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26/02/2010 00:00:00

Economia


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com agênciaalagoas // jamylle bezerra

Alagoas ainda será destaque na fabricação de cachaça. É com essa convicção que o empresário Francisco Beltrão tem se dedicado à produção da ‘’branquinha’’ tão querida dos brasileiros. E é na Fazenda Moreno, localizada no município de Pindoba, que ele tem colocado em prática o desejo de espalhar ‘’Alagoas’’ pelos quatro cantos do país, por meio dos produtos derivados da cana. Lá funciona o alambique Das Alagoas, que pertence ao empresário e produz, diariamente, 160 litros de cachaça, além de mel de engenho e rapadura.

Em um Estado onde a cultura predominante é a da cana-de-açúcar, não fica difícil saber que a qualidade das aguardentes feitas por aqui não deixa nada a desejar em relação às cachaças fabricadas em Minas Gerais, referência na produção do destilado no Brasil. Os cuidados vão desde a plantação da cana à escolha da embalagem. Tudo feito com a dedicação de quem quer ver o Estado crescer ainda mais.

A ideia de criar o alambique Das Alagoas surgiu por volta do ano 2000, quando Francisco Beltrão decidiu abandonar o ramo da construção civil e se dedicar a outra atividade. ‘’Eu resolvi passar duas semanas em Pindoba, onde tinha uma propriedade, e chegando lá, não arranjei ocupação. Foi quando a ideia de montar um engenho me veio à cabeça’’, diz.

Para fazer o sonho tornar-se real, Francisco visitou cerca de 200 engenhos no Nordeste. Os próximos passos foram fazer a maquete e começar a construir o local onde funcionaria o alambique. Logo no início dos trabalhos de escavação, fragmentos de uma antiga construção foram sendo descobertos e logo veio à tona uma informação que deixou o empresário ainda mais estimulado a concretizar sua ideia. No local, há seis décadas, havia funcionado um engenho. Superstição ou não, parecia que ele estava no caminho certo. E estava mesmo.

Seis anos depois, o sonho estava concretizado e os produtos artesanais Das Alagoas começavam a entrar no mercado. A escolha do nome não poderia ser melhor, tudo a ver com a proposta dos produtos. “Queremos valorizar o que é a cara de Alagoas, como os folguedos e o bordado do Pontal da Barra’’, conta. Para isso, Francisco tem usado e abusado da criatividade.

Por meio do vidro das cachaças, pode-se observar o bordado do Filé e, nas embalagens, um texto fala um pouco sobre a tradicional renda. Recentemente, o empresário adquiriu um ônibus da década de 50, que foi batizado de Guerreira das Alagoas, e onde podem ser encontrados os produtos com a marca Das Alagoas. O veículo fica estacionado nas proximidades da Feirinha da Pajuçara e é atrativo para turistas e nativos.

Produção — O processo de produção da cachaça Das Alagoas é todo artesanal. A cana utilizada é plantada na mesma propriedade onde funciona o alambique e ouve-se apenas um motor funcionar durante todo o processo de fabricação, mais precisamente no momento da moagem da cana. “A cachaça feita artesanalmente é diferente das industrializadas. O engenho foi projetado para não precisar fazer uso de motores, pois eles tiram a essência do produto”, enfatiza.

Para se ter uma ideia, com uma tonelada de cana-de-açúcar são produzidos 80 litros de cachaça. Depois de retirado da cana, o caldo passa pelos mais variados processos. Uma verdadeira volta às aulas de química. Decantação, fermentação, vaporização, condensação e eis que surge o líquido precioso.

Os primeiros 10% da cachaça que saem do alambique são chamados de cachaça de cabeça e são sempre jogados fora por possuírem alto teor alcoólico, inadequado para o consumo. Os 80% seguintes representam o corpo da cachaça. É a parte mais saborosa, que possui o teor ideal de álcool. Os 10% finais são considerados a calda da cachaça e por possuir um teor baixíssimo de álcool, acabam voltando para o tonel onde ocorre o processo de fermentação, sendo reaproveitados na próxima “leva” de cachaça.

Depois de pronta, a bebida é armazenada. Fica em tonéis de inox ou em barris feitos de carvalho europeu, a depender do tipo de cachaça que se pretende obter. No primeiro caso, é a cachaça branca, que fica ideal para ser apreciada após seis meses de armazenamento no inox. No segundo caso, é a cachaça envelhecida, que só fica pronta para a comercialização e apreciação, no mínino, um ano depois de armazenada.
Enquanto permanece dentro do barril de carvalho, a cachaça vai pegando as características da madeira, como cor e sabor, que deixam a bebida com um gostinho ainda mais especial.

O engenho possui quatro funcionários fixos que se revezam em todas as funções e fazem desde a moagem da cana até o trabalho final de embalagem. São eles também os responsáveis pela fabricação da rapadura e do mel Das Alagoas. Só de rapadura, o engenho fabrica 5 mil unidades de 20 gramas diariamente, produção que pode chegar ao dobro, se necessário.

Segundo Francisco, a maior dificuldade sentida atualmente pelos produtores de cachaça do Estado está na comercialização dos produtos, na entrada deles no mercado interno. Um dos entraves é o preconceito com a produção local. “Infelizmente ainda existe um preconceito com a cachaça que não vem de Minas. Os alagoanos precisam conhecer a qualidade dos produtos da terra e perceber que não deixamos nada a desejar”, destaca.

Engenho movimenta a região

Francisco conta com satisfação como a instalação do engenho conseguiu transformar a vida de pessoas que vivem na região. Enquanto a cachaça ou os outros produtos Das Alagoas estão sendo fabricados, o local vira um verdadeiro ponto de encontro. “Por aqui eles falam dos mais variados assuntos. Tem dias que fica cheio de gente que vem para bater papo com o pessoal. Uma pequena indústria dessas tem o poder de transformar vidas”, afirma.

Mas a prova de que o engenho realmente conseguiu mexer com a vida das pessoas de Pindoba já havia sido notada pela equipe de reportagem. A caminho do alambique, um senhor pegou carona no carro de reportagem e fez questão de recitar um verso feito em homenagem à fabricação de produtos derivados da cana na cidade.

“Lá na Fazenda Moreno hoje tem o que se vê, um engenho artesanal que é difícil de ver fabricando rapadura e cachaça de cana pura para todo mundo beber”, recitou sem titubear Expedito dos Santos, que foi criado na região.

 

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