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17/10/2020 20:00:00

Bombardeio em área residencial deixa 13 mortos na 2ª maior cidade do Azerbaijão


Bombardeio em área residencial deixa 13 mortos na 2ª maior cidade do Azerbaijão

O governo do Azerbaijão informou neste sábado (17) que 13 civis foram mortos e mais de 50 ficaram feridos na cidade de Ganja, a segunda maior do país, em um bombardeio atribuído à Armênia. Segundo o Azerbaijão, dois projéteis atingiram edifícios residenciais. Já o governo da Armênia acusa o Azerbaijão de bombardeios contínuos no país.

Essa troca de acusações ocorre em meio à violação a uma trégua mediada pela Rússia, que já durava uma semana, mas que não conseguiu deter os piores combates no sul do Cáucaso desde os anos 1990.

Jornalistas da agência de notícias AFP flagraram um prédio destruído em Ganja pelo míssil. Por volta das 3h, vizinhos fugiam da área aos prantos, alguns de pijama.

 "Estávamos dormindo. As crianças estavam vendo TV", contou Rubaba Zhafarova, de 65 anos, em frente à sua residência, destruída. "Todas as casas dos arredores foram destruídas. Muita gente está sob escombros. Alguns estão mortos."

O presidente azeri, Ilham Aliyev, acusou a Armênia de cometer um crime de guerra ao bombardear Ganja. "Se a comunidade internacional não punir a Armênia, nós o faremos", disse ele.

Aliyev afirmou ainda que o exército azeri assumiu completamente o controle de duas regiões antes controladas por separatistas, Fizuli e Jabrail. "Estamos dominando o campo de batalha", disse ele, acrescentando que as forças armadas azeris nunca tiveram como alvo assentamentos civis.

O Ministério da Defesa da Armênia nega os bombardeios e acusa o Azerbaijão de continuar a bombardear áreas povoadas no território de Nagorno-Karabakh, incluindo Stepanakert, a maior cidade da região. Esse território é povoado e governado por armênios e tem sido alvo de disputa pelos dois países (leia mais abaixo).

Dezenas de socorristas trabalhavam em Ganja em busca de sobreviventes. Segundo moradores, mais de 20 pessoas viviam na área atingida. Um vizinho disse ter visto um menino, duas mulheres e quatro homens serem retirados dos escombros.

Soldados vasculham área bombardeada na cidade de Ganja neste sábado (17) — Foto: Umit Bektas/Reuters

Soldados vasculham área bombardeada na cidade de Ganja neste sábado (17) — Foto: Umit Bektas/Reuters

O gabinete da Procuradoria-Geral do Azerbaijão disse que o bombardeio na área residencial em Ganja por ataques de mísseis atingiu cerca de 20 prédios de apartamentos. A Armênia negou a acusação.

"Há dias que vivemos com medo. Estamos sofrendo muito. Preferíamos morrer. Eu gostaria que estivéssemos mortos, mas nossos filhos sobreviveriam", disse a moradora de Ganja Emina Aliyeva, de 58 anos.

Uma autoridade do Azerbaijão afirmou que um segundo míssil atingiu uma área industrial de Ganja ao mesmo tempo, mas não deu detalhes. A cidade, de mais de 300 mil habitantes, foi atingida no último domingo por outro míssil, que deixou 10 mortos.

Jornalistas da AFP em Mingecevir, quarta maior cidade do país, localizada a cerca de uma hora de Ganja, afirmaram terem ouvido uma explosão que fez os imóveis tremerem por volta do mesmo horário. A cidade é protegida por uma represa com um sistema antimísseis. Não há se sabe ainda se os mísseis foram destruídos em pleno voo ou se atingiram a cidade.

O governo do Azerbaijão informou que uma linha de eletricidade que vai do país à vizinha Geórgia foi danificada pelo bombardeio na cidade de Mingachevir.

Armênia fala em 'tentativa de genocício'

O Ministério das Relações Exteriores da Armênia informou que três civis ficaram feridos após ataque no território de Nagorno-Karabakh. Um cinegrafista da Reuters em Stepanakert disse ter ouvido várias explosões na noite de sexta-feira e nas primeiras horas da manhã deste sábado.

“Acordamos às 4 da manhã com uma explosão horrível. Ficamos com medo, mas nos acostumamos", disse à Reuters Lika Zakaryan, 26 anos, moradora de Stepanakert.

A Armênia também informou que vários drones azeris sobrevoaram assentamentos na Armênia, atacaram instalações militares e danificaram instalacões.

O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, chamou os ataques de "uma tentativa de genocídio do povo armênio". "Devemos nos defender, como qualquer nação ameaçada de extermínio".

Confrontos em Nagorno-Karabakh

O bombardeio deste sábado é mais um episódio de violência após a escalada de tensão entre os dois países por causa da disputa pelo território de Nagorno-Karabakh, uma região separatista que fica no Azerbaijão, mas é de maioria étnica armênia. As duas nações estão em conflito desde o fim de setembro por causa da região, apesar do cessar-fogo que entrou em vigor no dia 10 de outubro.

Na quarta-feira (14), o Azerbaijão acusou a Armênia de tentar atacar seus oleodutos e gasodutos, alertando para uma reação "severa". No último domingo (11), fontes oficiais do Azerbaijão acusaram a Armênia de bombardear Stepanakert, capital regional de Nagorno-Karabakh. No mesmo dia, ao menos sete pessoas morreram e 33 ficaram feridas em bombardeios em Ganja.

A região de Nagorno-Karabakh tem 140 mil habitantes, e 99% deles são armênios. Os combates entre separatistas e azeris começaram em 27 de setembro e, desde então, de acordo com contagens oficiais, o conflito já deixou mais de 300 mortos.

A região declarou independência do Azerbaijão pouco antes da queda da União Soviética. Esse movimento deflagrou uma guerra que causou 30 mil mortes e centenas de milhares de refugiados de ambos os lados na década de 1990.

Desde então, o governo do Azerbaijão acusa a Armênia de ocupar seu território e os confrontos armados são recorrentes.

Os confrontos atuais são os mais sérios desde 1994. Após quase 30 anos de impasse diplomático, o presidente do Azerbaijão, Ilham Alyev, prometeu retomar o controle deste território, inclusive à força, se necessário.

Os países se acusam mutuamente pelos conflitos deste ano, que já causaram mais de 600 mortes.

A Armênia é um país de maioria cristã, enquanto o Azerbaijão é majoritariamente muçulmano. Décadas de negociações, mediadas por potências estrangeiras, nunca alcançaram um tratado de paz.

Mas o conflito vai além da questão religiosa, ganhando contornos geopolíticos. A Turquia, que tem laços próximos com o Azerbaijão, disse que está “totalmente pronta” para ajudar seu aliado a recuperar o controle de Nagorno-Karabakh.

A Turquia, que tem sido criticada pelos aliados da Otan por sua postura no conflito, reiterou seu apoio ao Azerbaijão. O ministro das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, disse que a Turquia "sempre estará do lado do Azerbaijão".

O governo turco acusa a Armênia de ocupar ilegalmente o território azeri. Por outro lado, a Armênia afirma que a Turquia encorajou o Azerbaijão a buscar uma solução militar para o conflito, colocando os civis armênios em perigo.

A Rússia, por sua vez, tem relações estáveis com ambos, mas é um importante aliado da Armênia e mantém uma base militar ali.

Mapa República de Nagorno-Karabakh  — Foto: Alexandre Mauro/G1

Mapa República de Nagorno-Karabakh — Foto: Alexandre Mauro/G1

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