EBC // Elaine
Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
O ácido
acetilsalicílico (AAS), conhecido como aspirina, é utilizado para prevenir o
infarto, a doença vascular periférica ou o acidente vascular cerebral (AVC). No
entanto, o uso constante e diário da aspirina costuma provocar complicações
gastrointestinais nestes pacientes. Mas um estudo desenvolvido por
pesquisadores brasileiros concluiu que tomar aspirina a cada três dias pode ser
tão eficiente quanto na prevenção dessas doenças e também evita as complicações
gastrointestinais causadas pelo uso diário do medicamento.
O estudo foi
coordenado por Gilberto De Nucci, professor da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto de Ciências
Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). “De uns 35 anos para cá, verificou-se
que a aspirina tem um efeito benéfico seja no tratamento do infarto seja como
profilaxia do infarto. O problema de usar aspirina é que ela tem um efeito
colateral importante, causando irritação no estômago. Essa irritação pode não
dar sintomas e o paciente pode apresentar uma hemorragia gástrica”, explicou.
O que se fazia
até então para reduzir esses efeitos colaterais, segundo De Nucci, era reduzir
a dose de aspirina. “Toda a literatura [médica] dos últimos 35 anos procurava
reduzir a dose de aspirina para minimizar o risco da hemorragia gástrica. Mas
demonstramos a segurança desse sistema terapêutico”, disse. “Tem pacientes que
não tomam aspirina, e que deveriam tomar, porque [a aspirina] apresenta risco
de hemorragia muito alto. Mas agora demonstramos que esse esquema terapêutico é
tão benéfico quanto os anteriores com a vantagem demonstrada de não causar
nenhuma irritação”, ressaltou.
O estudo,
desenvolvido por cerca de um ano, teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Biolab Farmacêutica e foi publicado no The
Journal of Clinical Pharmacology.
A pesquisa
O ácido
acetilsalicílico evita que as plaquetas se agrupem e obstruam os vasos
sanguíneos. Por isso é que popularmente se diz que o AAS “afina” o sangue. Por
outro lado, ao mesmo tempo, a aspirina atua na mucosa gástrica, diminuindo a
produção de prostaglandinas – substâncias lipídicas que protegem o estômago e o
intestino.
Durante o estudo
de doutorado de Plinio Minghin Freitas Ferreira, na USP, sob orientação de De
Nucci, 24 voluntários sadios foram divididos em dois grupos. Metade deles
recebeu AAS todos os dias durante um mês. A outra metade recebeu o medicamento
a cada três dias e, no intervalo dos dias, apenas placebo (substância sem
efeito direto em doenças, simulando um medicamento). Neste período, os
voluntários passaram por diversos exames como endoscopia, biópsia gástrica,
teste de agregação plaquetária e medição do nível de prostaglandina, por
exemplo. “Quando fizemos esse estudo, verificamos que, quando tomada a aspirina
de três em três dias a eficácia para prevenir a formação do trombo era a mesma.
Entretanto, a produção de prostaglandina, quando se tomava [a aspirina] todo
dia, havia redução de 50%. Quando tomava de três em três dias, não havia
redução da produção de prostaglandina”, disse o coordenador do estudo.