Durante uma reunião no Palácio do Eliseu nesta quinta-feira (27), o presidente da França, Emmanuel Macron, revelou a um grupo de empresários brasileiros que o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia ainda apresenta deficiências e necessita de melhorias.
Essa manifestação de Macron diverge das declarações feitas pelo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu oficializar o acordo com líderes europeus em uma cerimônia programada para 20 de dezembro no Brasil.
Segundo Macron, o tratado atual é uma negociação antiga, que se estendeu por duas décadas, e, por isso, não atende às atuais expectativas ou às questões ambientais e climáticas emergentes. Ele ressaltou que o entendimento precisa ser atualizado para refletir os avanços que ocorreram nesse período.
A declaração do líder francês foi obtida por meio de um vídeo gravado durante um encontro com altos executivos e empresários brasileiros, que participaram de um fórum bilateral Brasil-França. A CNN Brasil teve acesso a esse material.
Entre os presentes, a ex-ministra da Agricultura, Kátia Abreu, manifestou insatisfação com as palavras de Macron, interpretando-as como uma postura protecionista do governo francês em relação ao setor agrícola brasileiro, considerado altamente competitivo. Ela afirmou ainda que a questão foi levantada pelo diretor de Relações Institucionais da Vale, Kennedy Alencar, que questionou Macron sobre a possibilidade de assinatura do acordo em dezembro, uma dúvida que o próprio presidente francês respondeu dizendo que isso não dependia dele.
Macron acrescentou que, embora o acordo ainda esteja em fase de negociações, ambos os lados estão empenhados em realizar a assinatura, embora ainda seja necessário realizar várias reuniões para formalizar o entendimento. Ele listou três pontos essenciais que precisam ser aprimorados no pacto: primeiro, a implementação de salvaguardas que protejam mercados vulneráveis de uma possível concorrência desleal; segundo, a necessidade de alinhamento de regulamentos e práticas econômicas, exemplificando as restrições europeias ao uso de certos pesticidas em relação às práticas no Mercosul; e, por último, a criação de mecanismos de fiscalização que assegurem o cumprimento de tudo o que foi negociado.
Luiz Fernando Furlan, sócio da MBRF e presidente do Lide, que representa o setor empresarial, comentou que as observações de Macron não representam uma novidade para o Mercosul, ressaltando que há espaço para convergência após 22 anos de negociações.
Ele avaliou positivamente o tom da declaração, destacando que a postura do líder francês é um sinal de avanços possíveis no futuro do acordo.