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Economia
05/10/2020 05:00:00

Preço dos alimentos sobe mais que a inflação

Consumidores sentem no bolso na hora de comprar itens básicos


Preço dos alimentos sobe mais que a inflação

s estatísticas de inflação não têm feito muito sentido para o brasileiro que vai ao supermercado. Os índices de preços vêm se mantendo em patamares historicamente baixos desde 2017, mas a sensação dos consumidores é que se deixa cada vez mais dinheiro no caixa do supermercado quando faz compras.

Em Maceió, os consumidores reclamam da alta dos preços do arroz, feijão, soja, carne, leite e seus derivados e contam como estão fazendo para driblar essa má fase. A empresária Gessilane Cavalcante tem sentido no bolso quando vai ao supermercado. Ela contou que o valor que levava para comprar mercadorias para o seu restaurante na parte alta da cidade dava para trabalhar cerca de 15 dias, hoje, mal dá para uma semana.

“Tive que aumentar o valor do almoço no self service, porque do contrário era só trocar dinheiro, ou faríamos isso ou fechávamos as portas. O prejuízo está grande, esse foi o meio encontrado para amenizar a situação”, frisou. “Mas a culpa dessa alta no preço de ‘tudo’ é nossa mesmo, porque não sabemos escolher nossos representantes, isso não falo somente a respeito do presidente Bolsonaro, mas de uma forma geral. Esse auxílio emergencial quem está pagando no final das contas são os próprios brasileiros”, desabafou.

Óleo, arroz, carne e leite foram os itens da cesta básica mais sentidos no bolso dos consumidores na capital alagoana. Eles disseram que o arroz que era vendido em média a R$ 2,50 nas redes: atacadista e varejo, hoje chega a quase R$ 5 nas prateleiras; o óleo nem se fala, antes a cerca de R$ 3,25, hoje se encontra de até R$ 9,90, sendo limitado a cinco garrafas por cliente.

A caixinha de leite também encareceu, antes era no máximo R$ 3,50 e agora está R$ 5,50. A carne que antes era em média R$ 16, hoje custa para o consumidor R$ 26, o quilo. O feijão que era vendido em média a R$ 3,80, atualmente é encontrado por R$ 8 ou mais.

Maria Porciúncula está mais cautelosa e indo bem rápido ao supermercado apenas para comprar produtos de higiene. Por conta da pandemia, ela se organizou e fez um bom estoque de alimentos em sua despensa, mas diz que ao invés do leite está tomando chá pelo alto valor do produto no momento.

Helder Araújo optou por comprar quentinha diariamente e se diz satisfeito com a economia em relação aos itens principais da cesta básica. “Antes eu fazia a feira mensal, mas no final das contas para mim saia bem mais caro, hoje, além da comodidade de comprar pratos já prontos e variados, sinto no bolso que está valendo a pena. Então, o custo-benefício acaba atraindo para almoçar fora de casa”, mencionou.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados divulgados no início deste mês, mostraram que o arroz ficou quase 20% mais caro desde o início do ano, que o preço do feijão mulatinho subiu 32,6%, da abobrinha, 46,8%, e da cebola, 50,4%.

O economista Rômulo Sales explicou em detalhes que a elevação do preço do arroz não tem nada a ver com o aumento do consumo em função dos auxílios emergenciais, por exemplo, tendo em vista que, segundo ele, se assim o fosse, poderia supor que a população consumiu mais manga, cebola e abobrinha do que arroz, feijão e óleo.

“A alta nos preços dos alimentos pode ser explicada em função de fatores como safras, condições climáticas, sazonalidades, desvalorização cambial, entre outros. Neste ano, a nossa moeda desvalorizou cerca de 30% frente ao dólar; segundo entrevista do presidente do Banco Central, o Brasil foi o país que mais perdeu com a desvalorização da sua moeda”, observou.

Rômulo Sales disse também que o que aconteceu com o preço do arroz, feijão, óleo, entre outros, foi o mesmo que aconteceu com os demais alimentos. “Dentre todos os itens que compõem o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) o que mais apresenta uma alta acumulada no ano, isto é, de janeiro a agosto de 2020, é a manga, com uma alta de 61,63%, seguido da cebola, 50,40% e abobrinha, 46,87%. O arroz aparece em 18ª posição com uma alta de 19,25%. Faço essa ponderação para ajudar a explicar o que está acontecendo”, destacou.

Não há risco de inflação persistente, pois há recessão

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que afere a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos, teve uma elevação de 0,24%. E que seu acumulado em 12 meses é de 2,44%, abaixo do piso da meta oficial do governo, 2,50%.

