Cada Minuto //
Mesmo depois de
uma decisão, tomada no último dia 06/10 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que
proibe a prática de vaquejadas em todo o território nacional, a Associação
Brasileira dos Criadores de Cavalos Quarto de Milhas (ABQM) está
realizando desde hoje, no parque Recuperação, na cidade alagoana de União
dos Palmares, a 1ª Etapa do Circuito Alagoano de Vaquejada. O detalhe
é que o evento, que oferece prêmios de até R$ 40 mil reais, é transmitido ao
vivo na internet pelo site da entidade.http://www.alqm.com.br/
A ação que
proibiu a vaquejada foi movida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e
questionava, especificamente, a legislação cearense. Contudo, a decisão do STF
poderá ser aplicada nos demais estados e no Distrito Federal. O
julgamento, iniciado em agosto do ano passado, terminou com seis votos a favor
da inconstitucionalidade e cinco contra.
Muito comum no
Nordeste, a vaquejada é uma atividade competitiva no qual os vaqueiros tem como
objetivo derrubar o boi puxando o animal pelo rabo.
Votaram a favor
os ministros Marco Aurélio Mello, relator do caso, Roberto Barroso, Rosa
Weber, Celso de Mello, Ricardo Lewandowisk e a presidenta Cármen Lúcia. Ao
apresentar seu voto, que desempatou o julgamento, Cármen Lúcia reconheceu que a
vaquejada faz parte da cultura de alguns estados, mas considerou que a
atividade impõe agressão e sofrimento animais
Proibição na Bahia e no Ceará
Esta semana pelo
menos dois eventos foram cancelados, um no Parque da Boa Vista, na cidade de
Milagres, Ceará, e outro muito tradicional, o desafio Bahia Forte de Vaquejada,
que aconteceria entre os dias 13 e 16 de outubro, no município de Mata de São
João, Bahia.
Na proibição do
evento na Bahia, o juiz Admar Ferreira Souza, provocado pelo ministério
público, determinou uma multa de 135 mil reais, se a vaquejada fosse realizada.
Durante caminhada
realizada na última terça-feira (11/10) pelas ruas de Maceió, vaqueiros de
diversas partes do estado demonstraram a preocupação com a possível declaração
de ilegalidade da atividade e buscam mostrar para sociedade que a visão, tida
sobre a prática do esporte, não reflete a realidade sobre atividade. Já em
INhapi, um grupo de aproximadamente 100 pessoas fechou a rodovia BR-423 em
protesto à decisão do STF.
Em Alagoas, os
deputados da Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) provaram o Projeto de Lei
60/2015, de autoria do deputado Dudu Hollanda (PSD), que reconhece a vaquejada
como atividade esportiva no âmbito do estado.
“Precisamos
mostrar para sociedade que a vaquejada não é o que as pessoas pensam. Hoje
existe todo um regulamento sobre que garante a segurança do animal e regula
toda atividade. Temos que mostrar as pessoas que a prática vem mudando ao longo
dos anos”, disse o presidente Associação dos Vaqueiros do Brasil (AVaq), Cícero
Andrade.
Para a Avaq, a
proibição pode acarretar no desemprego de milhares de pessoas que dependem
direta e indiretamente na atividade. As manifestações, que também ocorrem a
nível nacional hoje, é uma forma de chamar atenção dos membros do STF para a
prática esportiva que tem sua regulamentação e sofreu ao longo dos anos
modificações para acabar com os maus tratos.
Governador e políticos defendem
Vaquejada
Um post do
governador Renan Filho (PMDB) defendendo a preservação da vaquejada como
“patrimônio cultural de Alagoas e do Nordeste”, gerou enorme repercussão no
Facebook e ilustra um pouco das reações apaixonadas despertadas pelo tema.
Já na Assembleia
Legislativa o deputado Dudu Hollanda (PSD) cobrou do presidente da Casa, Luiz
Dantas (PMDB), a promulgação do Projeto de Lei (PL), de sua autoria, reconhecendo
a vaquejada como atividade esportiva no Estado. O parlamentar lembrou que,
aprovada desde setembro do ano passado na Casa, a matéria não foi sancionada
pelo governador Renan Filho (PMDB).
Ele também pediu
agilidade na análise, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, do
PL, também de sua autoria, que torna a vaquejada patrimônio cultural de
Alagoas.
Em aparte,
Francisco Tenório (PMN) apelou para que os ministros do STF revejam a decisão.
“Mexer com a vaquejada é como se tivesse acabando o carnaval no Rio, a escola
de samba, o axé na Bahia”, comparou, destacando que a vaquejada é uma tradição
e faz parte da cultura nordestina.
Tenório também
comparou os acidentes que podem ocorrer nas vaquejadas, quando um boi ou um
cavalo quebra a pata ou o vaqueiro se machuca, com os jogadores de futebol que
quebram a perna durante uma partida.
Também em aparte,
Bruno Toledo (PROS) disse que não pratica vaquejada e criticou o caráter
“preconceituoso” e desrespeitoso em relação à cultura de um povo dos argumentos
de alguns defensores da extinção da atividade.
“É importante a
defesa do animal, mas a vaquejada é mais que atividade econômica, mais que
prática esportiva, é uma questão cultural de uma região do Nordeste que tem a
vaquejada como lazer e meio de vida... Concordo que os animais precisam ser
respeitados... Mas, na vaquejada não há maus-tratos... Há um zelo muito
grande”, defendeu.
Os deputados
Inácio Loiola (PSB) e Edval Gaia (PSDB) também defenderam a importância da
atividade para a cultura, economia, história e lazer da região. “O Nordeste sem
a prática da vaquejada é a mesma coisa que o Rio sem o carnaval e o Brasil em o
futebol”, disse Loiola.