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Acidente
27/11/2025 06:00:00

Peru condena ex-presidente Vizcarra a mais de uma década por corrupção em julgamento histórico

Martín Vizcarra, que tinha alta aprovação, agora enfrenta prisão após ser considerado culpado por subornos envolvendo grandes empreiteiras

Peru condena ex-presidente Vizcarra a mais de uma década por corrupção em julgamento histórico

Em uma decisão que marca um capítulo decisivo na política peruana, o ex-mandatário Martín Vizcarra foi sentenciado a uma pena de 14 anos de cárcere por envolvimento em esquemas de corrupção.

A sentença aponta que ele foi declarado culpado de aceitar um montante de US$ 680 mil de duas companhias de construção em troca de privilégios na concessão de contratos públicos.

 

Este momento representa a formalização da condenação de Vizcarra, capturado em uma foto da EFE, enquanto o vídeo é do EPV.

 

Lima, 26 de novembro de 2025 — Renzo Gómez Vega

 

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O político que chegou a receber 80% de aprovação popular, agora enfrenta o mesmo destino de diversos ex-mandatários peruanos das últimas quatro décadas: a prisão. Nesta quarta-feira, a corte o declarou responsável por um esquema de corrupção envolvendo cerca de 2,3 milhões de soles (equivalente a US$ 680 mil), pagos por duas construtoras, Obrainsa e ICCGSA. Esses valores foram entregues em troca de preferências na concessão do projeto de irrigação Lomas de Ilo e na renovação do Hospital de Moquegua, região onde Vizcarra atuava como governador.

 

De acordo com a Procuradoria-Geral, o pacto ilícito foi elaborado em 2013. A divulgação do escândalo foi crucial para sua destituição do cargo em novembro de 2020, sob acusações de incapacidade moral permanente, após 32 meses de gestão. Vizcarra, que assumiu após a saída do economista Pedro Pablo Kuczynski, estava em alta em 2019, ao dissolver o Congresso. Contudo, sua credibilidade despencou após a revelação do escândalo de vacinação clandestina durante a pandemia, conhecido como Vaccinegate, que envolveu sua imunização secreta e a de centenas de pessoas de círculos privilegiados, mesmo enquanto o Peru enfrentava um dos maiores índices de mortalidade por COVID-19 no mundo.

 

O escândalo comprometeu sua imagem, mas foi a corrupção que condenou seu futuro político. Durante os anos de investigação, ex-executivos da Obrainsa admitiram ter entregado um milhão de soles (quase US$ 300 mil) a Vizcarra para garantir a realização do projeto de irrigação Lomas de Ilo. Enquanto isso, representantes da ICCGSA confessaram ter pago 1,3 milhão de soles (US$ 385 mil) ao ex-presidente para facilitar a expansão do Hospital de Moquegua.

 

Na audiência realizada nesta quarta-feira em Lima, a corte ressaltou a consistência e credibilidade dos depoimentos, destacando que não havia indícios de parcialidade ou de qualquer intenção de prejudicar Vizcarra. Os relatos indicaram que os subornos foram entregues em envelopes de papel pardo, com notas de até 200 soles (US$ 59).

A defesa do ex-presidente reiterou que as acusações são infundadas, sem provas em vídeo, áudio ou fotos de que Vizcarra tenha obtido lucros ilícitos. Em entrevista recente à revista Hildebrandt, ele negou as acusações, descrevendo o processo como uma conspiração para afastá-lo da política.

Conhecido por sua habilidade de mobilizar apoio nas redes sociais, Vizcarra pretende disputar a vice-presidência nas eleições de 2026, ao lado de seu irmão, Mario Vizcarra, pelo partido Peru Primero. Entretanto, ele foi impedido de concorrer pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE).

Disse ele em suas redes sociais: “Podem me tirar do processo, mas nunca do coração dos peruanos. Não nos vencerão”. Sua popularidade entre os jovens é notável, graças às transmissões ao vivo e vídeos curtos que mostram suas atividades diárias, estratégia que muitos políticos ainda não conseguiram replicar.

Com 62 anos, Vizcarra foi condenado por corrupção passiva em primeira instância, e seus advogados anunciam que recorrerão. Ele cumprirá sua pena na prisão de Barbadillo, uma instalação peculiar na zona leste de Lima, no distrito de Ate, onde dividirá cela com ex-presidentes como Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Castillo.

Vizcarra já esteve na prisão preventiva por algumas semanas antes, devido ao risco de fuga, tendo sido transferido temporariamente para uma unidade de criminosos comuns, decisão posteriormente revertida. Esta situação reflete o que o aguarda na sequência de sua trajetória judicial.

Martín Vizcarra é o quinto ex-presidente a permanecer na prisão em Barbadillo, uma lista que inclui Alberto Fujimori, que deve ser libertado aos 76 anos, em 2039. Conhecido como “O Lagarto”, ele conquistou o cargo de deputado mais votado em 2021, com mais de 165 mil votos, mas teve sua candidatura anulada.

Sua vaga acabou sendo ocupada por um jovem advogado na bancada suplente. Atualmente, a figura de José Jeri, um político que, por uma cadeia de eventos imprevistos, controla o destino político do Peru, mantém sua influência no cenário nacional.