussão sobre segurança pública e os diversos tipos de violência, já que daqui sairão futuros profissionais. Queremos humanizar os números e contribuir com uma mudança cultural e política”, disse a coordenadora do projeto, professora Ruth Vasconcelos.

A professora explica ainda que, após realizar uma mesa-redonda sobre os desafios da segurança no estado, o “Ufal, em defesa da vida” prepara para o dia 25 de junho o seu terceiro ato: um encontro no qual serão discutidas as diretrizes levadas à Conferência Nacional de Segurança Pública, em Brasília.

Para medir o número de mortes, a Ufal instalou um painel em frente ao prédio da reitoria. Os dados não estão atualizados, mas, afinal de contas, quando você terminar de ler esta matéria, mais um José poderá ter se transformado em estatística.



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