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América Latina
01/12/2025 00:00:00

Consequências do Fechamento Aéreo na Venezuela Após Declarações de Trump

Implicações das recentes ações internacionais e o impacto sobre os voos e os viajantes venezuelanos

Consequências do Fechamento Aéreo na Venezuela Após Declarações de Trump

Nos últimos dias, a aviação venezuelana tem enfrentado uma crise agravada pelas declarações do então presidente Donald Trump, que anunciou o fechamento completo do espaço aéreo do país. Essa decisão resultou em uma redução drástica no fluxo de voos internacionais e no isolamento do território. Juan Carlos Rodríguez relata sua experiência: ao tentar embarcar em 24 de novembro, quase na porta da aeronave, foi informado do cancelamento do voo, sem previsão de retorno.

Ele faz parte de um grupo de centenas de venezuelanos que ficaram retidos no aeroporto Adolfo Suárez Madrid-Barajas, na Espanha, devido às medidas tomadas pelos Estados Unidos contra a Venezuela.

Na data de 21 de novembro, a Federal Aviation Administration (FAA), autoridade de aviação dos EUA, recomendou às companhias aéreas que aumentassem a cautela ao sobrevoar a Venezuela e o sul do região do Caribe, alegando uma possível ameaça na área.

Em consequência, oito companhias internacionais suspenderam suas operações para o país caribenho, enquanto as autoridades venezuelanas responderam suspendendo os direitos de tráfego aéreo de seis dessas empresas.

A situação se agravou ainda mais no sábado, dia 29 de novembro, quando Trump declarou que o espaço aéreo venezuelano deveria ser considerado fechado "de forma total". As ações venezuelanas qualificaram a medida como "uma ameaça de índole colonial" e afirmaram que acionaram "todos os mecanismos multilaterais" para cessar imediatamente essa atitude considerada ilegal.

Desde então, o movimento aéreo venezuelano se encontra bastante reduzido. Dados do portal FlightRadar24 indicam que, entre sábado à tarde e domingo de manhã, havia poucos aviões sobrevoando o país, com a maioria sendo aeronaves nacionais ou privadas realizando rotas internas.

No domingo, apenas duas companhias internacionais continuaram operando na Venezuela: a panamenha Copa Airlines, que manterá dois voos diários entre Panamá e Caracas durante o dia, e a colombiana Wingo, que prosseguirá com sua rota Bogotá-Caracas. Além delas, a Boliviana de Aviación (BoA) também seguia vendendo passagens para a capital venezuelana. Segundo dados do aeroporto internacional Simón Bolívar, na cidade de Maiquetía, das cerca de 100 operações previstas para domingo, apenas seis eram de companhias estrangeiras, ligadas a destinos como Bogotá, Lima, Curaçao e Panamá. Antes da crise, o país contava com aproximadamente 105 voos semanais de e para a Venezuela; atualmente, esse número caiu para 79, uma redução de 24,7%. 

A diminuição nas conexões aéreas não é novidade para os venezuelanos, que há anos vêm reduzindo suas ligações internacionais em decorrência de crises econômicas, políticas e da pandemia de covid-19. Apesar de o governo venezuelano anunciar a criação de um "plano especial" para repatriar cidadãos retidos no exterior, até o momento nenhuma medida concreta foi implementada. Juan Carlos Rodríguez, em Madri, criticou a falta de suporte por parte das companhias aéreas e das embaixadas, relatando que a venezuelana

Estelar não assumiu responsabilidades nem ofereceu assistência, enviando um grupo a Medellín, na Colômbia, para que cada passageiro encontrasse seu caminho de volta. Ele questionou a decisão de enviar passageiros a uma cidade distante da fronteira venezuelana, especialmente aqueles sem recursos financeiros ou contato no país. Alguns retidos foram acolhidos por um abrigo e receberam auxílio da Cruz Vermelha espanhola, devido à ausência de suporte adequado. Outros relatos evidenciam dificuldades similares. Luis Morales Peix, um espanhol que visitava Caracas, relatou ter desembolsado cerca de US$ 2 mil para chegar à Colômbia, após ser informado de que seu voo seria cancelado e de que poderia receber reembolso, mas sem previsão de reemissão.

Se a crise persistir, espera-se um aumento nas travessias terrestres entre Colômbia e Venezuela, conforme prevêem veículos de transporte de ambos os países. A International Air Transport Association (IATA) estima que aproximadamente 15 mil passageiros semanais tenham sido impactados pela suspensão dos voos. Além do impacto sobre os venezuelanos que desejam sair ou retornar ao país, as políticas americanas também estão afetando o turismo internacional e as deportações de migrantes ordenadas por Trump.

A operadora russa Pegas Touristik anunciou que redirecionará seus turistas de Venezuela para Varadero, em Cuba, como alternativa. Nos últimos anos, a ilha de Margarita tornou-se destino popular entre turistas russos, reforçando o turismo na região.

Por sua vez, o governo venezuelano denunciou que Washington suspendeu unilateralmente as operações de repatriação de venezuelanos deportados. As declarações dos Estados Unidos sobre o fechamento do espaço aéreo venezuelano aumentaram as tensões diplomáticas, que já estavam elevadas devido ao envio de tropas ao Caribe sob a alegação de combate ao narcotráfico.

No entanto, tanto Caracas quanto diversos analistas veem essa ação como uma estratégia para exercer pressão contra Nicolás Maduro, visando sua saída do poder.