CRÉDITO, AFP
A proporção de baixas de oficiais de alto escalão é impressionante, mas o Exército russo tem um número muito grande de oficiais superiores — cerca de 1,3 mil com patente de general no total, embora muitos desses não estejam presentes no campo de batalha.
Mas alguns deles não tiveram essa sorte — e um número significativo de generais acabou presente no lugar errado na hora errada.
Isso pode acontecer porque oficiais russos de alta patente realizam tarefas e tomam decisões que geralmente cabem a oficiais de baixo escalão em outros exércitos, o que faz com que muitos deles estejam próximos da linha de frente.
Autoridades dos EUA e Europa dizem que o baixo moral entre as tropas russas forçou o Exército a colocar oficiais mais graduados em ação.
A falta de equipamentos de comunicação também foi responsabilizada por contribuir para o perigo que esses militares enfrentam, supostamente os forçando a usar telefones tradicionais que comprometem a segurança operacional.
Relatos da imprensa dos EUA dizem que os oficiais de inteligência militar ucranianos estão deliberadamente atacando esses oficiais da Rússia com franco-atiradores e artilharia, e que os EUA forneceram inteligência à Ucrânia sobre seu paradeiro.
Legenda da foto,
As baixas militares russas são tratadas como segredos de Estado, mas os muitos funerais desde o início do conflito são sinais de que existe um número grande de mortos
Mas tudo isso seria puramente teórico para Botashev se ele tivesse seguido aposentado. Então, por que ele se encontrou no campo de batalha novamente?
A carreira de Botashev não foi direta: em 2012 ele foi demitido do Exército depois de bater um avião que não deveria estar pilotando.
Ele havia assumido o controle da "joia da coroa" da tecnologia militar russa: um sofisticado caça Su-27.
Nas forças armadas russas, a autorização para pilotar um determinado tipo de jato é obtida depois de muitas horas de treinamento especial.
Botashev não estava autorizado a pilotar o Su-27, mas de alguma forma conseguiu acesso a ele. Ele perdeu o controle da aeronave no meio do voo, mas ele e um colega conseguiram se ejetar. Ele sobreviveu à 'desventura', mas sabia que teria de pagar um preço por isso.
Não foi a primeira vez que ele pegara uma aeronave que não deveria estar pilotando — o que serviu de agravante.
Em 2011, ele havia entrado na cabine de um Su-34, outro jato russo avançado para o qual não tinha licença e o levou para um passeio ilegal.
Pagando dívidas
Em 2012, um tribunal decidiu que Botashev tinha que pagar uma multa de cerca de US$ 75 mil (R$ 380 mil) pelos danos do acidente, apesar de o avião valer milhões de dólares. Quando morreu no mês passado, ele ainda devia mais da metade desse valor, de acordo com um banco de dados estadual de código aberto.
Botashev foi demitido de seu cargo e passou a trabalhar para a DOSAAF, uma organização estadual de voluntários, que remonta à década de 1950, e que tem ligações com o Exército e a Marinha russos.
Sua pensão do Exército era de cerca de US$ 360 (R$ 1800) e seu salário não deveria ser muito mais do que isso.
Com essa renda, ele tentava pagar a quantia significativa que devia ao Estado russo, e foi dito que, no momento de sua morte, Botashev estava trabalhando para uma empresa militar privada.
As autoridades russas negam que essas empresas privadas tenham qualquer ligação com o Estado russo.