28/03/2024 12:30:44

Política
18/09/2018 15:30:00

Exclusivo: José Dirceu fala sobre Lava Jato, Lula, Bolsonaro e corrupção na Ditadura Militar


Exclusivo: José Dirceu fala sobre Lava Jato, Lula, Bolsonaro e corrupção na Ditadura Militar
Ex-ministro José Dirceu

Por Rafa Santos

Dos personagens mais importantes, interessantes e controversos da história recente do Brasil, José Dirceu lançou o primeiro capítulo de suas memórias pela Geração Editorial. Atualmente em liberdade provisória graças a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ele aguarda o julgamento de recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra condenação na Lava Jato e participa de eventos para promover sua autobiografia.

Em entrevista exclusiva ao Yahoo Notícias, o ex-preso político da Ditadura, Deputado Federal, Ministro-Chefe da Casa Civil e um dos principais nomes da esquerda brasileira falou sobre a atual conjuntura política, novas lideranças, crise na Venezuela, relação com Lula, operação Lava Jato e a escolha de Fernando Haddad para cabeça de chapa do PT na atual eleição presidencial.

Yahoo Notícias: O senhor escreveu boa parte de suas memórias na prisão. Quando o senhor sentiu necessidade de registrar os momentos que viveu em sua vida? Por que o senhor acreditou que era o momento de fazer um balanço de sua atuação política?

José Dirceu: Quando eu vi a minha filha de cinco anos ficar sabendo que o pai estaria sendo preso pela segunda vez. Por que ser preso na Ditadura é duro, mas era uma Ditadura. Ela prendia. Ela usava a força para dominar os adversários. Inclusive usava meios como assassinato e tortura. Agora ser preso na democracia é quase uma insânia para mim. E eu resolvi que ela e as novas gerações soubessem por mim a minha história. A minha vida e a história do Brasil nos últimos 50 anos. Da geração de 1968, da luta contra a Ditadura, da resistência armada, da clandestinidade, da volta para legalidade, anistia, das grandes greves, da campanha das diretas, da fundação do PT, da CUT, do MST… Até a chegada de Lula ao governo e também a minha versão sobre o governo. Por isso, eu decidi contar a minha história.   

Yahoo Notícias:  Em sua autobiografia, o senhor costuma sempre lançar um olhar muito analítico em relação aos acontecimentos. Como enxerga a situação política atual?

José Dirceu: Eu sempre procuro analisar o momento, as circunstâncias e a fase que o Brasil vive. Hoje eu acredito que o país tem a oportunidade de sair dessa crise. De um governo ilegítimo e usurpador. Desse impasse —porque não se dialoga mais— porque se rompeu o pacto democrático com o golpe. O Brasil tem hoje a oportunidade de eleger um presidente que possa retomar aquele legado do Lula. Aquelas políticas de distribuição de renda e de combate a miséria.  E retomar o desenvolvimento do país. A soberania do país. E que faça as reformas que o Brasil precisa. A reforma tributária, a reforma política e, principalmente, resolva um problema grave que o país tem que é o do juro alto que quase inviabiliza o crescimento do país. Também é preciso eleger um governo que faça uma grande revolução educacional e cientifica e que abra para juventude oportunidade de emprego. Essa é a expectativa que eu tenho.

Yahoo Notícias: Entrevista recente de Tasso Jereissati — Um dos caciques políticos do PSDB— mostra que o alto comando da legenda enxerga erros na condução do partido na atual conjuntura política.  O senhor acredita que sem o apoio dos tucanos o processo que culminou no impeachment da ex-presidenta Dilma Roussef  teria o mesmo fim?

