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Geral
17/12/2021 18:00:00

Doria diz que SP está em estado de atenção para aumento de casos de gripe: 'ainda não é preocupação'

Governador afirma que, por ora, não foi confirmada epidemia da doença no estado. Hospitais da cidade de São Paulo já registram aumento repentino de pacientes.


Doria diz que SP está em estado de atenção para aumento de casos de gripe: 'ainda não é preocupação'

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nesta quinta-feira (16) que o estado está em alerta para o aumento de casos de gripe. Questionado pelo g1 se já é possível considerar uma epidemia da doença, Doria afirmou não ser ainda o caso.

"Estamos no estágio de atenção. Atenção vem antes de preocupação", disse o governador durante evento de lançamento de sua equipe econômica para as eleições presidenciais de 2022.

Doria também voltou a criticar o Ministério da Saúde pela demora em solicitar ao Instituto Butantan as doses da vacina contra a gripe para a campanha de vacinação do ano que vem.

"É um gesto de profunda irresponsabilidade, dado o fato de já termos uma epidemia no Rio de Janeiro, o Ministério da Saúde simplesmente silencia em relação a isso. Nós é que socorremos o Rio", afirmou.

Mais cedo, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que o instituto também ofereceu 3 milhões de doses remanescentes da vacina da gripe da última campanha ao Ministério da Saúde, por conta do aumento de casos da doença em diversas cidades do país, mas não obteve resposta.

O g1 entrou em contato com o Ministério da Saúde e aguarda retorno.

Lotação

Hospitais públicos e privados da cidade de São Paulo têm registrado aumento no fluxo de pessoas com sintomas gripais nas últimas semanas, o que tem provocado filas e maior tempo de espera por atendimento. Em prontos-socorros municipais, pacientes afirmam que a espera pode chegar a 6 horas.

Além dos vírus Influenza A e B, que provocam a gripe, a circulação de outros vírus também pode estar por trás do crescimento repentino de um "conjunto de doenças respiratórias", segundo os médicos.

"Nós estamos tendo um aumento no número de casos de doenças causadas por vários tipos de vírus diferentes, e também por algumas bactérias. É esse conjunto de doenças que está aumentando nessa época do ano, o que é absolutamente atípico, porque a sazonalidade dessas doenças é no outono e inverno", disse o superintendente médico do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, Antônio Carlos Madeira.

O pronto-socorro da unidade infantil, localizada na Bela Vista, região central, teve um aumento de 175% nos atendimentos por doenças respiratórias em dezembro deste ano, na comparação com dezembro de 2020. Foram 1.383 atendimentos neste mês, contra 502 atendimentos em dezembro do ano passado.

A situação se repete em unidades particulares, como o Hospital Beneficência Portuguesa, no Centro da capital. Em geral, 10% dos atendimentos no local são de pessoas com queixas de quadros respiratórios. Na última semana, o número subiu pra 16%. Para o infectologista chefe do hospital, João Prats, a situação tem relação com a circulação de um conjunto de vírus e bactérias.

"Nós vimos um aumento no número de atendimentos pra síndrome respiratória aguda grave. Isso é aquela síndrome que envolve vários vírus, alguns quadros bacterianos. Então é uma pessoa que está com febre, sintomas gripais, e que precisa de oxigênio", disse Prats.

Nesta quarta-feira (14), o estado de SP apresenta forte tendência de crescimento a longo prazo nos casos graves de doenças respiratórias, segundo o Infogripe, sistema da Fiocruz que monitora em todo o país os casos graves de doenças respiratórias.

Em nota, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) confirmou que verificou um fluxo maior de pacientes com sintomas de gripe nos hospitais nas últimas semanas.

“O SindHosp tem observado, de forma pontual, um fluxo maior de pacientes com sintomatologia gripal nos prontos-socorros dos hospitais privados. No entanto, este movimento n?o traduz, necessariamente, uma tendência, e deverá ainda ser acompanhado”, afirma o sindicato.

Filas em hospitais públicos

 

Fila de pacientes em posto de saúde em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, nesta segunda-feira (13) — Foto: Arquivo pessoal

Na rede pública, o aumento no fluxo de pacientes com sintomas respiratórios já provocou um crescimento no tempo de espera para atendimento. Na noite de terça (14), moradores de Cidade Tiradentes, na Zona Leste da capital, tiveram que esperar até 6 horas para ver um médico no Pronto Atendimento Gloria, segundo líderes comunitários da região.

