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14/01/2022 02:00:00

O que esperar do Brasil em seu novo mandato no Conselho de Segurança da ONU?


O que esperar do Brasil em seu novo mandato no Conselho de Segurança da ONU?
O Brasil está de volta ao Conselho de Segurança da ONU após 11 anos. Mas o que isso significa para o país? Como deverá ser a atuação do Itamaraty? O que o governo Bolsonaro pode fazer para melhorar sua imagem internacional? A Sputnik Brasil conversou com especialistas no assunto.
 
Uma década separa dois Brasis distintos. Se no início do governo de Dilma Rousseff a busca era pela defesa dos interesses comuns de nações em desenvolvimento e pela resolução de conflitos, hoje o país é visto como antiglobalista e alheio a causas dos emergentes.
 
Depois de deixar o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) ao final de 2011, o Brasil voltou ao órgão no início deste ano como membro rotativo, para o biênio 2022-2023, sob muitas dúvidas quanto à sua futura atuação.
 
Em seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro coleciona polêmicas internacionais, não apenas sobre temas ligados à pandemia e ao meio ambiente, mas devido ao alinhamento político, religioso e ideológico a países comandados por governos conservadores.
 
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, por exemplo, foi o pivô dos embates com a China, intensificados após a disseminação do coronavírus. Com insinuações sobre suposta espionagem chinesa a partir da tecnologia 5G e sobre a responsabilidade dos asiáticos na pandemia, o ex-chanceler desgastou a imagem do Brasil com um de seus principais parceiros comerciais e provocou atrasos na chegada de insumos para vacinas contra a COVID-19.
 
O afastamento do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a estreita aliança com Israel e os embates frequentes com antigos parceiros sul-americanos, como a Venezuela e a Argentina, escancaram a mudança de rota no cenário internacional com relação à postura de governos petistas.
Até que ponto este giro geopolítico vai impactar as decisões e as reações ao país no Conselho de Segurança é o maior mistério que especialistas tentam desvendar neste retorno ao órgão.
Além do Brasil, em sua 11ª participação - feito apenas igualado pelo Japão -, Emirados Árabes Unidos, Albânia, Gana e Gabão também passaram a integrar o conselho como membros não permanentes para o próximo biênio.
Os países foram os escolhidos em votação durante a 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 11 de junho de 2021, substituindo Vietnã, Níger, Tunísia, Estônia e São Vicente e Granadinas. O Brasil obteve 181 votos de 190 possíveis.
 
Índia, México, Noruega, Irlanda e Quênia permanecem em seus cargos, eleitos como membros rotativos para 2021-2022. Os cinco países membros permanentes do órgão são Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, França e China.
Gana e Gabão já foram membros não permanentes três vezes cada, enquanto os Emirados Árabes Unidos ingressarão no órgão pela segunda vez. A Albânia é a única estreante.
Segundo o Itamaraty, agora comandado por Carlos França, o Brasil se empenhará para "traduzir em contribuições tangíveis a defesa da paz e a solução pacífica de controvérsias, entre outros princípios inscritos na Constituição de 1988 e na Carta das Nações Unidas".
 
O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, durante reunião no Palácio do Itamaraty,  5 de novmebro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 12.01.2022
O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto Franco França, durante reunião no Palácio do Itamaraty, 5 de novembro de 2021. 
Para a professora Isabela Gama, especialista em segurança e teoria das relações internacionais e pesquisadora pós-doutoranda da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), a postura brasileira no conselho não deverá ser pautada por alianças.
 
"A verdade é que este é um governo bastante instável na área internacional na minha perspectiva. Não conseguiu alinhamentos muito favoráveis até então. E dentro do Conselho de Segurança, não vejo alianças muito fortes", avaliou Gama, em entrevista à Sputnik Brasil.
Segundo ela, a política externa do início da década passada era mais fácil de se decifrar. A professora afirma que veríamos o país mais próximo a Rússia, China, Gana e Gabão, por exemplo, nos governos do PT.
 

"Estávamos mais alinhados ao Sul global [conjunto de países em desenvolvimento do Hemisfério Sul] e preocupados com o BRICS. Nesse momento, o Itamaraty está sempre correndo para apagar incêndio dos Bolsonaros", afirmou a especialista em segurança.

Devido ao histórico recente, Gama não acredita que os membros permanentes tenham "grande interesse" em se aproximar do Brasil no órgão. Porém, ela aponta que este é um momento importante para o Itamaraty começar a recuperar a imagem internacional do país.
 
Segundo a professora, o ministério poderá "mostrar que talvez não tenhamos só políticas de governo, mas de Estado". Por isso, a especialista avalia que o chanceler deverá, de fato, fugir de questões delicadas e ideológicas e buscar levantar debates sobre a manutenção da paz.
 

"Acredito fortemente que o Brasil vai investir em se engajar mais em operações de paz sancionadas pela ONU. Temos centros de treinamentos para operação de paz referências no mundo inteiro. Isso demonstraria uma boa vontade no âmbito das normas do multilateralismo sem tocar em assuntos muito delicados", explicou Gama.

br.sputniknews.com



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