José Dirceu: Eles foram os principais agentes do golpe. Primeiro porque não reconheceram o resultado eleitoral. Segundo que propuseram o impeachment. Terceiro porque embarcaram no governo Temer. E quarto porque agora eles são vítimas daquilo que eles tanto apoiaram e incentivaram que são prisões ilegais, investigações abusivas e decisões que contrariam a constituição. Dois governadores tucanos foram alvos da justiça nesta semana. Beto Richa do Paraná e Azambuja do Mato Grosso do Sul. É preciso que a gente recomponha a democracia brasileira. Que repactue o país e permita que essas eleições sejam livres –apesar dessas já estarem manchadas pela ausência do Lula e que os tucanos tanto apoiaram também.  Precisamos encontrar um caminho para o país, mas com justiça social e distribuição de renda. Não podemos procurar sair da crise as custas de cortes de investimentos sociais, educação, ajuste salarial e cortes de investimento público e mais carga tributária para aqueles que consomem e vivem de salários. Sem os perdões fiscais que vem sido dados para grandes grupos como o agronegócio. O país está precisando que se sente a mesa. Todos as forças políticas, todos setores da sociedade se repactuem para sairmos da crise. Mas, todos pagando um preço e não só os de baixo.

Yahoo Notícias: Vivemos um momento de grande polarização política. Polarização esta que pode ter influenciado um ataque a um candidato a presidente como Jair Bolsonaro. Muitos partidários do candidato liberal creditam a esquerda brasileira essa realidade. Qual o seu olhar sobre a questão?

José Dirceu: Chega a ser uma piada de mal gosto. A esquerda foi expulsa das ruas. Cuspiram em nós. Rasgaram nossa bandeira. Fomos expulsos dos lugares públicos e sofremos uma perseguição implacável do aparato policial e judicial. Lula foi perseguido. Preso ilegalmente em condução coercitiva. Depois foi julgado sem provas e está preso. Como podemos falar que isso é culpa da esquerda? A esquerda ganhou quatro eleições via democrática. Não foi esquerda que deu golpe. Não fomos nós que apelamos para um golpe parlamentar-judicial. Sempre respeitamos o resultado das urnas. Quem não respeita são eles. No caso do candidato Bolsonaro, todos condenamos o atentado a ele que, ao que parece, foi um ato isolado. Agora, isso não nós isenta de apontar que ele prega a violência no país. Ele quer armar a população e acredita que os nossos problemas se resolvem na violência. E o vice dele está prevendo que uma comissão de notáveis faça uma constituição. Estamos voltando a uma Ditadura Militar que faz constituição de gabinete e impõe isso ao país. É fundamental respeitar a soberania popular. Fazer eleições democráticas, mesmo essa já estando manchada e fazer com que todos entendam que quem exerce o poder é o Legislativo e o Presidente da República. Não é o Judiciário e muito menos as forças armadas.

Yahoo Notícias: Nunca na história recente do país tivemos um candidato simpatizante da Ditadura Militar tão bem nas pesquisas. A que o senhor credita isso?

José Dirceu:  Vai bem na pesquisa, mas tem uma rejeição altíssima. Sempre houve um resíduo de saudosistas da Ditadura. E ele, evidentemente, prega uma série de valores que representam uma regressão cultural e social ao país. É um discurso totalmente possuído de preconceito, racismo, homofobia e misoginia. Muitas vezes apresenta um discurso que tenta misturar religião com o estado. É preciso que o país tenha um debate político que se abra para o pluralismo. Para diversidade. Isso é reflexo também de um discurso único de grande parte da nossa imprensa. Tanto jornais como as rádios e a televisãonão permitem que outros pontos de vista sejam expostos. Como essa história do “Escola Sem Partido”. A escola brasileira é plural como em qualquer democracia no mundo. O que eles querem é que a escola só mostre a história da direita. Eles querem uma escola com partido. Uma parte desse problema é responsabilidade nossa (esquerda) que tem que ir mais ao povo para conversar e debater, porém, acredito que a nossa imprensa tem muita responsabilidade.

Yahoo Notícias: O candidato a vice-presidente da chapa de Jair Bolsonaro, general Hamilton Mourão disse em entrevista recente que uma nova constituição poderia ser feita necessariamente sem a participação de representantes eleitos pelo povo. Qual a sua opinião sobre essa declaração?

