El País //
Daniel Mediavilla
Embora não tenhamos a mínima ideia de física, todos nós já vivemos os
efeitos das quatro forças fundamentais da natureza. A gravidade nos mantém no
solo; a interação nuclear forte é rompida a partir de bombardeios com nêutrons
para produzir energia nas centrais atômicas; a radiação eletromagnética gerada
pelo Sol e as lâmpadas nos ilumina; e a interação nuclear fraca, talvez a mais
esotérica, produz novos elementos e permite, por exemplo, a datação por carbono
14.
Foi com esses antecedentes que, no princípio do ano, começou-se a falar
da possível descoberta de uma quinta força. Muitos tentaram imaginar um
fenômeno parecido que até então tivesse passado despercebido. No entanto, ainda
falta muito para confirmar a descoberta, e os efeitos dessa quinta força não
seriam tão evidentes quanto os das quatro anteriores.
Vários
experimentos no mundo todo poderiam confirmar ou descartar a existência da
quinta força.
Se tiver sucesso e não for refutada por novos dados, a história dessa
revolução começará a ser contada na Hungria. Ali, no Instituto para a Pesquisa
Nuclear da Academia Húngara de Ciências em Debrecen, Attila Krasznahorkay e sua
equipe observaram um fenômeno estranho num equipamento projetado para procurar
“fótons escuros”, um tipo de partícula que ajudaria a entender o que é a
matéria escura. Em sua busca, os cientistas dispararam prótons contra placas de
lítio, gerando núcleos de berílio 8, um elemento instável que, pelo efeito da
força nuclear fraca, se desintegrava produzindo elétrons e pósitrons.
Ao analisar as partículas produzidas pelos choques, os pesquisadores
encontraram uma anomalia que só eram capazes de explicar se existisse uma
partícula ainda desconhecida. Trataria-se de um novo bóson muito leve, apenas
34 vezes mais pesado que um elétron, algo que permitiria sua detecção sem uma
máquina descomunal como o LHC, necessária para gerar bósons pesados
como o higgs. Isso permitiria que muitos grupos do mundo estudassem essa faixa
energética em busca de uma nova partícula, mas também levanta a questão de por
que ela não foi encontrada antes.
O estudo húngaro ganhou relevância internacional quando uma equipe de
físicos teóricos da Universidade da Califórnia em Irvine, liderado por Jonathan
Feng, considerou seus dados e tentou explicar seu significado num recente
artigo publicado na revista Physical Review Letters. Segundo eles, não se trataria de um
fóton escuro, mas de um bóson. O motivo pelo qual não teria sido encontrado até
agora, embora haja aceleradores capazes de gerar partículas dessa massa desde
os anos cinquenta, é que não interagiria com prótons, relacionando-se apenas
com elétrons e fótons de forma fraca. Agora que outros grupos sabem onde
procurar, poderão dedicar seus experimentos à busca de novos dados que
confirmem ou descartem a existência do bóson X.
A nova partícula poderia
servir para elaborar uma teoria unificada para explicar todas as forças
conhecidas.
“Com os experimentos que estão sendo realizados e os que estão a ponto
de começar, a existência dessa partícula poderá ser comprovada ou descartada em
um ou dois anos”, diz Eduard Massó, professor de física teórica na Universidade
Autônoma de Barcelona. Mas a experiência mostra, diz ele, que às vezes há
sinais de física exótica que acabam sendo efeitos dos próprios experimentos que
não são bem interpretados. Sobre a possibilidade real de que o sinal observado
pela equipe húngara seja confirmado como o indício dessa nova força da
natureza, outro físico responde com humor: “Há rumores sobre a existência de um
templo oculto nas profundidades do Himalaia, dedicado unicamente a servir de
mausoléu para as quintas forças defuntas.”
O ceticismo sobre os resultados do grupo húngaro é alimentado também por
dois anúncios prévios que não deram em nada.
Segundo contava à revista Quanta o pesquisador da Universidade do
Estado de Michigan (EUA) Oscar Naviliat Cuncic, cientistas afirmaram ter
descoberto um bóson de 12 megaelétron-volts [unidade de medida de energia] em
2008 e outro de 13,5 em 2012. Ambas as descobertas desapareceram quando novos
detectores obtiveram novos dados.
O que acontecerá se a força for descoberta
Enquanto espera que a comunidade científica confirme se o bóson X é ou
não uma realidade, Massó diz que essa quinta força significaria que, em
princípio, não teria uma influência tão evidente e nossa vida quanto as quatro
já conhecidas. “No âmbito mais entusiasta, encontrar essa partícula que se
acopla de uma forma tão precisa e tão especial às outras partículas
significaria uma revolução. Seria a ponta do iceberg de uma nova física, pois
existe a possibilidade de que a matéria escura tenha interações além das
gravitacionais, que não nos dão muita informação sobre essas partículas”,
afirma. “Muitos experimentos de busca da matéria não deram os resultados
esperados, e é possível que seja algo muito diferente do que havíamos pensado.
Talvez sejam partículas do que às vezes chamamos de um mundo shadow [de sombra] que teria contato com o
nosso através de interações mediadas por essa quinta força, ou seja, uma
espécie de ponte entre nosso mundo e o da matéria escura.”
Mas é também possível que “essa quinta força não tenha consequências
para nossa vida”, diz Massó. Ainda assim, poderia servir para a elaboração de
uma teoria que unifique as quatro grandes forças, algo para o qual Einstein dedicou os últimos anos de sua vida. Nos anos sessenta constatou-se que,
em altas energias, as forças eletromagnética e nuclear fraca poderiam ser
explicadas como uma só, mas os esforços para fazer o mesmo com as demais não
tiveram sucesso. Portanto, talvez esse novo bóson possa servir para realizar o
que o pai da Teoria da Relatividade não conseguiu.