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Do Macaco a União dos Palmares


Do Macaco a União dos Palmares
Franco é editor do Bolg "A Terra da Liberdade" em União dos Palmares

Segundo o historiador Alves Filho (2008), a chegada dos escravos em nossa região data de finais do século XVI, quando um grupo formado por quarenta, que fugiram de um engenho de açúcar próximo de Porto Calvo, estabeleceu o seu primeiro quilombo na chapada oriental da Serra da Barriga, mais precisamente na região de Palmares, uma imensa floresta que ia da parte superior do Rio São Francisco ao Cabo de Santo Agostinho.

O quilombo Macaco, situado no alto da Serra da Barriga, era a capital.Ganga-Zumba, então o principal dirigente dos quilombos, aí residia. Formado por cerca de 1.500 casas, Macaco era “completamente fortificado” e tido como centro político e administrativo de Palmares. Segundo a tradição, o nome Macaco foi dado em conseqüência da morte no local de um animal de mesmo nome.

O quilombo dos Palmares foi a primeira tentativa de vida livre promovida pelos trabalhadores africanos nas Américas, surgindo por volta de 1580 e durando até 1695, ano em que foi assassinado Zumbi, seu principal líder. Com o seu extermínio, a solução para as terras seria, de fato, a ocupação. Essa seria uma forma de que se tornasse impossível, no futuro, o aparecimento de um novo quilombo. A região palmarina prestou-se a isso pela qualidade do solo, que se provou ser excelente para os mais diversos tipos de cultivo. Segundo Alves Filho (2008), a maior parte das terras coube aos proprietários de engenhos e fazendeiros estabelecidos em áreas próximas.

Apenas algumas parcelas de terreno couberam às forças do bandeirante Domingos Jorge Velho, aos índios aliados das forças coloniais ou ao Terço dos Henriques, tendo em vista que a Coroa alegou que eles não haviam feito a “dita guerra com os seus próprios meios”. A parte que coube a Jorge Velho se transformou no povoado de Atalaia, onde foi erguida a Igreja de Nossa Senhora das Brotas.

Como informado anteriormente, com a morte de Zumbi, o quilombo dos Palmares acabou-se definitivamente. Com isso, segundo Brandão (1914), os negros sobreviventes foram deportados para outras capitanias, onde recomeçaram a sua miserável existência de escravidão. Alguns, no entanto, conseguiram escapar pela fuga, e outros mais tímidos, que durante a luta haviam desertado para as fileiras dos paulistas, foram perdoados e continuaram a viver livremente nos mesmos locais, sob a vigilância dos brancos.

O povoamento dessas terras pelos brancos foi, no entanto, se fazendo muito lentamente. A recordação do quilombo tornou-se durante muitos anos o espantalho dos colonos. Segundo a tradição, algum tempo depois de extinto o quilombo, originou-se um pequeno povoado que, pela lei do menor esforço, recebeu o nome de “Macaco” (mesmo nome do mocambo principal do famoso quilombo), que teve suas primeiras habitações erguidas nas proximidades de um cruzeiro, denominado “Cerca Real dos Macacos”, fincado à margem esquerda do rio Mundaú, nas proximidades do riacho Macacos, em cujas margens havia vasta e fechada mata povoada de símios.

Desbravadas as matas, começou o núcleo a ser povoado e, em pouco tempo, as casas se multiplicaram. De diversos pontos da região começaram a afluir moradores para o pequeno povoado. Esses moradores eram representados pelos descendentes, não somente dos paulistas, mas também dos negros quilombolas e dos índios que tinham vindo com o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho no intuito de exterminar o quilombo dos Palmares.

A lenta ocupação do território palmarino conseguiu mudar a fisionomia da região. Nesta época, segunda metade do século XIX, era comum o governo português doar sesmarias (grandes extensões de terra) para as pessoas interessadas em cultivá-las. Segundo a tradição, um desses privilegiados foi o português Domingos José de Pino, que ganhou do Governo Colonial uma sesmaria que abrangia partes dos atuais municípios de União dos Palmares,

 

Santana do Mundaú e São José da Laje, escolhendo como sede para viver a Fazenda Gorda (atual Fazenda Gordo). Domingos de Pino, tido como o responsável pelo desenvolvimento do povoado, chegou à região em meados do século XVIII, segundo Filho (2005, p. 08), “aproximadamente em 1748” (sem confirmação), e com ele trouxe de Portugal uma imagem de Santa Maria Madalena, do qual era devoto. A imagem da Santa era esculpida em madeira de lei (cedro do Líbano), e como forma de devoção, perto da casa-grande de sua fazenda, que ficava às margens do Rio Mundaú, mandou erguer uma “modesta e tosca capela” e nela entronizou a imagem da Santa.