José Dirceu:  É uma regressão. O caminho para reformar a constituição é apresentar uma emenda constitucional que deve ser aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados e no Senado. Essa ideia dele é uma ideia autoritária que não tem cabimento em uma democracia. Se eles querem outra constituição é preciso consultar o povo. Daí o povo escolherá uma assembleia constituinte. Qualquer caminho fora desse representa uma Ditadura.

Yahoo Notícias: Muitos partidários de Ciro Gomes reclamam  nas redes sociais de um eventual “projeto de poder” do PT ter atrapalhado uma possível aliança e tentado esvaziar a candidatura do cabeça de chapa do PDT. Sabemos que todo partido tem um projeto de poder. Poder é a razão de ser de um partido político. Como o senhor enxerga essa queixa? Faz sentido?

José Dirceu: Como você bem disse, a razão de ser de um partido é angariar apoio popular para um programa de governo. Um projeto de sociedade. É natural que o PT queira concorrer ao governo. Vejo isso mais como um elemento retórico dos apoiadores do candidato. É um direito deles dizerem isso, mas o PT é o partido de maior apoio da sociedade brasileira e o Lula é o candidato que venceria no primeiro turno. É natural que a gente apresente um candidato para disputar os dois turnos. Agora, no segundo turno estaremos juntos. Todos do campo democrático, nacionalista, progressista e de esquerda estaremos juntos. Não vejo lógica nesse discurso. É quase como dizer que o PT não poderia ter candidato.

Yahoo Notícias: No atual cenário surgiram partidos como o Novo. Como o senhor enxerga essas novas correntes?

José Dirceu: Acho muito bom. Acredito que todas as forças econômicas, culturas políticas e forças sociais devem se reunir e se apresentar para a sociedade com suas ideias e propostas. É bom que eles disputem o apoio da sociedade. Eu prefiro que seja transparente do que a possibilidade desses grupos ficarem escondidos e depois apareçam dominando o presidente eleito.  Prefiro que apareçam partidos novos —desde que sejam grupos que não preguem Ditadura e aquilo vedado pela constituição— isso faz muito bem para a democracia. Outra coisa é que precisamos fazer uma reforma política para limitar o poder econômico, criar cláusulas de barreira, regular melhor o financiamento público, pensar em voto distrital misto a aperfeiçoar o sistema democrático brasileiro.   

Yahoo Notícias: Também surgiram novas lideranças do campo da esquerda como Guilherme Boulos.  Qual a sua opinião sobre ele?

José Dirceu: Meu sentimento é que é muito importante que ele tenha surgido. Ele representa um setor muito importante da sociedade que são as populações de trabalhadores brasileiros que vivem nas grandes cidades e que têm demandas sobre habitação, saneamento, saúde, educação e transporte. Muitas lideranças nesse campo surgiram nas décadas de 1970 e 1980 —uma delas é o Chico Alencar que está hoje no PSOL— no PT também surgiram muitas lideranças que governaram suas cidades. O Boulos é um vento muito positivo na nossa política. Uma liderança jovem, nova, bem intencionada e que tem laços fortes com a população que tem demandas a apresentar ao estado e quer governar.

Yahoo Notícias: Nas últimas eleições sempre que existe um crescimento de alguma candidatura de esquerda, vemos o dólar subir na Bolsa de Valores e certo pessimismo do mercado. Qual é o maior adversário da esquerda, as legendas rivais ou o mercado financeiro?

José Dirceu: Isso acontece porque o mercado financeiro não quer aceitar uma redução dos juros reais. Não se cobra nem o juro positivo mais sobre dívida pública na Europa ou no Japão. Como pode se gastar centenas de bilhões pagando juros sobre a dívida pública? É mais do que deficit da previdência. O mercado financeiro não quer aceitar uma reforma tributária. Como se pode tributar sobre o consumo, sobre salário? É preciso que o mercado entenda que aquelas que vivem de renda, tem riqueza e heranças também paguem impostos. Todos precisam contribuir para que o país saia da crise. Essa manipulação em relação ao dólar tem muito de expectativa política.  Esses agentes do mercado são poucos. Não são dezenas de milhões. São dezenas de milhares de instituições e pessoas físicas que detém a dívida pública do país e se beneficiam dos juros altos. Vivem de rentismo e dos juros altos que são um verdadeiro escândalo no Brasil. Acredito que o mercado financeiro tem que aceitar o resultado eleitoral.  Desestabilizar a economia do país para pressionar o candidato que apresente propostas de reformas tributárias é algo bastante antidemocrático.