“Mesmo com a elevação no componente alimento, não há risco de termos uma inflação persistente, dado que estamos em recessão econômica. O PIB caiu no 2º trimestre 9,7% e o consumo das famílias, 12,5% de redução, além do desemprego ainda elevado – com taxa de 13,3% e renda das famílias também em trajetória de queda. Não há como termos inflação de demanda diante desse cenário econômico”, pontuou o  economista Rômulo Sales  à Tribuna Independente.

Sales salientou também que o IPCA que capta a evolução dos preços de produtos do agronegócio e da indústria no setor de atacado, apresenta uma variação acumulada no ano – de janeiro a agosto – de 13,43%. E que no ano de 2019 fechou com uma alta de 9%.

“Então é plausível supor que está havendo um repasse do custo dessa desvalorização cambial para o preço dos alimentos. Nossa matriz industrial, as peças, os equipamentos, os insumos, os fertilizantes e defensivos agrícolas sofrem com essa pressão de custos e em algum momento nós consumidores sentiríamos o peso no bolso”, observou.

“Ademais, sendo mais específico no caso do arroz, houve um aumento do preço da commodity no mercado internacional por causa da retomada da demanda por alimentos nesse momento de “quase-pós-pandemia”. Logo, vender para o mercado externo é duplamente mais vantajoso: moeda desvalorizada e preço elevado”, avaliou.

Na visão do economista, o que o governo poderia fazer, além de sugerir a substituição do arroz por macarrão – lembrando que macarrão é farinha, farinha é trigo e trigo é dólar – era manter estoques controladores, para nesse momento e aumentar a oferta desse produto no mercado forçando uma redução no preço, entretanto dados da Conab – Companhia Nacional de Abastecimento mostram abandono dessa política reguladora de estoque e preços mínimos.

Exportação pesa no prato do brasileiro

A exportação atraente para os produtores de arroz, feijão, soja, carne, leite e seus derivados tem tornado o preço dos alimentos mais salgado para o bolso dos brasileiros, com o dólar americano elevado na casa dos 5,36 em real brasileiro. De acordo com o presidente da Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA), Raimundo Barreto, diversos países estão importando produtos brasileiros, exceto o feijão, que já vem em alta desde dezembro de 2019 por questões de sazonalidade.

“Porém, o arroz e a soja tiveram uma boa safra este ano, mas os produtores infelizmente preferem lucrar mais exportando já que o dólar está em alta do que deixar no mercado interno. Esse é o motivo para que os preços de determinados alimentos estejam no patamar que estão”, frisou.

Raimundo Barreto revelou que todo o setor de supermercados está bem receoso com o aumento, e afirmou que o ramo não ter nada a ver com a alta elevada.

“Estamos preocupados por conta dos nossos consumidores porque dependemos deles, lutamos… E estamos negociando com os fornecedores para que barateiem os preços, mas a coisa não está fácil, não depende da gente, só repassamos, nossa margem é a mesma, é uma briga nacional”, salientou.

“Várias reuniões já ocorreram com o pessoal da Associação Brasileira de Supermercados com o presidente Bolsonaro, a ministra Teresa Cristina e o ministro Paulo Guedes, justamente sobre essa elevação de preços”, lembrou.

Custo de vida

Com relação à percepção da inflação ser muito diferente da que é anunciada pelo governo como oficial, Rômulo Sales diz que é justificada pelo perfil de consumo das famílias e à metodologia utilizada na composição do indicador de custo de vida.

“Cada família tem um perfil de consumo diferente que não é captado pelo IPCA, assim a percepção de aumento vai variar muito. A renda que recebemos tem influência muito grande nesse cenário. Quanto mais baixa a renda, maior a sensação de aumento dos preços dos produtos e serviços que consumimos. Vale ressaltar que não estamos tendo aumento real do salário mínimo nesse ano, nem ano que vem. Então, para quem está na base da pirâmide social vai sentir muito mais essa pressão dos alimentos, uma vez que quanto menos recebemos, mais gastamos com alimentação”, concluiu.

“O componente alimentos e bebidas tem um peso de 20% no IPCA, o segundo é o item transportes, com um peso de 19,6%. Mesmo que os preços dos combustíveis aumentem, se eu utilizo bicicleta para me locomover vou sentir muito pouco o peso do aumento no meu bolso”, ponderou.

Presidente da Associação dos Supermercados de Alagoas (ASA), Raimundo Barreto, diz que setor não tem culpa da elevação dos custos e sim quem opta pelo lucro alto das exportações (Foto: Reprodução)

Tribuna Hoje



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