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Religião
30/11/2025 08:00:00

A Luta Oculta pela Manutenção da Fé na Coreia do Norte

Autoridades reforçam repressão às comunidades religiosas clandestinas, enquanto ativistas apontam resistência silenciosa

A Luta Oculta pela Manutenção da Fé na Coreia do Norte

O regime norte-coreano intensifica sua ofensiva contra igrejas não autorizadas, alegando ter praticamente erradicado essas organizações, conforme divulgado pelo portal alternativo DailyNK, sediado em Seul.

A publicação informa que os líderes do país, sob comando de Kim Jong-un, comemoram o controle absoluto sobre manifestações religiosas. Apesar das ações governamentais, relatos de desertores e defensores dos direitos humanos indicam que grupos de fiéis ainda praticam suas crenças de forma secreta. Song Young-Chae, representante da Coalizão Mundial para o Fim do Genocídio na Coreia do Norte, afirmou à DW que, com base em testemunhos de pessoas que migraram para o Sul neste ano, há cristãos que continuam a cultuar em pequenos grupos ou de modo individual, mesmo sob forte repressão.

A resistência religiosa, no entanto, enfrenta severas perseguições. Embora a Constituição do país, no Artigo 68, garanta liberdade de religião, o governo mantém um controle rigoroso sobre qualquer atividade de fé, considerando-a uma ameaça ao seu poder.

Desde a educação infantil, as crianças são ensinadas a venerar as três gerações da família Kim, que lidera o país desde sua fundação em 1948. A presença de cristãos é vista com suspeita, por serem associados a influências ocidentais. Pessoas flagradas com Bíblias, em oração ou participando de cultos secretos, enfrentam punições duras.

A postura do governo classifica indivíduos religiosos como integrantes de uma 'classe hostil', sujeitos a discriminação em trabalho, educação e habitação. A repressão se intensificou após a promulgação, em setembro de 2021, da Lei de Garantia da Educação da Juventude, que criminaliza atividades religiosas entre os jovens.

De acordo com uma fonte anônima na Coreia do Norte citada pelo DailyNK, não há um órgão específico encarregado da repressão religiosa. No entanto, departamentos de contraespionagem consideram o envolvimento com a fé uma 'atividade antiestatal' e investigam-na de forma independente, especialmente nas regiões de fronteira, onde há entrada frequente de informações externas.

Pessoas que estudaram ou trabalharam no exterior, ou que tentaram fugir e foram forçadas ao retorno, estão sob vigilância ainda maior. Caso sejam pegas praticando atividades religiosas após o retorno, são prontamente detidas, e protestantes e católicos podem ser enviados a campos de prisioneiros.

Organizações como a Christian Solidarity Worldwide e governos de direitos humanos corroboram esses relatos. A Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional, em 2025, classificou a Coreia do Norte como uma das nações mais repressoras nesse aspecto, afirmando que o regime considera a religião uma ameaça existencial, com os cristãos rotulados como aliados das forças imperialistas e inimigos da nação.

Possuir uma Bíblia, interagir com missionários cristãos ou participar de cultos pode resultar em punições severas, incluindo tortura, trabalho forçado, prisão e até execução, segundo o relatório. Apesar do clima de repressão, há resistência silenciosa.

Eunju Kim, que fugiu do Norte com sua mãe na década de 1990 e hoje atua na organização de refugiados HanVoice em Seul, relata a existência de uma igreja em Pyongyang que serve apenas como uma fachada para aparentar liberdade religiosa.

Algumas pessoas que viveram a fé no exterior continuam a praticá-la discretamente, mesmo após a repatriação. Kim explica que, embora a prática pública seja severamente punida, indivíduos que tiveram contato com igrejas na China podem manter sua fé e cultuar em silêncio, sem que sejam detectados.

Dados oficiais da comissão americana indicam que, em 2024, três missionários sul-coreanos presos na Coreia do Norte permaneciam detidos por mais de uma década, evidenciando a persistência do desafio silencioso enfrentado pelos fiéis clandestinos no país.