Yahoo Notícias: – Recentemente a corregedoria do Ministério Público decidiu investigar denúncias de procuradores que acompanharam de certa forma oportunista o calendário eleitoral. Qual a sua opinião sobre a atuação do MP na esfera política nos últimos anos?

José Dirceu: Essa manipulação da justiça. Esse uso da justiça para fins políticos eleitorais começou lá em 2012 quando o ex-ministro Ayres Britto marcou meu julgamento na sexta-feira antes do primeiro turno e a outra fase antes do segundo turno. Um coisa escandalosa. O problema é que quando acontecia apenas contra a gente todo mundo batia palma. Agora que os tucanos estão sofrendo esse tipo de arbitrariedade alguns procuradores passaram a se voltar contra o próprio Ministério Público Federal e exigindo que o Conselho Nacional do Ministério Público analise isso. E as conduções coercitivas? E as prisões anunciadas antecipadamente pela imprensa? E a publicação de sigilo bancário? E a manipulação de informações para pré-julgar e praticamente linchar?  Tudo isso foi feito. Esses abusos todos tem que acabar no Brasil. O presidente que assumir tem que aprovar a lei de abuso da autoridade e mudar a legislação nos trechos em que ela permite isso. Como o STF fez com a condução coercitiva porque estava ilegal. Só se pode conduzir alguém de forma coercitiva se ele se recusar a depor. E não como instrumento de convocação. Só se pode decretar prisão preventiva e transformar isso em plena antecipada quando a pessoa for condenada em última instância. Não adianta usar isso para pressionar delação porque essas delações não tem valor nenhum quando obtidas diante de terror psicológico. Tem muito o que se mudar no Brasil nesse sentido.

Yahoo Notícias: Qual a sua opinião geral sobre a operação Lava Jato?

José Dirceu: De modo geral ela tem sido caracterizada e marcada pelo uso político e partidário da Justiça. Pela violação de direitos e garantias individuais e principalmente contra o presidente Lula. A Lava Jato representa uma tentativa de criminalizar o PT e a política no Brasil. E o mais grave: destruiu um setor fundamental da economia brasileira que é o de serviços exportador de capital e tecnologia. Esse setor estava transformando o Brasil e fazendo com que nosso país fosse o principal exportador de serviços e capital e tecnologia da América Latina. Essa operação não preservou as empresas. Além disso, vemos a autopromoção e o fortalecimento corporativo de uma classe cheia de privilégios que é o Ministério Público e a Polícia Federal. Infelizmente, o combate a corrupção mesmo acabou ficando de lado. Todos que fizeram delação preservaram seus patrimônios particulares. Os que estão presos são os que não delataram. São poucos. Mais de 180 fizeram delação. Infelizmente o balanço não é positivo porque o custo para o país é muito maior do aquilo que foi recuperado. Existem outras formas de combater a corrupção. 

Yahoo Notícias:  Porque a Lava Jato insiste em não escutar o advogado Tacla Duran* na sua opinião?

José Dirceu: Porque ele vai provar exatamente tudo que eu listei de problemático na Lava Jato. Ele tem elementos de prova para mostrar que existe manipulação, interesses inconfessos e acordos de delação por de trás da mesa legal e registrada de delação. Que existem negociações que preservam determinadas figuras de determinados setores da economia e que apontam para outros entendeu? Ele vai ajudar a decifrar um lado da Lava Jato que continua escondido.

