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17/04/2009 00:00:00

Especiais


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tudonahora // ricardo mota

É com espanto e até um com certo desânimo que eu vejo a celebração do anúncio feito pelo governo federal de reduzir o IPI das motocicletas como sendo uma medida de grande alcance social. É verdade que esse tipo de veículo virou instrumento de trabalho para milhares de pessoas - jovens, principalmente - que não têm emprego, nem qualificação profissional. Não menos verdadeiros são os números da tragédia diária no trânsito de todas as cidades brasileiras, tendo a moto como "protagonista" de tantas histórias tristes.

Despreparados para enfrentar a "guerra" do trânsito, principalmente nos grandes centros urbanos; desesperados pela pressão da sobrevivência - os motoboys, quase sempre, ganham por produção-, eles aceleram para a morte no cotidiano de um país que não sabe - nem desconfia - o que fazer com a sua juventude, principalmente. Parecem suicidas a buscar nas ruas o instante último de uma vida sem sentido. 

A média brasileira de mortes em acidentes envolvendo motocicletas é espantosa: 6.700 por ano. Os "pilotos" que sobrevivem, encaminhados principalmente aos hospitais públicos de urgência e emergência, têm um custo médio de tratamento de R$ 50 mil - cada um deles.

A cidade de São Paulo possui as estatísticas mais precisas sobre essa carnificina diária, e elas não deixam dúvidas de que o problema é de Saúde Pública (com maiúsculas, mesmo): seis em cada dez acidentes de trânsito na capital paulista envolvem motos; sete em cada dez atendimentos hospitalares com amputação de membros - decorrente desse tipo de acidente - têm os motoqueiros como vítimas. (Também nas rodovias, os números já são preocupantes: foram 1.015 acidentes com motos só na Via Anhanguera, no ano passado).

O país gasta muito com esta tragédia cotidiana, e, mais do que tudo, desperdiça vidas na plenitude do vigor físico - são os jovens, principalmente, que morrem nas ruas de todas as grande cidades brasileiras, ou nos leitos das emergências hospitalares públicas. Para resolver uma questão  social e econômica, que tal eliminar, literalmente, o problema? Uma pergunta que pode parecer cruel, mas crueldade maior é não querer enxergar as consequências de ações demagógicas meia-sola.

A situação em Alagoas? Os dados coletados pelo HGE e pelo Detran mostram que o quadro em nada difere de São Paulo. No ano passado, aconteceram 2.034 acidentes envolvendo motocicletas no estado, contabilizando-se apenas os que foram registrados oficialmente - pelos prejuízos  materiais e pelos danos à integridade física dos condutores. Mais de dois terços das vítimas estão na faixa etária que vai dos 15 aos 34 anos de idade. Os homens são (ainda) os campeões da violência sobre duas rodas no trânsito: 1.788 acidentes envolveram pessoas do sexo masculino, contra 246 mulheres. A maior parte dos casos aconteceu nos domingos: 462 acidentes, seguindo-se o sábado, com 338 acidentes. Sabe-se que no final de semana o tráfego de veículos se reduz, naturalmente, mas os os motoqueiros são ainda mais chamados ao trabalho, para a entrega em domicílio de todo tipo de produto - de remédio a alimentos.

Aconteceu em Maceió o maior número de casos: 1.540 durante o ano de 2008. No interior, embora as estatísticas sejam menos precisas, seguramente Arapiraca lidera o ranking de acidentes com motos - lá existem até as mototáxis, um absurdo concebido em nome da sobrevivência financeira de jovens, na maioria, sem perspectiva de futuro.

No país em que "a saúde pública beira a perfeição", milhares de vidas são ceifadas graças a uma iniciativa de "grande alcance social": o PAM - Programa de Aceleração dos Motoboys. O que parece hoje, com franqueza, um atalho para a morte ou a para a incapacitação ao trabalho.

 



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