Segundo a prefeitura, o Pronto Atendimento Municipal (PA) Glória Rodrigues dos Santos Bonfim registrou uma demanda atípica na terça-feira (14).

"Foram realizados 1.004 atendimentos ontem, sendo 434 com queixas respiratórias. A média diária é de 400", disse a secretaria municipal.

A pedagoga Laissa Mayara Feliz estava entre as pacientes que ficou na fila no pronto-socorro.

"O médico disse que tem um surto de gripe na região, que as pessoas e as crianças estão chegando muito gripadas", disse.

Em Paraisópolis, na Zona Sul, o cenário ocorre desde a última quinta (9). Segundo Gilson Rodrigues, líder comunitário e presidente do G10Favelas, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) locais têm atendido uma média de 600 pessoas por dia, levando a uma espera de até duas horas por atendimento.

Atendimentos em hospitais privados

Diversos hospitais privados da capital paulista confirmaram um crescimento nos atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios.

Na Rede São Camilo, que atendia, em média, 210 pacientes respiratórios por dia, o número saltou para uma média de 335 pacientes diários em dezembro, ou seja, um aumento de 59% em relação a novembro.

O Hospital Santa Catarina, na Bela Vista, região central, também registrou um aumento repentino nos casos de pacientes com sintomas de gripe desde o início de dezembro até hoje.

"Em relação aos casos confirmados, o HSC evoluiu de novembro para dezembro, em média, de 0 para 5 casos positivos, sendo que, a partir de 9 de dezembro, a mediana subiu para 17,5 casos diários", destacou.

No Hospital Albert Einstein, localizado no Morumbi, Zona Oeste da capital, houve um aumento expressivo nos casos positivos para o vírus Influenza A.

Na primeira quinzena de novembro, o local não teve nenhum caso confirmado deste vírus. Mas, na segunda metade do mês, o número pulou para 63 casos e, nos primeiros 15 dias de dezembro, foram 1.472 casos de Influenza A no hospital.

O aumento também ocorreu para o vírus Influenza B, que também provoca gripe. Foram 2 casos na primeira quinzena de novembro, 8 casos na segunda, e 70 na primeira metade de dezembro.

Dados preliminares

Dados oficiais do monitoramento ainda não apontaram aumento de casos graves provocados pelos vírus Influenza A e B no estado de São Paulo. O coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes, alerta que isso pode ocorrer por conta do atraso no resultado de análises laboratoriais, que determinam qual o vírus por trás de cada caso, e também devido aos ataques de hackers que afetaram os sistemas do Ministério da Saúde nos últimos dias.

Até o último dia 6 de dezembro, foram verificados 229 casos de pessoas hospitalizadas ou mortas por conta de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) provocada pelos vírus Influenza A e B no estado de São Paulo, segundo o Infogripe. Em 2020, foram 463 casos ao longo de todo o ano. O levantamento considera pacientes que tiveram tosse ou dor de garganta e algum sinal de desconforto respiratório.

Enfermeira aplica vacina contra a gripe em criança no início da campanha 2021 em São Paulo — Foto: Danilo M Yoshioka/Futura Press/Estadão Conteúdo

Enfermeira aplica vacina contra a gripe em criança no início da campanha 2021 em São Paulo — Foto: Danilo M Yoshioka/Futura Press/Estadão Conteúdo

Os dados específicos para gripe da Fiocruz, que desconsideram os casos de coronavírus, ainda não mostraram aumento no estado de São Paulo nas últimas semanas. No entanto, para o pesquisador do Infogripe, o efeito nesses dados deve ocorrer em breve.

Segundo Marcelo Gomes, coordenador do Infogripe, o grande fluxo de pessoas entre as capitais do Sudeste, além da baixa cobertura da vacina da gripe, fazem com que São Paulo seja um “terreno fértil” para a epidemia da doença.

Até o início de dezembro, somente 55,5% do público alvo da campanha de vacinação contra a gripe havia se vacinado em São Paulo. A meta do governo era 90%.

“Não tem jeito: se estoura no Rio, vai estourar em São Paulo, porque tem um fluxo muito grande entre as duas cidades. Vai acabar chegando, mesmo que a gente não tenha os dados mostrando essa chegada da gripe ainda, é inevitável”, afirma o pesquisador da Fiocruz.

“Ainda mais num cenário em que o terreno é mais fértil porque há um relaxamento do uso de máscara, e a cobertura vacinal da gripe é baixa, então o terreno é muito propicio”, completou.

G1

 

 



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