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Brasil
13/07/2020 08:00:00

País tem surto de sarampo e revive febre amarela durante a pandemia

Medo de se expor à covid-19 leva à queda na vacinação, o que pode desencadear a volta de doenças erradicadas, como ocorreu com sarampo


País tem surto de sarampo e revive febre amarela durante a pandemia

Preocupados com a covid-19, os brasileiros não estão se protegendo de doenças cujas vacinas já existem e estão disponíveis gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) nos postos de saúde do Brasil. Conforme demonstram dados do Ministério da Saúde, o sarampo e a febre amarela continuam avançando no país em meio à pandemia do novo coronavírus. 

Neste ano, já foram confirmados 4.958 casos de sarampo, número 34 vezes maior que o mesmo período do ano passado, quando foram registradas 142 pessoas com a doença. Trata-se de um aumento de 3.491%.

A cobetura vacinal de crianças de 1 ano, idade da primeira dose da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), é de 57,66%, de acordo com dados prelimiares. No ano passado, foi de 91,12%, ainda abaixo da meta de 95%. Vale ressaltar que, em época de surto, como ocorre neste momento, há ainda a dose zero, recomendada de 6 a 11 meses de vida. Os dados sobre essa cobertura não foram divulgados pelo governo.

Já em relação à febre amarela, foram notificados 881 casos suspeitos em humanos (18 já foram confirmados), além de 3.196 envolvendo a morte de macacos (358 confirmadas), o que indica que a doença continua circulando no país, se dispersando agora em direção à região Sul. O levantamento sobre a doença vai de julho de 2019 a maio de 2020.

Nenhuma das vacinas obrigatórias do Calendário Nacional de Vacinação, que incluem sarampo e fabre amarela, a crianças até um ano alcançou a meta de cobertura em 2019. A cobertura vacinal no país vinha caindo desde 2011, segundo o ministério, mas foi a primeira vez em 25 anos - desde que os dados são contabilizados - que o o país não atingiu a meta de vacinação de 95% em nenhuma das 15 vacinas.

Criado em 1973, o PNI (Programa Nacional de Imunizações) é considerado um dos melhores sistemas públicos de vacinação do mundo.

"Houve uma queda muito importante na taxa de cobertura vacinal no país durante a pandemia. Isso traz o fantasma do ressurgimento de doenças que já estavam erradicas. Para crianças, isso é um perigo muito maior do que a covid-19", afirma o pediatra infectologista Marco Sáfadi, membro da Comissão Técnica para Revisão dos Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira Imunizações).

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"O sonho de consumo do brasileiro é uma vacina contra a covid-19, mas ele se esquece de tomar outras vacinas que já existem para doenças muitos graves e que estão acontecendo como sarampo, meningite, doenças pneumocócicas, difteria, rotavírus, poliomielite, febre amarela, hepatite e catapora. Para tudo isso, há vacina na rede pública ofertada gratuitamente", completa o pediatra Juarez Cunha, presidente da SBIm.

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Cunha explica que ainda existe uma preocupação em relação a outras doenças, além do sarampo e da febre amarela, com vacina obrigatória, pois a vigilância epidemiológica está com toda a atenção voltada à covid-19. "Então, nos preocupa, além da baixa cobertura vacinal, a situação das outras doenças, que não tem sido fácil para as vigilâncias acompanharem. Mas, até o momento, sabemos que sarampo, febre amarela e dengue, para a qual não há vacina na rede pública, estão ocorrendo com maior frequência", diz.

Os especialistas apontam o medo de ir até um posto de saúde durante a pandemia, correndo o risco de se expor ao novo coronavírus, como o principal motivo da queda na procura por vacinas.

 

"É uma razão até compreensível tirar a criança de casa para correr o risco de ser exposta ao vírus, mas não vacinar é um risco muito maior. O sarampo, por exemplo, pode ser mais grave em crianças do que a covid-19", ressalta Sáfadi.

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"Antes de existir a vacina, o sarampo era a principal causa de morte em crianças. Mesmo na quarentena, a dose zero continua sendo fundamental. Crianças não saem de casa, mas há sempre alguém da família que circula, vai para supermercado ou farmácia e pode trazer a doença", completa Cunha.

Sarampo ainda preocupa

O sarampo é um exemplo de como a baixa cobertura vacinal pode levar ao retorno de doenças erradicadas. Considerado eliminada em 2016, ele voltou a circular no Brasil em 2018. Os jovens concentram o maior número de casos, mas a maior incidência e número de mortes ocorre em crianças, afirma Cunha.

"O sarampo é uma doença extremamente grave especialmente em crianças. Diferentemente da covid-19, que infecta de duas a três pessoas, é capaz de infectar de 18 a 20", explica. "Vinte e um Estados do país já relatam notificações de sarampo e continuamos em surto de sarampo em praticamente em todo o Brasil, mesmo durante a quarentena", completa. 

Neste ano, já foram notificadas cinco mortes, segundo o boletim epidemiológico de 20 de junho divulgado na sexta-feira (10). Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina concentram o maior número de casos, sendo que 50% dos casos e mortes ocorreram no Pará.

Devido a esse surto, o Ministério estabeleceu a dose zero da vacina que deve ser dada em bebês de 6 a 11 meses. O objetivo é antecipar a proteção dessa faixa etária, mais sujeita a complicações da doença. A primeira dose é ministrada aos 12 meses e a segunda, aos 15 meses de vida.

Outra campanha da pasta, ainda em andamento, é a de vacinação contra a gripe. Até o momento, atingiu 90% da meta de cobertura do público-alvo. A melhor cobertura foi registrada em idosos (119%) e a pior em gestantes (63%) e crianças até cinco anos (64%). Para evitar o desperdício de imunizantes, a pasta orientou aos municípios que estendesse à vacinação a toda a população até o final do estoque.

Febre amarela é endêmica e tem vacina

O presidente da SBIm chama a atenção para a febre amarela, que também dispõe de vacina e teve surtos registrados nos últimos anos no Brasil. A doença é endêmica na região Norte e Sudeste. "É outra doença que temos que estimular a vacinação", afirma Cunha. A vacina é preconizada aos 9 meses de vida.

Tendo em vista o impacto da covid-19 na vacinação de rotina, a SBIm, junto à SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), elaborou uma cartilha com orientações para realizar as imunizações com sergurança.

Para manter as vacinas de rotina durante a pandemia, o especialista orienta a entrar em contato com o posto de saúde previamente para averiguar quais são as medidas de segurança adotadas, por exemplo, se há uma sala de espera para vacinação separada dos demais pacientes e horários diferenciados para crianças e ainda a possibilidade de agendamento, já que crianças com menos de 2 anos não podem usar máscaras, recurso que ajuda na proteção contra a covid-19. 

Gripe, sarampo, ebola, HIV e agora novo coronavírus. Esses são apenas alguns exemplos de doenças causadas por vírus. Do ponto de vista estrutural, nada indicaria tamanho poder em algo que não passa de uma pequena cadeia de material genético, conforme informações do infectologista Wladimir Queiroz, do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo. Mas ele explica que os vírus, apesar de não serem tão poderosos, têm a capacidade de se tornarem muito potentes

R7



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