Ver as imagens
 
Lula ao lado de José Dirceu quando ele era Ministro-Chefe da Casa Civil no primeiro mandato do petista. Foto: Getty Images

Yahoo Notícias: Em dado momento de sua autobiografia o senhor relata momentos duros vividos ao lado de Lula. Qual o momento de maior tensão de sua atuação no governo?

José Dirceu: Foi na parte em que relato a minha saída do governo. Porque considero que aquilo foi um erro. Uma coisa é você sair do governo com um plano de luta. Com Estado Maior. Uma função. Uma tarefa. Outra coisa é simplesmente sair do governo. Depois eu assumi a minha defesa, a defesa do governo, do PT e a defesa do Lula. Lutei todo o tempo para denunciar a farsa do Mensalão e o resultado a gente sabe qual foi. A prisão do Lula ilegal e inconstitucional.    

Yahoo Notícias: Para deixar claro, qual a sua opinião atual sobre Lula?

José Dirceu: O Lula foi e é a maior liderança popular do país. Foi o melhor presidente do Brasil nos últimos 50 anos. É um estadista. O mundo o reconhece como estadista. Ele está preso injustamente e eu tenho certeza que o povo o libertará mais cedo ou mais tarde. Eu tenho a melhor opinião sobre ele. A minha convivência com Lula ao longo de 35 anos só comprovou a opinião que eu tive ainda na clandestinidade quando eu ouvia a voz rouca dele liderando os trabalhadores metalúrgicos e depois os trabalhadores brasileiros. O Lula é o filho do Brasil. Ele saiu das entranhas do povo para resgatar nossa soberania e deu aos mais pobres o seu lugar no Brasil. Depois dele o povo passou a ter auto-estima, confiança e fé no futuro. Tenho pelo Lula um carinho especial e uma lealdade que  todos conhecem; Agora, isso não significa que eu concorde com ele em tudo. Que durante a nossa trajetória comum nós não termos discordado, discutido e muitas vezes tomado caminhos diferentes… isso faz parte de qualquer relação pessoal, profissional e política. Isso faz parte da vida. 

Yahoo Notícias:  Muitas pessoas criticaram a estratégia do PT de tentar manter a candidatura de Lula até as últimas consequências. Qual a sua opinião sobre isso?

José Dirceu: Foi a estratégia correta. Preservou o eleitorado e o ônus do Lula não ser candidato é da Justiça que tomou um caminho ilegal segundo a Constituição e a própria lei eleitoral que permite atos de campanha até a impugnação final. Então nós fizemos o correto. E mais, dentro do limite legal de dez dias indicamos e registramos o nosso candidato e a Manu de vice com a nossa aliança com o Pros e o PC do B com apoio de amplos setores do PSB. Já estamos em segundo lugar e vai para o segundo turno. Indicamos um candidato  a altura dos desafios que se impõem. Ele tem experiência de ter sido o prefeito da maior cidade do país e ministro em uma área fundamental para o país que é a da educação.

Yahoo Notícias: O que o senhor acha da pecha de “poste do Lula” que adversários tentam pregar no Fernando Haddad?

José Dirceu: Isso é retórica de campanha. O Fernando Henrique Cardoso era professor universitário e suplente de senador do Franco Montoro. Quem foi eleito foi o Franco Montoro. O FHC tinha perdido uma eleição para o Jânio Quadros em São Paulo de maneira humilhante.  Depois ele foi Ministro das Relações Exteriores, Ministro da Fazenda e a partir do Plano Real foi eleito presidente e reeleito. Isso é pura falta de argumento. É não ter como rebater as propostas que o Haddad apresentou ou motivos para criticar sua gestão no Ministério da Educação e na prefeitura de São Paulo. É tentar estigmatizar uma pessoa por puro preconceito de uma forma até não política.

 

Ver as imagens
 
Candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad foi a escolha certa na opinião de José Dirceu. Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press

Yahoo Notícias: Na sua opinião, como o governo deveria agir em relação aos venezuelanos que buscam refugio no Brasil?