Na capela, lavrada em estilo colonial e construída para satisfazer as necessidades do culto católico, em especial a celebração de missas pelo Natal e Ano Novo, bem como para o sepultamento das pessoas falecidas, se realizavam ofícios religiosos vez ou outra, em virtude do Pároco ter que vir de Atalaia, vila ao qual o povoado de Macaco era agregado.

 

Segundo Viana (1990), Domingos de Pino fez doação não só de vasta área de terra, mas também da imagem de Santa Maria Madalena aos poucos habitantes do lugar. Esta informação é confirmada por Neto (2005), que, em seu livreto em homenagem aos 170 anos de Paróquia em União dos Palmares, diz o seguinte: “(...) Domingos de Pino (...) mandou construir uma capelinha e buscar em Portugal uma imagem de Santa Maria Madalena, a mesma de hoje, posteriormente doando-a a Igreja da Fazenda do Macaco (...)”.

Porém, essas afirmações são contraditórias, justamente por conta de um registro encontrado no cartório público do município de Atalaia, em que consta uma doação de terras feita à Santa Maria Madalena, com intuito de se construir uma igreja em homenagem à padroeira, no dia 13 de abril de 1810, por parte do casal João Camelo de Amorim e Francisca Correia de Araújo, legítimos possuidores de um quinhão de terra na Fazenda do Macaco. Por curiosidade, as terras doadas pelo casal são as mesmas que até hoje fazem parte do Patrimônio da Paróquia de Santa Maria Madalena.

Com o passar dos anos, os moradores do pequeno povoado passaram, então, a construir o seu casario pobre às margens do rio Mundaú. Com isso, presume-se que a rua do Jatobá, atual Francisco Correia Viana, tenha sido uma das primeiras da cidade, justamente por estar situada às margens do referido rio. Porém, como diz o escritor Povina (1969), a cidade não parou nos logradouros ribeirinhos e alçou-se para outros lugares mais distantes do lendário rio Mundaú.

Como o rio Mundaú vez ou outra transbordava no inverno e invadia a capela construída por Domingos de Pino, os fiéis resolveram aproveitar a doação do casal e construir, não uma capela, mas uma igreja na parte alta do povoado, mais precisamente onde atualmente se encontra a igreja- matriz, sendo esta inaugurada, mesmo que não totalmente concluída, aproximadamente, em 1830.

Como forma de homenagem à Santa Padroeira, o povoado recebeu seu segundo nome: “Santa Maria Madalena”, sendo conhecida popularmente como “Vila de Santa Maria”. Essa, também, seria uma forma de estabelecer definitivamente a religião católica no lugar, que antes, com foi dito anteriormente, tinha sido povoado pelos negros quilombolas.

Como em muitos outros municípios brasileiros, União dos Palmares teve sua origem ligada ao patrimônio religioso, que foi constituído a partir da construção da Igreja Matriz em homenagem a Santa Maria Madalena,

Padroeira do município. Com o passar dos anos, ao redor da Matriz se alinharam várias casas que deram surgimento a uma nova rua que recebeu o nome de ‘Rua de Cima’, justamente por ficar em um lugar mais alto que a outra rua existente.

A transferência da igreja das margens do rio para a parte alta da cidade foi de fundamental importância para a expansão do núcleo urbano do pequeno povoado, em função de ser um local mais plano. A feira local, que antes funcionava em uma área próxima ao rio, também seguiu o percurso da igreja, fazendo com que este lugar passasse a ficar mais valorizado e ocupado por quem possuía renda suficiente para manter-se nesse local. Sua proximidade com a Província de Pernambuco e a tradição que, muitos anos depois de aniquilado o quilombo dos Palmares, sempre houve a respeito da Serra da Barriga como seguro esconderijo de assassinos e malfeitores, constituiu a povoação do local ponto atraente dos criminosos pernambucanos, que para aqui convergiam em busca de refúgio, quando os perseguia a ação da justiça ou a represália e vingança dos parentes ou amigos de suas vítimas.

