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O Ciclo Invisível da Violência Familiar: Entendendo por que é Difícil Romper com o Abuso

Embora a procura por informações sobre violência doméstica esteja em ascensão no Brasil, muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades para sair dessas relações prejudiciais

O Ciclo Invisível da Violência Familiar: Entendendo por que é Difícil Romper com o Abuso

O ciclo de agressões no ambiente familiar não costuma começar com uma agressão física direta, como um tapa ou empurrão. Na maior parte das vezes, ele se inicia de maneira sutil e quase imperceptível, até evoluir para um padrão recorrente que se torna difícil de interromper, frequentemente culminando em feminicídio.

Entenda a evolução do ciclo de violência doméstica

Por Alessandra Petraglia

13/12/2025 • 13:04 • Atualizado em 13/12/2025 • 13:04



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O ciclo de agressões, elaborado pela psicóloga americana Lenore Walker, foi criado para ilustrar os padrões recorrentes presentes em relacionamentos abusivos. Sua teoria destaca que a violência não ocorre de forma aleatória, mas segue uma lógica previsível de repetição e agravamento.


Imagine uma borracha que estica, tensiona, relaxa e depois volta a tensionar: assim funciona o relacionamento abusivo. Com cada ciclo, os períodos de calmaria se tornam menores e o risco de violência aumenta.

Esse entendimento é essencial para compreender por que muitas mulheres permanecem em ambientes de abuso. Não se trata de fraqueza ou de uma decisão consciente, mas de um processo psicológico e emocional que se intensifica com o medo, a esperança e a dependência. Informação e suporte emocional são fundamentais para ajudar a quebrar esse ciclo.

 

Apesar de os dados indicarem que a violência doméstica permanece como um problema grave no Brasil — com mais de mil feminicídios registrados em 2025 — há também um crescimento na busca por informações relacionadas ao tema.

Dados da Sala Digital, uma parceria entre a Band e o Google, revelam que o interesse por conteúdos sobre violência de gênero aumentou aproximadamente 30% nos últimos cinco anos no país. Além disso, as pesquisas por medidas protetivas — recursos legais destinados a proteger mulheres e meninas em situação de risco — atingiram seu patamar mais alto na série histórica do Google Trends, com um aumento de cerca de 135% em comparação com os cinco anos anteriores.

Explicando o ciclo da violência

O ciclo, conforme descrito por Lenore Walker, é composto por três fases principais, cada uma com características bem definidas. Assim como uma engrenagem, esse ciclo tende a se repetir — e acelerar — na ausência de uma intervenção que o interrompa.

Primeira fase: tensão crescente

Nesta etapa, o ambiente se torna cada vez mais instável. O agressor demonstra irritabilidade constante, ciúmes excessivos e comportamentos de controle. Pequenas situações podem desencadear críticas, humilhações, ameaças ou explosões verbais. O tom de voz dele muda, e o medo se instala na vítima.

Nessa fase, muitas mulheres tentam evitar o conflito, cedendo, mudando suas atitudes ou justificando o comportamento do parceiro. A violência ainda não é, necessariamente, física, o que leva muitas a minimizarem os sinais de abuso.

Segunda fase: explosão de agressões

Quando a tensão acumulada alcança um ponto de ruptura, ocorre a explosão. É o momento de agressão explícita, que pode ser física, psicológica, sexual, moral ou patrimonial. Aqui, a ameaça se concretiza.

Para a vítima, essa fase é a mais perigosa. Muitas relataram medo intenso, sensação de paralisia, confusão mental e dificuldade de reagir ou pedir ajuda. Após o episódio, é comum sentir culpa, vergonha e receio das consequências de uma denúncia.
Terceira fase: o arrependimento ou a "lua de mel"

Após a agressão, o agressor costuma demonstrar arrependimento, pedir desculpas e prometer mudança. Muitas vezes, faz atribuições externas para justificar seu comportamento, como estresse, consumo de álcool ou problemas no trabalho.

Nessa fase, ele se torna mais carinhoso, atento e afetuoso. Conhecida como "lua de mel", ela tem um efeito emocional poderoso, pois reacende a esperança na vítima e reforça o vínculo. A mulher tende a recordar os momentos positivos, acreditar que a violência foi um episódio isolado e até decidir dar uma nova chance ao relacionamento.

Contudo, essa fase muitas vezes não indica uma mudança real. Com o passar do tempo, a tensão volta a crescer, e o ciclo se reinicia. A cada repetição, os intervalos entre as fases se reduzem e a intensidade da violência aumenta.

Orientações para buscar ajuda

Compreender o ciclo da violência doméstica ajuda a reconhecer as sutilezas de relacionamentos abusivos, que podem deixar marcas físicas, emocionais e, em casos extremos, irreversíveis. Além disso, facilita a identificação se você ou alguém próximo está vivendo essa situação e necessita de apoio.

O Disque 180 é um dos principais canais oficiais de assistência às vítimas. A Central de Atendimento à Mulher funciona 24 horas por dia, oferecendo informações sobre direitos, rede de acolhimento e orientações para registrar denúncias.