José Dirceu: Veja bem. Primeiro eu sou totalmente contrário a fechar a fronteira. Devemos ser solidários a todos os venezuelanos que atravessam a fronteira com o Brasil. Segundo, a maior parte dos venezuelanos que entraram no Brasil foram para outros países. Devemos ajudar o governo venezuelano para encontrar uma saída para crise econômica e política. Não devemos pedir intervenção, pregar bloqueio ao governo e dizer que lá é uma Ditadura. Ou seja, não devemos aceitar o papel de “office boy” dos Estados Unidos. Devemos ter a nossa política externa como na época do Lula. Que participamos no Equador, Peru, na Colômbia, na própria Venezuela e no Haiti como uma liderança. Devemos respeitar a soberania do país. Não devemos caracterizar os governos de outros países como Ditaduras ou não…. e as Ditaduras do Golfo? São Monarquias? São ditaduras teocráticas? Essa postura da direita brasileira que aplaudiu Fujimori, que aplaudiu Pinochet e que apoiou a Ditadura na década de 1960 nós já conhecemos. O ideal é termos uma postura de diálogo e ajudar a Venezuela.

Yahoo Notícias:  Muitos jovens nas redes sociais têm defendido a ideia de que não existia corrupção na Ditadura Militar. O senhor viveu intensamente a oposição a esse momento tenebroso da história brasileira. Existia corrupção na época?

José Dirceu: Nunca existiu tanta corrupção como na Ditadura Militar. O problema é que havia censura da imprensa. O legislativo estava completamente sem poderes e a Justiça calada porque não existiam garantias individuais… portanto, nunca aconteceu nada com os corruptos. A história do Brasil mostra. Você pode fazer uma lista de 20, 30 casos escabrosos de corrupção na Ditadura Militar. Foram organizando nas empresas estruturas de espionagem. Ninguém tinha garantia de não ser preso de maneira arbitrária por uma desavença familiar ou de vizinhança. Ou uma diferença na hora de fechar um negócio. Não havia liberdade no país. Nem para o cinema, nem para o teatro e nem para música. Não havia liberdade sindical ou de manifestação. Eles faziam atentados terroristas contra bancas de jornais. Tentaram explodir uma bomba em um show com dezenas de milhares de pessoas no Riocentro. Então o país viveu um tempo… em que não é possível que se queira voltar a isso. A democracia com todos os seus desencontros, insuficiências e deficiências é, evidentemente, o melhor regime que existe. A não ser que se invente um outro.

Yahoo Notícias: Nossa democracia vai sair mais forte ou enfraquecida dessa crise institucional que se abateu sob o Brasil?

José Dirceu: Nossa democracia precisa ser reformada. Do jeito que ela está vai levar o Brasil a um impasse. Precisamos de uma reforma política institucional. É preciso fazer que o eleitor que vota para Câmara seja representado.  Hoje é o mínimo de oito deputados e o máximo de 70. Só que o Senado são três por estado. Só que o Senado deveria representar a Federação, pois é uma Câmara alta revisora e propõe leis. E nós não temos no país um sistema eleitoral que evite o abuso de poder financeiro e a profusão de partidos de aluguel. É preciso mudar porque o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são responsáveis por muitas deformações.  Eles acabaram com a fidelidade partidária e não permitiram a cláusula de barreira. Esse tipo de voto nominal em que você disputa voto com candidato do próprio partido não existe no mundo. Eleição é distrital, distrital mista ou é de lista. É preciso reformar. É preciso reformar o Estado brasileiro.

*Ex-advogado da Odebrecht e UTC, Rodrigo Tacla Duran acusa os procuradores da Lava Jato de pedirem dinheiro em troca de acordos vantajosos de delação premiada. Foi testemunha em casos envolvendo a Odebrecht em vários países. Apesar de ser arrolado cinco vezes como testemunha de defesa do ex-presidente Lula, teve seu testemunho negado sistematicamente pela justiça brasileira. 



Enquete
Se fosse fosse gestor, o que você faria em União dos Palmares: um campo de futebol ou a barragem do rio para que não falte agua na cidade?
Total de votos: 93
Notícias Agora
Google News