Esta realidade fez com que o poder público da região reconhecesse a necessidade de elevar a dita povoação à categoria de vila, pela urgência de colocar nela autoridades judiciárias e policiais, além, é claro, dos insistentes apelos dos habitantes do lugarejo. Para os moradores de Santa Maria Madalena, era necessário tornar-se independente politicamente.

Em 13 de outubro de 1831, através de Decreto, o lugar foi elevado à categoria de vila e desmembrado, assim como o povoado de Riacho do Meio (atual Viçosa), da vila de Atalaia. Quando se deu a promulgação do decreto, governava a Província Manoel Lobo de Miranda Henriques, sendo que a instalação foi feita solenemente pelo Ouvidor da Comarca, Manoel Messias de Leão, em 21 de fevereiro de 1833.

O segundo nome não durou por muito tempo. Segundo Cavalcanti (1969, p. 14-15), “apareceram os primeiros políticos e, com eles, as primeiras bajulações. Era preciso dar ao povoado a proteção da Corte”. Os políticos da vila resolveram homenagear a Imperatriz Amélia de Leuchtenberg, consorte de D. Pedro I, passando a vila a chamar-se: “Vila Nova da Imperatriz” ou, simplesmente, “Imperatriz”.

O surto das principais atividades do município conjugado ao prestígio político e religioso, fez com que, em 1889, o então Governador do Estado de Alagoas, Manuel Vítor Fernandes de Barros, elevasse a Vila Nova da Imperatriz à categoria de cidade. A elevação deu-se com a Lei nº 1.113, de 20 de agosto desse mesmo ano.

Pouco mais de um ano depois, em 25 de setembro de 1890, através do Decreto Estadual nº 46, sancionado pelo Governador do Estado, Coronel

 

Pedro Paulino da Fonseca, seu nome passa a ser "União". Tudo indica que esse nome se deve ao fato da cidade unir, através da ferrovia, os Estados de Alagoas e Pernambuco.

Lembrando que inicialmente, quando se deu a mudança do nome do município para União, o ramal ferroviário interligava somente os municípios de União a Maceió. Somente quatro anos depois, em 1894, é que o ramal realizaria a ligação entre os Estados de Alagoas e Pernambuco.

Através do Decreto-Lei Estadual nº 2909, de 30 de dezembro de 1943, sancionado pelo Governador do Estado, Ismar de Góis Monteiro, acrescentou-se Palmares ao nome do município, passando este a se chamar União dos Palmares. Esse acréscimo se deu como forma de homenagem ao quilombo dos Palmares.

REFERÊNCIAS:

ALVES FILHO, Ivan. Memorial dos Palmares. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2008.

BRANDÃO, Alfredo. Viçosa de Alagoas: o município e a Cidade. Recife:

Imprensa Industrial, 1914.

 Viçosa de Alagoas: o município e a Cidade. Recife: Imprensa Industrial, 1914.

CAVALCANTI, Carlos Povina. Vida e Obra de Jorge de Lima. Rio de Janeiro:

Edições Correio da Manhã, 1969.

ESPÍNDOLA, Thomas do Bom-fim. Geografia alagoana ou descrição física,

política e histórica da Província de Alagoas. Maceió: Edições Catavento,

2001.FERREIRA, Franco Maciel de Carvalho; MARQUES, Jucycleide Pantaleão.

Estudo de Segregação Espacial a partir do Bairro Roberto Correia de

Araújo em União dos Palmares, Alagoas. União dos Palmares: UNEAL,

2010.

FERREIRA, Jurandyr Pires. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – XIX Volume. Rio de Janeiro:

1959.

FILHO, Paulo de Castro Sarmento. Palmarinos Ilustres (In Memorian). União

dos Palmares: Série Memórias de Nossa Terra, 2005.

IBGE. União dos Palmares. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso

em: 05 de abril de 2009.

NETO, Sílvio Sarmento. Santa Maria Madalena - Padroeira de União dos

Palmares: 170 anos de Paróquia. União dos Palmares: L & S Comunicações,

2005.

VIANA, Jairo Correia. Santa Maria Madalena: venerada pelos palmarinos,

desde fins do século dezoito. União dos Palmares: Casa de Maria Mariá,

1990.

O Autor:

Franco Maciel de Carvalho Ferreira - Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) - Estudante do curso superior de tecnologia em Gestão de Turismo do Instituto Federal de Alagoas (IFAL

francomaciel@hotmail.com

(Franco Maciel de Carvalho Ferreira)



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