Para analisar o consumo alimentar aos 7, 10 e 13 anos de idade, os participantes registravam em diários tudo o que consumiam em um período de 24 horas durante três dias não consecutivos, incluindo alimentos e bebidas, quantidade consumida e local da refeição. Os dados foram categorizados segundo a classificação NOVA, que descreve os alimentos, não mais pelo conteúdo de nutrientes, mas por quatro agrupamentos que avaliam o grau de processamento industrial. De acordo com a pesquisadora Daniela Neri, que foi uma das responsáveis por essa análise, a classificação divide os alimentos com base na extensão e no propósito do processamento industrial em que os alimentos foram submetidos antes da aquisição das famílias dos indivíduos.
No primeiro grupo estão os alimentos in natura ou minimamente processados, que incluem carne, leite, ovos, grãos e uma gama de alimentos de origem animal ou vegetal que, antes de chegar em nossas mesas, podem ter sido embalados, resfriados e/ou congelados, mas não sofreram adição de ingredientes, nem alterações significantes. O segundo grupo é de ingredientes culinários, que são azeites, óleos, sal e outros produtos extraídos do grupo anterior para temperar e tornar os alimentos atrativos ao paladar. Já o grupo três abrange os alimentos processados, como conservas de legumes ou de pescado e frutas em caldas. A grande diferença está no quarto grupo, dos ultraprocessados, que caracterizam alimentos que, na realidade, nada ou quase nada têm de alimentos de verdade, como os sucos em pó – que nunca foram frutas. É como aquilo que entendemos por “comida de astronauta”, mas que, segundo a pesquisadora, são uma mistura de gorduras não saudáveis, amido, açúcar e sal, acrescidas de corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos, que dão aparência de comida e não estão restritos aos homens e mulheres no espaço há muito tempo. “Hoje são embaladas de uma maneira muito atraente e promovidas por estratégias de marketing muito sofisticadas e super apelativas, especialmente para crianças, o que pode explicar o consumo exagerado”, completa.