Flexibilidade Corporal e Dor: Separando Fatos de Mitos

Muitos acreditam que uma postura considerada inadequada seja diretamente responsável por dores ou até mesmo por lesões. Contudo, estudos recentes indicam que essa relação é bem menos direta do que se pensava. Cada indivíduo possui uma estrutura óssea singular, o que influencia seu posicionamento ao estar em pé ou sentado.

Assim, não existe uma postura universalmente ideal, válida para todos. Segundo Mariana Santos, docente do curso de Fisioterapia na Faculdade Anhanguera de Piracicaba, o corpo foi projetado para estar em constante movimento, não para manter-se imóvel.

"Manter uma única posição por muito tempo pouco revela sobre a capacidade do corpo humano. Afinal, ele é naturalmente feito para se mover, dobrar, torcer, suportar cargas e gerar força. Por isso, defendemos a ideia de que a postura mais adequada é sempre a próxima a ser adotada", ela explica.

Em suma, a professora ressalta que o mais importante não é permanecer ereto o tempo todo, mas sim praticar movimentos com regularidade. "Levantarse da cadeira, alterar a posição, fazer alongamentos ou caminhar são ações simples que auxiliam na prevenção de dores e rigidez.

Quanto mais se movimentar, melhor funciona o organismo", acrescenta. Essa abordagem também se aplica a diversas condições musculoesqueléticas. Pesquisas demonstram que o desconforto não depende exclusivamente de posturas específicas ou de alterações detectadas em exames. "Muitas pessoas apresentam rupturas, desgastes ou sinais de artrose e vivem sem sentir dor.

Outras, mesmo com exames normais, enfrentam dores constantes. Isso mostra que a dor é um fenômeno complexo, influenciado por fatores físicos, emocionais e comportamentais", esclarece Mariana. Ela destaca um exemplo comum na prática clínica: "Um terço dos adultos acima de 60 anos possui uma lesão no manguito rotador do ombro, mas nunca sentiu qualquer sintoma.

Esses casos só seriam detectados por exames de imagem, pois, na rotina, continuam movimentando o braço normalmente, sem dores ou limitações". Para a especialista, essa percepção é uma notícia positiva. "Isso revela que o corpo é muito mais resistente e adaptável do que imaginamos. Uma alteração encontrada em exames não determina quem você é ou condena você a viver com dor.

É fundamental compreender que o corpo busca movimento, variação e adaptação. Permanecer por longos períodos em uma mesma postura, mesmo que seja considerada 'correta', pode causar fadiga muscular e desconforto", afirma. Ela reforça ainda que não existe uma postura perfeita que elimine as dores.

"O ponto central é o movimento. No final do dia, a atividade física supera a rigidez", conclui. Como dica prática, a fisioterapeuta sugere fazer pequenas pausas ao longo do dia, levantando-se periodicamente, realizando alongamentos leves, trocando o apoio dos pés e ajustando a altura da cadeira e da tela do computador.

"Essas mudanças simples contribuem para distribuir melhor a carga muscular e manter o equilíbrio do corpo. Dor não é uma punição pela postura, mas um sinal de que o organismo necessita de movimento", finaliza.